chá da tarde

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— Penny disse que vem mais tarde, com Shepard — ele anuncia, tirando os olhos do celular para me ver chegando. — Eu podia ter feito chá, né?

— Eu faço enquanto você toma banho — estou esfregando a toalha nos cabelos molhados. Baz se ajeita no sofá.

— Antes, eu tenho uma coisa para você.

— Que coisa?

— Não precisa ser um presente de aniversário, se você pensar que comprei já faz uns bons meses.

— Achei que o café da manhã tivesse sido meu presente...

— Achei que eu já tivesse dito que chá na cama é algo normal.

— Mas você cortou tudo bonitinho. E tinha chocolate — ele me olha como se eu fosse um caso perdido.

— Enfim. Eu posso te entregar outro dia, se você achar que é demais para hoje. Não que seja uma coisa incrível. É que você disse mais cedo que-

— Baz — ele parece meio nervoso. — Tudo bem. Pode entregar — suas irises me observam atentamente por um segundo.

— Ok.

— Mas não precisava me dar presente — reforço. Ele se põe de pé e ignora minhas palavras.

— Como eu falei, comprei já tem uns meses. Fiquei esperando um momento mais... leve, para te dar, mas... — Baz parece procurar as palavras, o que é raro.

Mas eu não ajudei. Desculpa — ele balança a cabeça.

— Talvez eu pudesse ter comprado uma coisa menos complicada — sinto minha testa contrair. Coloco minha toalha em volta do pescoço dele, puxando Baz para perto de mim.

— Você tá me deixando curioso.

— Pode ir procurar então.

— Como assim?

— Eu escondi para você achar — minhas asas batem um pouquinho, em animação; só percebo porque Baz desvia o olhar para elas. Ele sorri.

— Vai me dar dicas?

— Vou dizer se está quente ou frio.

— Tá, tá. Calma. Vou começar pelo quarto. Tem mais lugar pra esconder lá — a sobrancelha dele sobe.

— Olha só você, todo cheio de estratégias.

Baz me segue até o quarto. Ele para, encostado no batente da porta. Os braços cruzados em frente ao peito, cabelos caindo nos ombros, um sorrisinho extremamente fofo nos lábios. Foco, Simon!

— Ok, vou começar a procurar — me aproximo do meu montinho de roupas no chão (precisamos comprar araras, armários, qualquer coisa). — Quente?

— Frio.

— Quente? — vou para onde estão as bolsas dele.

— Frio — levanto um dos travesseiros e chacoalho, Baz ri soltando ar pelo nariz. Faço o mesmo com o outro.

— Nada?

— Você está quase congelando, Simon — analiso em volta, não tem mais nada. Vou até o banheiro. — Esquentando — ele informa assim que deixo o quarto, me acompanhando.

— Quente? — questiono abrindo as portas do móvel sob a pia.

— Não — Baz dá a mesma resposta quando entro no box.

— Não tá aqui então.

— Está esquentando outra vez — ele diz quando passo por ele na porta.

21 de junhoOnde histórias criam vida. Descubra agora