O Gatilho da Minha Vida

O passado voltou

CARLA

Olho no relógio e já passa das 21h00, hoje o dia foi intenso, muitas gravações, reuniões e contratos assinados, graças a Deus e a minha equipe que sempre correm atrás de tudo. Pensando em tudo de maravilhoso que está acontecendo em minha vida adentro meu quarto, coloco minha bolsa em cima da cama, retiro os saltos, os jogo em qualquer canto e caminho para o banheiro, já me despindo, para tomar um banho relaxante e que lavasse meu corpo e se possível minha alma também, que depois de uma semana dessas estava acabada a "pobi". Fico tempo suficiente para sentir meu corpo relaxado o tanto necessário para sair e colocar o primeiro pijama que vi em meu closet. Próximo passo já seria me jogar na cama e tirar todo o sono atrasado, mas dona Mara me chama para jantar, então termino de passar meus cremes e fazer meu momento skin care noturno e caminho até a sala de jantar. Enquanto jantamos conversamos sobre o nosso dia e fofocamos sobre a separação de uma das minhas tias que estava dando o que falar no grupo da família, segundo dona Mara, minha tia mesmo depois de pegar meu tio com outra não queria dar o divórcio, porque eles haviam casado sobre separação total de bens e isso indicava que eles teriam que dividir toda a fortuna, porém minha tia não queria, pois para ela quanto mais... melhor e outra quem sempre administrou tudo foi meu tio, então sem uma boa gestão da parte dela, provavelmente ficaria sem nada em pouco tempo.

- Nossa mãe, mas eu não estou acreditando que mesmo depois de pega - lo na cama com outra, tia Zélia ainda quer continuar casada e tudo por dinheiro.

- Pois é minha filha, o que não vale por dinheiro hoje em dia né?

- Nossa, mas eu jamais aceitaria uma coisa dessas, moro em baixo da ponte, mas não aceito uma traição. Isso nunca. - Digo furiosa, me lembrando de tudo que Felipe havia feito comigo.

- E você está coberta de razão, não se aceita traição de jeito nenhum. - Percebo a raiva que minha sentia ao proclamar aquelas palavras, ela havia sofrido junto comigo quando descobri a traição de Felipe, lembro que meses depois do ocorrido minha mãe me disse que tinha medo de que eu tentasse algo contra minha própria Vida, de tão mal que fiquei. - Agora minha filha, vamos parar de falar sobre isso e vamos falar de coisa boa, será que você topa fazer um programinha mãe e filha agora?

- É claro mãe, o que quer fazer?? - Digo me levantando e retirando os pratos e talheres da mesa.

- Vamos assistir um filme? Tô com saudade de curtir minha filhota um pouco.

- Claro mãe. - Depois daquela conversa com a minha mãe eu já tinha perdido o sono e também estava com muita saudades de curtir dona Mara, então resolvi aceitar na hora. - Só vou ali no meu quarto colocar meu celular para carregar e já volto. - Digo, indo em direção ao cômodo.

Ouço ela dizer que enquanto isso faria a pipoca. Sim, tínhamos acabado de jantar, mas filme pede pipoca e comer nunca é demais, certo? Certo.

Chego na sala e a tela da Netflix já está aberta e minha mãe pede para que eu escolha o filme, eu acabo escolhendo o romance "Um Dia", nunca tinha ouvido falar, mas a breve sinopse me fez querer assisti - lo, se isso daria certo? Infelizmente eu acabaria descobrindo algum tempo depois que não.

A essa altura minha mãe já estava no sofá, com um grande balde de pipoca e o Chaplin ao seu lado, então caminho até eles, me sento e aperto o play. Conforme o filme ia passando eu ia sendo invadida por lembranças, isso porque no filme os protagonistas sentem algo muito forte, uma verdadeira conexão logo na primeira vez em que se vêem e eu me lembrava que desde o nosso primeiro toque eu senti algo muito forte, o que meses depois fiquei sabendo que era recíproco, que ele também havia sentido, isso segundo ele me dizia em uma das nossas conversas enquanto ele tentava por toda lei marcar a nossa última conversa, eram detalhes como esses que eu tanto queria esquecer, confesso que nos momentos de maiores gatilhos eu já cogitei até em bater a cabeça na parede de propósito para vê se me da uma perca de memória e eu esquecesse tudo aquilo que havia passado, mas quando retorno aos meus pensamentos sóbrios acabo pensando que na verdade eu não me arrependo de nada que fiz e talvez se tivesse a oportunidade nem faria diferente. Até porque aquela lá é a verdadeira Carla e eu jamais me arrependeria de ser verdadeira e agir com o que realmente sinto e penso. É aquela coisa, se enquanto eu sou de verdade o outro é de mentira, não posso fazer nada. Azar o dele. Saio dos pensamentos quando ouço.