Iraque

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Cherry

- Sabe o que eu mais queria agora? - Jimenez brincava de jogar uma bola de beisebol para o ar e pega-la novamente.

- Um taco? - Ambos rimos.

Não tínhamos muitos momentos de paz, mesmo que uma falsa paz. A verdade é que estávamos chapados por ter comido o restante dos biscoitos que Rosie me mandou. Não me importava de dividir com ele já que era um cara legal.

- Não fode cara! É a porra de um taco sim. Como eu queria comer um taco!

- O que você quer no seu taco?

- Quero carne assada, eu quero guacamole, muita cebola. - Eu não conseguia parar de rir enquanto ele falava. - A minha garota foi a única...

- Sério?

A vontade de rir passou. Me lembrei de Rosie. Lembrei que fui o primeiro dela.

- Sério!

- A única?

- A única.

- Fui o único da minha garota também... Não acreditei quando ela me contou. Ela é tão bonita tenho certeza que propostas não faltaram.

Respirei fundo esfregando o rosto. As varejeiras pousavam em nós, mas já estávamos nesse inferno a tanto tempo que nem sentíamos ou só deixamos de nos importar em algum momento.

Mesmo antes das coisas que Rosie me mandou, sempre achávamos um jeito de ficar chapados em algum momento para tolerar o que acontecia durante o dia. Cheiramos solvente, isso devia matar alguns neurônios instantaneamente. Uma vez Jimenez ficou tão louco que ficou parado olhando para o nada com os olhos revirando, deram alguns tapas na cara dele o que o fez voltar, eu teria ficado com medo se não estivesse tão chapado...

- O que acha que elas estão fazendo agora? - Agora eu apertava aquela bola de beisebol quase como uma bola antiestresse.

- Com certeza... Saindo com um carinha. - Novamente caímos na risada. - Cara, vou ter que matar ele.

Eu me perguntava se Rosie havia transado com outro cara, não acredito nisso ao mesmo tempo que pensava se não seria melhor para ela viver uma vida sem mim. Sei que se eu morresse aqui ela ficaria triste por um tempo, mas conheceria um cara legal e teria um bebê, teria a família que ela quer ter comigo, a diferença é que com outra pessoa isso daria certo.

Rosie havia dito que queria um bebê quando eu voltasse para casa... Eu sei que seria um pai de merda mesmo ela sendo uma mãe incrível, mas mesmo assim concordei.

- Um cara grandão... - O efeito já estava passando e com ele a sensação de depressão voltava. - Porra odeio esse lugar... Só quero ir pra casa. Abraçar e beijar a minha esposa...

- E torcer pra ela não ter um bebê de um mês. - O desgraçado conseguia me fazer rir mesmo sem querer. - Sua gata cozinha bem. É esperta.

- Eu sei... Paguei 113 dólares em uma orquídea pra ela. Ela disse que amou. Gosta muito de orquídeas. Não servia outra.

- Ela parece legal.

- Ela é incrível...

Eu não pensava em outras mulheres, reconheciam quando eram bonitas, mas não pensava nelas. Apenas na Rosie. Até batia punheta no banheiro químico pensando nela nos seus seios redondos de bicos rosados que eram tão gostosos de chupar...

Eu uma das coisas que ela havia me mandado tinha uma foto sua ela não estava nua nem nada, mas já era mais que suficiente para a minha imaginação viajar olhando para ela.

A forma como ela apertava os olhos e gemia ao gozar. Só a mera lembrança já era o suficiente para me fazer gozar.

Eu não era o único a fazer isso... O banheiro químico vivia com cheiro de mijo e porra. Me faz ter pena dos caras que limpam isso aqui.

Que esse inferno passe logo. Tínhamos baixas todos os dias. Todos os malditos dias. Era sempre a mesma coisa, invasão, arrombar portas, talvez ter um haji de tocaia para explodir seus miolos, e claro, tentar não ser explodido por uma bomba. O que sinceramente era a parte mais difícil. Sempre procurávamos por material para bombas caseiras quando invadíamos as casas. Não dava para saber quem tentaria te matar e quem estava ali apenas na hora errada.

Um dos soldados matou um garoto, ele devia ter uns 15 ou 16 anos, como sou paramédico me levaram até lá para tentar fazer algo já que ele era um civil, o problema é que havia um buraco na barriga dele grande o bastante para caber um punho, sangue para todo lado, uma mulher gritava ajoelhada no chão e dizia coisas que eu não fazia ideia, mas sempre gritava.

- Alguém traduz ou faz essa mulher calar a porra da boca! - Gritei enchendo a barriga daquele cara de bandagens.

Aquilo era inútil... Ele ia morrer, estava gastando coisas que devia usar para alguém que tivesse uma chance de sobreviver já que antibióticos, morfina e ibuprofeno era escasso.

Quando o pulso do garoto parou me disseram que a mulher gritando era a mãe dele. Me afastei e ela correu até o corpo dele. O rosto daquele garoto atormentou os meus pesadelos por dias.

Quando estávamos voltando a base peguei no sono na parte de trás do veículo e quando acordei soube que passamos por uma bomba, mas ela estava com defeito e não havia detonado.

Todos estavam dormindo quando liguei para Rosie, depois de hoje eu precisava ouvir a sua voz.

- As coisas aqui estão bem, ainda estou trabalhando, juntando dinheiro e esperando por você.

- Sinto sua falta bebê... - Apertei o telefone sentindo que as lágrimas invadiriam os meus olhos.

- Eu também sinto meu bem. Você vai voltar e vamos a praia alimentar as gaivotas. - A ouvi soltar um riso nasal. - Meu bem?

- Eu preciso desligar...

Só tive tempo de bater o telefone acabando com a ligação tendo uma das piores crises de choro que já tive desde que eu cheguei aqui. Eu podia ter morrido. Eu posso morrer a qualquer momento. Me faltava o ar, eu me obrigava a respirar fundo e tentar ter o mínimo controle da situação.

Malditos e cansativos dias que pareciam nunca passar.

Rosie me mandou mais coisas, era fofo ela achar que eu podia passar frio aqui de alguma forma, ela literalmente tricotou uma toca pra mim, como se fosse possível passar frio no inferno, eu sabia que morreria de insolação se usasse, mas ao menos guardava perto de mim. Ela também me mandou mais alguns comprimidos de oxi escondido entre os pontos da lã.

Comprei um dvd pirata em uma das lojinhas dos hajis. Era um documentário que falava sobre pinguins. Achei que Rosie poderia gostar então encomendei para ela na Amazon.

"Pinguins só tem um parceiro para a vida toda. Você é meu pinguim. Vamos assistir de novo quando voltar"

Foi o e-mail que ela me mandou como resposta. A única coisa que me mantinha são nesse buraco esquecido por Deus era a esperança de voltar para os braços dela em algum momento.

Nessas lojinhas eles vendiam muitos filmes piratas inclusive pornôs e acho que não preciso dizer que os caras compraram.

Tinha uma história, uma espécie de introdução, uma van com 3 caras que pagavam garotas aleatórias que passavam na rua para transar com os 3. Algumas não aceitavam, mas a maioria aceitava.

Isso acontece mesmo? Elas eram fodidas em todos os buracos possíveis quando vi uma delas usando aliança de casada me levantei saindo sorrateiramente para fora.

Acendi um cigarro começando a tragar pensando na Rosie... Em quanto tempo mais eu teria que esperar para ver o seu rosto e se eu conseguiria ver o seu rosto novamente.

Disseram que uma tempestade de areia estava a caminho então voltei para o meu dormitório. Deitado com a foto e a carta que ela me mandou.

- Eu volto bebê... - Sussurrei beijando a sua foto e colocando dentro do meu capacete. Costumava sair para as missões com a foto ali para me lembrar o porque eu tinha que continuar vivo. Também me lembrava o que ela havia dito sobre transar com todos os nossos vizinhos se eu morresse então era um incentivo à mais.

Cherry & RosieOnde histórias criam vida. Descubra agora