Tudo o que não posso evitar

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Seokjin entrou no elevador depois de deixar Hoseok para trás, sentindo o rosto começar a pesar. Seu sorriso murchava aos poucos e enquanto as luzes vermelhas indicavam cada andar, a imagem dos olhos de Hoseok o encarando como se a qualquer momento ele fosse desabar se repetia sem parar em sua mente.

O toque quente que recebera mais cedo era tão delicado que ele sentia-se prestes a quebrar durante todo o tempo com o marido. A marca abaixo da orelha já ficava um pouco mais escura, e ter sentido os lábios de Hoseok ali levou um choque para todo seu corpo. Era como se ele desse um aviso silencioso e cruel.

Eu sei, Seokjin.

As portas do elevador se abriram e ele saiu em direção à garagem. Ao menos tinha muito o que fazer naquele dia, precisava de um tempo ocupado com algo que não fosse o trabalho ou Hoseok. Ajudar a irmã a carregar coisas de um lado para o outro parecia perfeito.

O trânsito estava tipicamente agitado e ao ficar preso em uma das avenidas do caminho, deixou que a melodia de Troye Sivan o ajudasse a sentir o coração se acalmando. A letra de Bite sempre lhe foi interessante, mas aos poucos foi sendo levado pela mente traiçoeira para onde não queria. Pelo menos não naquele momento.

So kiss me on the mouth and set me free. But please, don't bite.

O trecho ecoava pelo carro e a imagem daquele sorriso em questão se formava sem permissão, sua calmaria não teria espaço, definitivamente. Olhou de esguio para o celular no console, ele havia tocado várias vezes, mas Seokjin não havia checado nada desde que acordara, e sabia que os toques de sininho indicavam a tentativa de uma pessoa específica em falar consigo. Mas ele não poderia responder, não enquanto ainda sentisse o cheiro de Hoseok, ou se lembrasse dos olhos castanhos que se tornavam mais tristes a cada dia.

O trânsito fluiu melhor alguns minutos depois e em pouco tempo ele já estava no apartamento da Kim mais nova. Os pais também estavam lá, assim como o cunhado, e eles seriam distração suficiente. Faria algo extremamente normal e deixaria que sua cabeça tivesse ao menos um momento de paz.

[...]

O trabalho foi intenso durante boa parte do dia, e àquela hora da tarde eles já estavam exaustos no apartamento novo. A senhora Kim tentava amenizar o cansaço de todos com seus lanchinhos e bebidas, mas Jisoo estava a todo vapor, andando para lá e para cá buscando os itens, principalmente os de decoração.

Seokjin estava encostado na parede da sala quando ouviu o toque do celular, pensou em apenas deixá-lo tocar até que a pessoa desistisse. Mas, considerando que o marido estava longe, seu senso de responsabilidade o fez seguir de volta para a sala de jantar para pegar o aparelho. Encontrou no visor a foto de um Hoseok sorridente, que lhe causou certo formigamento no estômago. Não hesitou mais e apenas atendeu.

— Oi, amor — disse, tentando manter um ânimo adequado.

— Oi... tudo bem? — Ouviu a voz levemente rouca e cansada.

— Sim, acabamos de subir tudo, agora falta arrumar boa parte dos móveis. E por aí, deu tudo certo?

— Deu, já estamos voltando. Mas acho que não posso sair para jantar, tenho que entregar o esboço ainda hoje.

Seokjin fechou os olhos ao ouvi-lo, não conseguia decidir qual sentimento lhe tomava, já esperava a recusa, mas algo dentro de si torcia para que ele aceitasse o convite e lhe ajudasse a compor aquela cena que ele andava desejando.

— Tudo bem, Seok. A gente se vê em casa, tá? — respondeu por fim, camuflando o tom desapontado com uma casualidade qualquer.

— Sim... E, Jin, você vai chamar os meninos?

O segredo nos seus olhos | TAEJINOnde histórias criam vida. Descubra agora