𝐷𝑜𝑙𝑙 𝐻𝑜𝑢𝑠𝑒 - 𝐃𝐚𝐛𝐢

I

Me escorava no parapeito do meu quarto, enquanto observava o por do sol.

Inspiro fundo e expiro com a boca, fazendo uma pequena trilha de fumaça sair da mesma.

Mesmo fumando a um bom tempo, ainda sinto aquela sensação de ficar meio zonza e 'chapada'.

Desvio meu olhar da paisagem à minha frente para minha mão e meu antebraço direito. Consigo ver as pequenas cicatrizes que estavam espalhadas por todo o comprimento.

Fecho meu olhos sentindo a leve brisa que batia em meu rosto.

"Quando eu cheguei nesse nível..?"

Essa era a pergunta que rodeava minha mente dia e noite.

Como que em tão pouco tempo, minha vida mudou assim...?

Não que eu esteja reclamando, minha vida agora esta melhor que antes. Mesmo assim, todos os traumas que eu adquiri enquanto vivia naquela casa, ainda me perseguem e me assombram.

Aquela casa...

Todos nós éramos bonecos sendo manipulados pelo o cabeça, que infelizmente devo chamar de 'figura paterna'.

Abro lentamente meus olhos.

Passo brevemente minhas mãos pela extensão do meu antebraço, sentindo algumas cicatrizes.

Eu me lembro de quão doloroso foi cada uma delas, também me lembro do quanto eu me culpava por "não ter uma individualidade".

"(Nome), com ou sem uma individualidade você sempre será minha melhor amiga!!"

Solto uma leve risada com meu último pensamento.

"E pensar que eles estariam errados?"

Antes éramos felizes, também muito unidos, éramos igual uma família perfeita de seriado de Tv.

O que será que mudou meu pai? A ganância? Ou o poder?

Depois de tudo o que realmente importava era a imagem da família.

"Hipócritas."

Todos foram manipulados e influenciados. Eles diziam uma coisa e faziam outra.

Acho que sou a única que vê aquele lugar como um infernal. Afinal, todos tiveram uma vida boa, certo? Todos nasceram 'perfeitos'. Exato, todos excerto eu.

Me desvaneio dos meus pensamentos ao ouvir um som de porta sendo destrancada e logo após uma voz bem conhecida.

_You betrayed me, and I know that you'll never feel sorry..._

_ Deveria melhorar sua pronúncia, você pode acabar invocando algo._ digo caminhando até a sala antes de dar mais uma tragada no cigarro.

_ Eu sei disso, mas não precisava me humilhar (Nome)._ diz a mesma colocando as sacolas no chão.

_ Você fez compras?_ pergunto me virando para a mesma.

_ Que cheiro ruim. _ ela me olhou e veio correndo em minha direção. _ já te disse pra parar de fumar!!_ disse a cacheada pegando o cigarro.

_ Isso é inevitável._ suspiro já sabendo do sermão que vou levar.

_ Além de deixar a casa com um cheiro insuportável, também está destruindo seus pulmões e te matando aos poucos._ diz a mesma brava.

_ Você é minha colega de quarto, não minha mãe Ayu._ digo pegando o cigarro de seus dedos dando a última tragada e o queimando no balcão de mármore.

_ Mas se você morrer minha vida perde o sentido!!_ Grita Ayu enquanto me balançava. _ Eu me recuso a perder você (Nome)!!_

Eu respiro fundo impaciente, não é a primeira vez que ela vem com esse discurso para cima de mim.

_ Larga de drama Ayumi._

_ Eu te dou todo meu amor e é assim que você me trata, (Nome) você é horrível._ diz a morena limpando uma lágrima imaginária.

Reviro os olhos.

_ Mudando de assunto, onde você conseguiu dinheiro?_ Digo pegando uma das sacolas.

_ Trabalhando na cafeteria aqui do lado._ disse neutra.

_ Desde quando?_

_ A Sra. Takahashi estava precisando de alguém para ajudá-la, e eu me disponibilizei._

_ Você tá ganhando quanto?_

_ Quase nada._ disse ela abrindo a sacola e colocando as compras no armário. _ A Sra. Takahashi já é idosa e precisa de ajuda, não posso cobrar isso dela._

Olho para o lado e vejo Ayu com um pequeno sorriso no rosto.

Faz 5 anos que eu e Ayu moramos juntas, foi quando me mudei para cá. E falando sério, ela é um amor.

Além de ser alguém incrível, ela tem uma beleza indescritível. Com seus longos e cacheados cabelos combinando com o seu par de olhos cor de mel. Resumindo, ela é perfeita em todos os sentidos.

_ Além do mais, não preciso trabalhar muito já que você praticamente me banca._ se pronunciou a cacheada.

_ Folgada..._ sussurro fazendo a mesma dá risada.

_ Teve algum trabalho hoje?_

_ Tenho um a noite, na verdade daqui a pouco, parece que alguém não gosta de um velho rico._ digo guardando algumas frutas na geladeira.

_ Não suje suas roupas, por que depois quem tem que lavar sou eu._ Disse a mesma emburrada. _ não arrume confusões e nem seja presa._

_ Você acha que a polícia é capaz de me prender?_ Pergunto sarcástica a olhando nos olhos.

_ Pra falar a verdade não, mas tenha cuidado do mesmo jeito._

_ Não se preocupe, nenhum polícial e nem nenhum herói vai me prender._ Digo roubando uma caixinha de suco da sacola._ Por que eu sou o "Nello"._