Tudo o que me restou

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Três meses depois...

A neve caia lá fora naquele sábado preguiçoso quando Hoseok ouviu a campainha tocando pela terceira vez. Ele se levantou desanimado do sofá da sala e arrastou os chinelos de pano pela casa até chegar ao interfone, atendendo sem muito ânimo.

— Oi...

— Hyung! — uma voz conhecida e animada disse. — Abre aí, vai!

— Jeon — Hoseok constatou com um riso abafado. —, entra...

Jeongguk havia se aproximado consideravelmente de Hoseok nos últimos meses. Ainda mais após toda a descoberta do que vinha acontecendo na vida do Jung e de seu ex-marido. O envolvimento de seu amigo de colégio o surpreendeu e quase deu a ele a certeza de que tudo aquilo não era coincidência. Talvez ele estivesse no meio de tudo aquilo por um motivo, e movido por isso, ele se empenhou em servir como apoio emocional e escape de pensamentos para Hoseok.

Visitas como aquela já não eram mais raridade, e ao poucos o Jeon nem mais se preocupava em avisar antes de chegar ao prédio. Como naquele dia, em que subiu assim que Hoseok liberou sua entrada, carregando consigo uma sacola cheia de cervejas e petiscos para acompanhar uma boa sessão de filmes e conversas.

Quando chegou ao andar, Hoseok já o esperava com a porta aberta e um sorriso pequeno no rosto. Ele ainda não podia dizer que estava bem ou recuperado do golpe que a vida lhe deu, mas com o passar do tempo seus olhares se tornavam menos tristes e seus sorrisos mais sinceros. Jeongguk gostava de ver essas mudanças no rosto do mais velho e gostava mais ainda de estar junto dele nesse processo.

Ele não desejava obter nenhum tipo de vantagem ou ser indelicado com o Jung, mas estava sendo inevitável não notar a diferença com que seu coração lidava com ele ou a forma como começava a palpitar de forma diferente sempre que eles ficavam próximos demais no sofá da sala ou na redação do jornal. Hoseok não estava no momento de sentir algo por outra pessoa, Jeon sabia e respeitava isso, apenas queria estar ali, ainda que apenas como um bom amigo.

Ambos seguiram até a cozinha, conversando sobre o tempo que piorou muito desde a quinta-feira e como a nova série da Netflix estava dando o que falar. Era um momento descontraído e calmo, Hoseok olhava para Jeon com gratidão nos olhos. Estava sendo um processo doloroso, mas que ficava mais leve e fácil de lidar quando sabia poder contar com momentos como aqueles, que o distraiam de tudo, e formavam em sua mente novas memórias. Conhecer mais de Jeongguk o fez perceber como era fácil perder detalhes importantes e maravilhosos sobre pessoas que estão ao nosso lado diariamente.

— Por isso eu te disse que precisava assistir primeiro a Residência Hill, hyung... — Jeon comentou, já quando estavam os dois estatelados no sofá com o controle na mão.

— Mas elas são independentes, me disseram que não faria diferença.

— Você precisa confiar mais em mim... sabe, uma já cria o clima pra outra. Mas, de qualquer forma, seremos obrigados a começar agora, então.

Hoseok olhou para ele e sorriu divertido.

— Está querendo passar a noite comigo, Jeongguk? — perguntou faceiro.

— O quê? — Jeon retrucou com as bochechas avermelhadas. — Não é isso, além do mais, podemos parar de noite e retomar outro dia...

— Bom, eu não vou me incomodar de maratonar — respondeu casualmente, mas depois olhou para Jeon com um pouco mais de seriedade. — Mas, Jeon, quero dizer uma coisa... só não sei qual vai ser a sua reação com isso...

Jeongguk o encarou confuso, mas não disse nada, esperando o que fosse que ele quisesse dizer.

— Eu sinto a mesma coisa que você... pelo menos eu acho que você também sente. E apesar de estar me fazendo muito bem, e de eu gostar de estar perto de você, de saber sobre seus gostos, sua família, sua vida... eu não sei se posso te oferecer algo nesse momento. Pelo menos não antes de ter mais uma conversa com ele.

O segredo nos seus olhos | TAEJINOnde histórias criam vida. Descubra agora