Capítulo 1

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Sou Camila, aos meus cinco anos de idade, sofremos um grave acidente de carro, que ceifou a vida de meu pai, deixando-me com uma deficiência no braço, onde não consigo esticá-lo, permanecendo dobrado.

O ocorrido deu-se quando, um motorista embriagado avançou o sinal vermelho, assustando a todos. Lembro-me de acordar no hospital, com minha mãe toda machucada ao meu lado, chorando muito. Eu criança, queria somente aplacar a dor que ela estava sentindo, abraçando-a carinhosamente, sem saber que o grande amor de sua vida tinha nos deixado e virado uma linda estrela no céu, como ela mesma me contou. Conseguimos superar esta perda com o tempo, uma apoiando a outra.

Enquanto criança, tudo era pura alegria, achava que minha vida era normal, o problema que existia em meu braço, não me afetava, vivia correndo com meus amigos pelas ruas próximas a minha casa, brincando de pique esconde, na escola tudo era tranquilo, quando comecei a almejar fazer coisas que, no olhar dos outros, eu não era adequada. Foi neste exato momento que senti pela primeira vez uma imensa tristeza, me fazendo chorar por vários dias, sem conseguir concordando que, pelo simples fato de não movimentar o braço seria empecilho de participar de uma peça de teatro na escola. Várias vezes fui impedida de ser algum personagem, sempre falando que, não tinha passado no teste.

Meu maior sonho era, participar das peças de teatro que acontecida na escola. Sempre era impedida de participar, pelo simples fato de não conseguir fazer os movimentos corretos como os outros alunos. Então o que restava para mim era, ser a narradora. Todos me elogiaram pelo timbre de minha voz, mas ninguém sabia que eu cantava, não era boa ao meu ver, mas minha mãe sempre me elogiava e pedia para que eu concorresse para os papéis, de cantora. Não concorria, pois, eu não tinha os movimentos adequados para o papel, e não queria ouvir novamente este argumento que me frustrava, me deixando triste e arrasada.

Chegando na adolescência, está deficiência me causou mais sofrimento. Não deixei de participar só das peças de teatro, mas de todo trabalho em grupo que ocorrida na escola, eu não era adequada para nada. Vivia isolada pelos cantos da escola. Assim foram se passando os anos, quando apareceu um festival de teatro na minha cidade, recrutando atores amadores para uma peça que seria construída na cidade. Todas as vagas tinham sido preenchidas, menos uma, a que o personagem seria um cadeirante. Eu com treze anos, teria a chance de realizar meu sonho.

Meus olhos brilharam, meu coração parecia que iria sair do peito, senti que a vaga seria minha e era sim, a esperança de conseguir realizar meu sonho, participando de uma peça de teatro. Corri o mais rápido possível, para me inscrever, já que ninguém queria ser este personagem, ele seria meu.

Chegando ao local indicado para a realização da inscrição, todos da minha escola estavam presentes, começaram os burburinho e quando disse que queria me candidatar para a vaga de cadeirante, risadas ressoaram pelo local, vários comentários maldosos começaram a serem ouvidos, que eu estava realmente no papel correto, que eu me encaixaria perfeitamente nele por eu ser realmente uma deficiente, um papel que não teria muita importância, pelo fato de ser uma deficiente cadeirante, risadas e mais risadas ecoaram mais uma vez no local. Senti o peso do pré-conceito e julgamentos, de todos que estavam ali presentes.

O diretor pediu silêncio e direcionou-se a mim.

Que maravilhosa está sua atitude de querer ser este personagem, mas temos uma exigência neste papel, se você conseguir passar no teste, ele será seu.

- Obrigada, qual é a exigência? – perguntei ansiosa.

- Você terá que cantar, vamos te dar uma música, se conseguir cantar o papel será seu.

Meu coração bateu forte, primeira vez que cantaria para pessoas desconhecidas. Risadas ecoaram pelo local novamente, olhei em volta, sentindo-me acuada, medrosa, não iria desistir do meu sonho logo agora, minha mãe sempre disse que canto bem e eu confio nela. Olho para o diretor e digo:

- Posso tentar?

- Claro minha querida, está é a música. Vamos colocá-la para que você ouça e aqui está a letra para que possa acompanhar.

Era uma música do Djavan Samurai, meu Deus eu amo as músicas dele sou sua fã, me senti mais segura.

Ouve um silêncio, até que o direto disse, sua vez.

Respirei fundo, fechei os olhos imaginando que estava na segurança de minha casa, soltei a minha voz como se estivesse em meu mundo encantado onde não sei o que é sofrimento, rejeição, dor. Onde existe só amor, carinho e todas as pessoas são iguais.

Termino de cantar e o silêncio persiste, abro vagarosamente meus olhos, olhando diretamente para o diretor que me observa espantado, sua reação foi bater palmas com seus olhos marejados. Ouço mais palmas e neste momento, meus olhos que estavam assustados pelo seu silêncio, sinto lágrimas saindo de meus olhos, escorrendo desenfreadas pelo meu rosto. Neste momento ouço mais palmas e assovios, meu nome sendo aclamado por todos que me conheciam. Recebo o abraço do diretor dizendo que, o papel para a protagonista da peça era meu. Mais aplausos e assovios foram ouvidos, e eu estou no meio disto tudo, sem saber se é um sonho ou realidade, sorrindo e chorando ao mesmo tempo.

O que era mais assustador, foi o fato de que, o papel de protagonista era meu, minha primeira peça de teatro, que esperei por tantos anos, sendo a realização do meu grande sonho. Ao meio de muita surpresa e satisfação.

(918 palavras)

Realizando um sonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora