Darkness Within You || 𝐋𝐞𝐠𝐨𝐥𝐚𝐬

Capítulo 20| Regresso

↞ 𝑨𝒖𝒓𝒐𝒓𝒂 ↠

Eu já tinha perdido a noção das horas e dos dias que já tinha passado naquela divisão. O quarto não tinha janelas e a única forma de acesso era através da porta que era fortemente guardada por soldados reais. Adressin era um deles, sempre que eu precisava de algo ele entrava e às vezes ajudava-me a passar o tempo.

Todos os dias Legolas tentava passar pelos guardas para falar comigo e todos os dias eu ignorava os seus pedidos e implorava aos deuses que ele não voltasse. As notícias sobre Gandalf eram escassas e até inexistentes, isso fazia-me ficar extremamente nervosa.

Nunca pensei que sentisse tanto a falta dos raios de sol a tocar na minha pele e a brisa fresca vinda da floresta, do cantar dos pássaros a acompanhar a harmonia das árvores e as gotas de orvalho que caiam pela manhã sempre que caminhava pelos caminhos de pedra. O som da água da cascata a cair e o barulho dos peixes a virem ao de cima alimentar-se de lembas que eu deitava sempre que visitava aquele pequeno lago.

Eu ansiava voltar a subir num cavalo e cavalgar sem rumo, longe de toda esta loucura sem fim, longe de todos estes problemas. Longe de Sauron e dos seus doentios discípulos, longe deste caos.

Deito-me na cama e tapo-me com os lençóis de ceda, descanso a cabeça na almofada confortável e deixo as minhas lágrimas saírem até eu adormecer. Eu tentava me manter positiva sobre tudo isto, mas a tristeza tomava conta de mim, claro que todos estes sentimentos eram exagerados pelos poderes de Sauron em mim.

Eu não tinha apetite e podia sentir-me cada vez mais fraca. O meu sono era leve pois acordava constantemente a suar pelos pesadelos que não me deixavam qualquer memória. Eu tinha medo de dormir, mas também tinha medo de ficar acordada e finalmente tornar-me doida com toda esta situação.

"Lady Aurora, posso entrar?" Reconheço a voz de Adressin e tento responder, porém a minha voz não seguiu o que a minha mente queria deixando apenas escapar um pequeno murmurinho.

Parece que foi o suficiente pois o elfo entra com mais uma bandeja de comida colocando-a na mesa junto com as outras que permaneciam intactas.

"Tem que comer eventualmente Lady Aurora." Sento-me na cama deixando o elfo sentando-se na ponta. "Eu posso ajudá-la é só pedir, ou nem precisa de pedir, apenas assinta que eu irei ajudá-la." Adressin fala preocupado e sem eu dizer mais nada procede a ir buscar a bandeja de novo colocando-a em cima da cama.

Deixo ele ajudar-me a comer, a sopa estava morna e noutro prato estava alguns legumes e também lembas. Não como muito, mas foi o suficiente para por um pouco mais de energia em mim.

"Arwen." Falo quase num sussurro.

"Lady Arwen está com Lord Elrond na sala de poções e feitiços, eles estão a tentar encontrar novas maneiras para tirá-la daqui e conter o poder enquanto o feiticeiro não volta." Ele fala levantando-se com a bandeja na mão e dirigindo-se à porta. "Legolas continua a vir aqui todos os dias." Faço o meu olhar descer até às minhas mãos e Adressin continua. "Ele espera aqui todos os dias que Lady Aurora o queira ver." Ele faz uma pequena pausa, talvez esperando uma resposta da minha parte, mas eu fico em silêncio. "Voltarei daqui a algumas horas para lhe fazer companhia." O elfo sai do quarto deixando-me com os meus pensamento sobre Legolas.

↞ 𝑮𝒂𝒏𝒅𝒂𝒍𝒇 ↠

Depois de anos finalmente tinha encontrado o que eu queria. As escrituras antigas que podiam ajudar Aurora para sempre, tirando Sauron de dentro dela. Mas há sempre um senão. O feitiço era extremamente perigoso.

A pista de Saruman leva-me até uma aldeia pacata a dias de distância de Rivendell, onde Aurora estava. Cada dia que passava sem encontrar o que eu precisava, era mais um dia em que ela sofria.

Desde que sai, não tive qualquer contacto com os elfos, ou alguém que tivesse alguma ligação com Aurora. Não podia arriscar alguns dos lacaios de Sauron saber o que eu estava a fazer, não agora que estava tão perto.

Na aldeia conheci um ancião das terras, que me ajudou, depois de muita negociação, a encontrar o lugar que procurava. As ruínas perdidas dos antigos deuses. Rumores diziam que elas estavam escondidas num planalto a leste da aldeia.

Não demorei muito até chegar ao dito planalto que se estendia por quilómetros. O ancião avisou-me que nada sobrevivia naquelas terras e que era um caminho sem retorno. As suas palavras não me assustavam, já passei por muito pior, e eu tinha de tentar por Aurora, apenas ela importava.

Cavalgo por algumas horas pela imensidão verde que não tinha fim. Quando mais andava mais distante o meu ponto de partida parecia, mas como uma ilusão de ótica e com um objetivo de chegar ao fim, parecia que a cada passo que dava não me levava a lugar nenhum.

Desço do meu cavalo e olho ao meu redor, tendo-me perdido completamente de onde tinha partido. Deixo a brisa soprar pelas minhas roupas e respiro fundo, tentando tomar outro rumo. Seria isto tudo apenas um feitiço para ninguém encontrar as ruínas?

Tento algumas técnicas e feitiços para saber o que estava a acontecer, mas era tudo em vão. Não eu não cheguei tão longe para desistir agora. Bato com o meu bastão no chão, coberto por ervas rasas, frustrado com a situação.

"PORQUE É QUE NADA FUNCIONA?!" Grito para o alto sucumbindo ao pensamento de incapacidade de ajudar Aurora, enquanto os meus joelhos embatem no chão.

Deixo as lágrimas apoderarem-se do meu rosto, mais de 600 anos tentando procurar uma cura e... e nem consigo encontrar a ruínas. Serão elas apenas rumores e nunca existiram realmente?

Enxugo as minhas lágrimas com as minhas vestes, limpando a visão turvada de consequência. É quando reparo que outrora o chão de ervas rasas tinha sido tomado por uma pedra mármore antiga e uma placa aparece com algumas escrituras antigas.

"Promessas falhadas, alma dolorida, só realmente poderá passar aquele que já perdeu tudo na vida"

Terei eu já pedido tudo? Na minha longa vida, perdi amigos e ganhei aleados, a minha única constante era Aurora. Se perdesse Aurora agora, era como se perdesse também um pedaço de Auriel, o seu último pedaço.

Sem eu dizer mais uma única palavra umas escadas abrem-se dando espaço a um corredor iluminado. Não penso em mais nada e apenas entro explorando o espaço até encontrar uma sala cheia de tesouros, colares e joias, baús cheios de moedas de ouro e louça valiosa. Mas nada daquilo me interessava.

Olho a sala em volta e reparo num papiro sob uma banca de mármore em exposição. Caminho calmamente ignorando toda a riqueza e agarrando no objeto. Abro-o revelando as escrituras antigas do deuses. Eu encontrei... eu encontrei depois de todos estes anos, eu consegui.

Um barulho capta a minha atenção. As estruturas abanavam e essa era a dica que que eu tinha de sair. Corro até à entrando vendo as escadas a fecharem-se lentamente. Felizmente consigo sair a tempo como o papiro nas mãos e nada mais.

E como tão depressa a estrutura tinha aparecido ela some sem deixar um único rasto para trás. Subo no meu cavalo, pensando para que lado seria a saída. Confio nos meus instintos e eventualmente chego à floresta perto da aldeia.

Agora já tinha o que precisava, tinha de voltar para Aurora e finalmente ajudá-la.