Reencontro

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"O pior sentimento que se sente,é quando você percebe que perdeu a si mesmo."

—Não sei por quê você quer voltar para aquela escola kentin? Ainda dá tempo de cancelar sua inscrição.
Meu pai mantinha seu olhar fixo em mim com um ar autoritário. Sua postura sempre é impecável. Um dia quem sabe ainda chegarei a esse nível ou quem sabe o destino me prepara para ser outra coisa que não seja o que Giles quer.
—Quero mostrar para todos como estou agora. Estou mais confiante. Não sou mais aquele...-
—Eu sei meu filho,você mudou muito. Estou muito orgulhoso.—Ele me interrompe. Só que... não acha isso um pouco infantil?
—Querido se é isso que o nosso Ken quer, eu não vejo mal algum. É apenas uma escola.— Minha mãe intervém.
—Uma escola que fez muito mal ao meu filho.—Seu tom de voz é ríspido.

Eu reviro os olhos e aperto com força uma das alças da minha mochila pendurada nas minhas costas.

—Mas meu bem, nosso Ken também fez muitas boas amizades, não é filho?-
—Mãe pare de me chamar assim...-
—Ah querido, você sempre será meu ken.—
—E também tem aquela garota que você falava tanto... É... Como é o nome dela mesmo?—Mamãe põe a mão no queixo olhando para cima.
Meu rosto começa a esquentar. Isso não mãe. Não na frente do meu pai.
—Quem? —Giles pergunta olhando para ela.
—Olha,é melhor eu ir,tchau!-

Corro até a porta e saio de casa.
Solto um longo suspiro. Sinto minhas mãos suarem. Amélie. A garota por quem estava tão cegamente apaixonado e a quem havia me declarado antes de ir para a escola militar. Como fui ridículo.
Claro que ela não iria gostar de mim do jeito que eu era. Um fracote,inseguro,um...Ah!
Nesse tempo que fiquei fora, foi muito bom para mim. Me fez repensar o que fiz e como agia. Agora não deixo ninguém me pisar. E também irei tentar deixar tudo para trás.
Agora sou uma nova pessoa. Bom... Tenho que ir logo senão vou me atrasar para a aula. Preciso pegar o ônibus.

Dentro do ônibus fico pensando no que passei na escola militar. Foram tantas humilhações. Se não fosse Evan para me ajudar eu nem sei o que teria sido de mim. Evan foi um rapaz que conheci por lá e nos tornamos grandes amigos. As vezes nós trocamos mensagens. Uma vibração vinda do meu bolso faz eu sair dos meus devaneios. Coloco a mão nele e retiro meu celular.

"Falando no diabo"

Fala Kentin, como vc tá cara?
Só queria desejar boa sorte lá na sua volta para a escola. Não esquenta a cabeça. Se precisar tô aqui.
Evan.

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Depois de alguns minutos dentro do ônibus eu desço e caminho alguns quarteirões avisto Roger,um homem de meia idade que entrega jornais. Ele encosta sua bicicleta perto de mim e sorri.

—Eu não acredito. Kentin é você mesmo?- Ele alarga ainda mais seu sorriso brilhante. Sempre o vejo sorrindo,parece que não tem dia ruim para ele.
—Sim senhor Roger, há quanto tempo.- Eu o comprimento.- O senhor conseguiu me reconhecer?
—Haha- Roger solta uma gargalhada.- Mas é claro filho. Esse olhar perdido no horizonte que você tem,este seu andar é irreconhecível para mim.Soube que você estava na escola militar, certo? Sua roupa não me deixa negar isso.
Eu concordo balançando a cabeça.
—Foi difícil me adaptar no começo mas acabei conseguindo e aqui estou eu de volta, só que melhor.—
—Sim,sim Com essa melhora sua aí muitas moças da sua idade vão correr atrás de você,Haha. —
Eu fico envergonhado com o comentário de Roger mas ele tem um pouco de razão.
—Bem filho,boa sorte e até mais.—
—Até logo senhor Roger. —Aceno.

Preciso atravessar o outro lado da rua e passar na faixa de pedestres para chegar até a escola.
Espero o sinal ficar vermelho e atravesso. Fico um pouco nervoso de pensar na minha volta para lá. Irei rever colegas que me fizeram um mal danado e outras que me fizeram um bem danado

"Respira fundo Kentin, vai dar tudo certo"

No meio do caminho sinto um empurrão vindo de trás de mim. Quase levo uma queda.
Me viro de costas para ver quem fez isso comigo.
Não pode ser. É ela. Não acredito.
Desajeitada como sempre.
Eu fico parado por um momento.
Ela fala alguma coisa mas eu não entendo. Estou tão surpreso. Continua tão bonita.
Tudo o que eu consigo falar é: "Melhor sairmos do meio da rua".

Caminhamos juntos até a calçada.
—Foi um tombo feio não é?—Amelie solta uma pequena risada. Eu continuo sério. Não sei como reagir. Não pensei que ela fosse a primeira pessoa com quem fosse reencontrar.

Disfarço meu nervosismo,olhando para outro lado.
Será que ela vai saber que sou eu?

"Tudo bem Kentin, é apenas uma garota."

—Vai para a escola também? -Pergunto.
—Sim ,Sweet Amoris, conhece?–Ela responde sorrindo.
—Conheço até demais.—Eu desdenho e olho na direção dos pés dela.—Seu cadarço está desamarrado.- Constrangida a garota abaixa a cabeça.
—Pode deixar comigo.
Eu me abaixo e dou um laço em um dos tênis dela.
—Aqui,pronto.
Fico em pé novamente.
Percebo que Amelie está com o rosto muito corado.
—O-obrigada.-

Ainda nervoso e tímido,a acompanho até Sweet Amoris. No decorrer do trajeto não trocamos uma só palavra. Ela fica quase o tempo todo com a cabeça abaixada, parecendo não querer olhar para mim.
Será que está envergonhada? Conheço Amelie há muito tempo e não é de hoje que ela fica um pouco desconfortável quando o assunto é garotos, principalmente os atraentes.
Ela como eu,nesses quinze anos,nunca namorou ninguém.

Antes de eu ir para a escola militar,eu era mais magro,um pouco mais baixo do que estou agora, usava óculos e era um tanto esquisito, menos aos olhos de Amelie,ela falava que eu só era diferente. Eu sentia que ela ficava confortável ao meu lado.
Nós dois conseguíamos ser nós mesmos quando estávamos juntos.
Só que agora a situação está diferente. Nós estamos diferentes. Parece até que nunca nos conhecemos.
Eu não quero perder o que tínhamos.

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