CherryEu precisava de um emprego e logo. Mas o problema é que eu estava tendo de lidar com várias merdas desde que voltei do Iraque.
Eu vivia estressado, qualquer coisa me tirava do sério, me fazia perder a paciência.
Rosie não estava ao meu lado quando acordei, mas era domingo. Me levantei precisando usar o banheiro. Eu peidei sangue, caguei sangue e tentei esconder o papel. Não queria preocupar a Rosie com as minhas merdas... Literalmente.
Descendo as escadas ouvi o som da TV ligada. Minha ruiva estava deitada no sofá com um cobertor sobre as pernas dela enquanto dormia. Me pergunto a quanto tempo está aqui e porque deixou a cama.
Engoli seco sentindo o medo de tê-la machucado novamente. Olhei cada centímetro da sua pele, não havia hematomas recentes, respirei aliviado.
Com cuidado peguei o cobertor subindo até cobrir ela por completo. Olhando para a mesa havia um saquinho com um comprimido do que eu imagino ser alprazolan o que explica o fato dela estar dormindo dessa forma.
Não tem sido fácil para ela também...
Peguei o cigarro que estava ao lado e sai para fumar um pouco em frente a casa. Não passava muitas pessoas nessa rua, mas era um bairro bom, gostava de morar aqui. Definia bem a palavra lar.
Quando terminei com meu segundo cigarro entrei. Rosie estava acordada sentada no sofá.
— Bom dia... Quando levantou? — Perguntou sonolenta.
— Não tem muito tempo. — Me aproximei lhe dando um rápido beijo.— Por que não estava na cama?
— Não consegui dormir e não queria te acordar. Acho que era umas 3 da manhã. — Respondeu coçando um olho. — Você está bem?
— Estou. Vou fazer o café da manhã... Quer torradas? — Ela assentiu.
Antes de levantar dei um beijo na sua testa. Rosie era a melhor coisa que já me aconteceu.... Eu deveria cuidar melhor dela.
Coloquei os pães na torradeira e me virei para preparar alguns ovos para acompanhar. Eu vacilei um minuto e a torrada saiu totalmente preta.
Foi como acender um pavio curto. Quando dei por mim já estava jogando a torradeira longe a fazendo bater com força na parede o suficiente para deixar um buraco.
Havia dois grandes problemas nesse único ato. Primeiro que para bater na parede ela passou extremamente próximo a Rosie que me olhou completamente alarmada depois do seu corpo contrair com o susto, se eu tivesse a acertado teria sido um ferimento feio. E segundo, aquela torradeira foi presente de casamento do irmão dela então havia um peso sentimental que deixava a situação ainda pior.
— Me desculpa.
Foi a única coisa que eu consegui dizer antes de sair. Eu precisava me afastar já que sentia sufocar com o peso das minhas ações.
Não tinha muito bem um rumo pra seguir, só continuei a andar e andar. Em certo momento me deparei com dois jovens, deviam ter 18 ou 19 anos no máximo. Eles estavam fazendo arruaça quando passaram por mim esbarrando no meu ombro com força.
Aquilo era claramente uma afronta. Meu sangue ferveu e eu simplesmente acertei o soco mais forte que eu conseguia dar no rosto do primeiro que estava na minha frente.
Ele desmaiou, mas o amigo dele veio para cima de mim. Eu acerto um soco nele e ele me acertou outro e outro e quando eu cai no chão ele chutou as minhas costelas me fazendo cuspir sangue.
— Seu merda! — Esbravejou cuspindo ao meu lado antes de se afastar indo até o seu amigo que começava a acordar.
Fiquei um tempo ali deitado. Talvez eu tivesse quebrado uma costela, mas não tinha força e para levantar naquele momento, apenas quando algumas gotas de chuva tocaram o meu rosto que eu me vi na necessidade de me levantar entre um baixo gemido de dor.
A chuva começou a piorar gradativamente até eu estar andando em meio a uma tempestade, mas mesmo assim eu não corria.
As pessoas sem guarda-chuva que foram pegas desprevimidas assim como eu corriam com o casaco sobre a cabeça procurando um lugar coberto para se abrigar.
Vagarosamente cheguei em casa.
— O Cherry está com você? Ele saiu a horas. — A voz de Rosie soava preocupada no telefone. — Valeu...
Quando seus olhos pararam sobre mim percebi que seus olhos estavam vermelhos assim como a ponta do seu nariz. Quando achei que fosse levar um puta esporro ela simplesmente me abraçou.
— Onde porra você estava? Tem noção do quanto me deixou preocupada seu idiota?! — A abracei com um braço só, eu estava encharcado não queria molhar ela. Rosie se afastou um pouco. — O que aconteceu com o seu rosto? Se meteu em uma briga?
Eu não tinha o que dizer. Estava errado só precisava assumir meu erro.
Rosie saiu do meu campo de visão voltando com uma toalha e um frasco em mãos me fazendo sentar na cadeira da cozinha com a toalha envolta de mim.
—Vou ter que amarrar você ao pé da cama para não arrumar confusão. — Sussurrou passando o algodão molhado com alguma merda que ardia muito. — Fica parado caralho.
Eu quase acertei ela com uma torradeira, quebrei o presente do irmão dela, fiz um buraco na nossa parede e mesmo assim ela estava aqui cuidando dos meus machucados.
Não a merecia... Mesmo se eu vivesse duas vidas não conseguiria ser bom para ela como ela merecia que alguém fosse. Esse pensamento atormentava a minha cabeça. Senti meus olhos ardendo percebendo que havia começado a chorar.
— Eu sou um merda..
— Cala a boca. — Ela não desviava o olhar do curativo que fazia no meu rosto.
— Se eu tivesse morrido no Iraque teria sido melhor... Você teria uma vida melhor.
Rosie respirou fundo se afastando até conseguir me olhar nos olhos.
— Eu estou reclamando? Por acaso reclamei de algo? Não! Cala a porra da boca se só tiver merda para falar!
Ela jogou o algodão no chão dando as costas e se afastando. Ouvi seus passos rápidos na escada seguido de uma forte batida da porta.
Eu estava sozinho na cozinha. Ela realmente me ama mesmo depois de tudo... Essa situação não era justa para ela, ela não é obrigada a lidar com as minhas merdas. Já pensei em ir embora enquanto ela dormia, mas não consegui... Não conseguiria ficar longe dela... Essa mulher era a única coisa realmente boa na minha vida.
Me levantei com a mão na costela de onde emanava uma dor aguda. Subi as escadas e abri a porta. Rosie estava deitada na cama abraçada com o travesseiro. Podia ouvi-la chorar.
Me aproximei sentando ao seu lado tocando a sua perna enquanto pensava no que dizer.
— Desculpe... Por tudo... Desde a torradeira até o que aconteceu lá embaixo.
— Não tenho ideia essa coisas horríveis que você passou no Iraque, mas sei que contei os dias para te ter ao meu lado de novo sentindo medo a cada hora de alguém me ligar dizendo que você morreu em combate... Dizer aquela merda que você disse na cozinha me machucou muito mais do que você imagina. Muito mais do que tudo que aconteceu até agora. Parece que você não entende quando digo que te amo... Acha que eu ficaria feliz ou estaria melhor se você tivesse morrido lá? Se acha isso está enganado...
Rosie não olhava nos meus olhos ao falar, apenas para frente fazendo curtas pausas para fungar devido as lágrimas.
— Me desculpa... Você já deve estar cansada de ouvir isso... — Eu já estava chorando com ela.
Rosie se sentou secando o rosto com as mãos antes de me abraçar com força. Foda-se o que aconteceu, foda-se as merdas que eu fiz, essa mulher ainda estava ao meu lado e tinha a coragem de me abraçar.
— Vamos lidar com isso juntos...
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Cherry & Rosie
RomanceE se Cherry não voltasse com a Emily? Como seria sua vida? "Você diz que salvei sua vida quando nos conhecemos, mas a verdade é que você salvou a minha."