Capítulo 21- Aquela garota, essa mulher

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Música tema: She used to be mine- Sara Bareilles

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Toni pov

Estava com dor de cabeça de tonto revisar roteiros. Não aguento mais fazer as mesmas coisas nesse maldito trabalho. Faz tanto tempo que não escrevo algo, e se escrevo não aceitam. Me sinto um lixo nessa marda de profissão, tudo que eu faço é ruim, dizem que sou "sem criatividade" ou pior "que perdi minha essência". Tudo continua indo de mal a pior, quando acho que vou ter um suspiro de vida acontece alguma coisa e, já era novamente.

Depois daquela noite com Cheryl, eu me sentia dolorida por dentro, como se meu coração tivesse se tornado vidro e quebrado em inúmeras partes cortantes. Eu não conseguia dormir direito, porque seu cheiro ficou empreguinado no quarto inteiro. Tentei fazer de tudo, mais parecia uma adolescente boba que está sofrendo horrores pelo ex.

Parei de conversar com todos e, parei para cuidar apenas de Santana. Ela mais do que ninguém agora, precisava de mim. Na real, Angel já está melhor, está tomando os remédios certinho e indo a terapia como o médico indicou, mais, sinto que ainda preciso ficar de olho nela por mais um tempo. É, instinto de mãe sabe.

Continuo bebendo? Sim. Vou parar com isso logo? Provavelmente não. Mesmo sabendo que essas coisas estão me impedindo de voltar ao mundo, ficar do jeito que estou é mais fácil.

Depois da Verônica me perturbar até o último, vou voltar as consultas semanais com minha psicóloga. Já tivemos uma sessão semana passada e ela me mandou para um grupo de alcoólicos anônimos. Era para eu ter ido ontem, porém, esse negócio é muito ridículo. Não vejo um pingo de necessidade de ficar sentada numa roda, com várias pessoas problemáticas contando sua vida pessoal para elas. Meio que isso acontece na psicóloga, mas são coisas totalmente diferentes.

Quando deu cinco em ponto, bati meu ponto, pegando o carro e indo rumo ao consultório da doutora Ester. Chegando lá a consulta ocorreu naturalmente, até ela fazer uma pergunta.

- Toni, como foi no grupo ontem?

- Foi...- Se eu mentir será que ela descobre? Tipo, ela é uma psicóloga né.- Foi legal.

- Não sei porque ainda mente, eu sou formada em psicologia caso não tenha percebido.- Merda.- Mas, seguindo em frente, porque não foi?

- Só não estou afim de falar meus problemas na frente de estranhos, isso parece muito com o fim do poço.

- Você sempre diz que está no fundo do poço e agora manda uma dessas Toni? Assim que acabar a consulta, iremos ao grupo, vou contigo.

- Mas doutora, eu não preciso disso. Já aprendi a me controlar e sei muito bem meus limites.

- Sabe tanto que dá última vez que bebeu em exagero quase bateu na sua filha.- Fiquei em silêncio- Ir para esse tipo de grupo não é apenas para aprender a se controlar, você vai ver que existem pessoas muito piores que você, em situações horríveis tentando melhorar. Vamos terminar nossa conversa lá no grupo, não fica tão longe daqui.

Nós levantamos e fomos para meu carro, Ester me passou a localização e fomos para o bendito grupo. Ficava dentro de uma biblioteca pública, nem sabia que essa biblioteca existia mais é linda por dentro. Andamos um pouco até achar o grupo, que estava sentado em roda, num canto até que distante de tudo. Tinham muitas pessoas diferentes ali, mas um rapaz me chamou a atenção. Parecia ser bem novo, em torno dos vinte anos, era ruivo como a Cheryl e tinha um olhar... um olhar meio vazio.

- Bem vindos ao nosso grupo semanal do AA. Como temos algumas carinhas novas, vou me apresentar. Me chamo Martin Cavaliere, sou o diretor e orientador do nosso grupo. Agora, dou minha palavra a doutora Ester.- O senhor finalmente se sentou.

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