RosieAs coisas evoluíram bem rápido. Primeiro tomávamos só alguns comprimidos, depois passamos a dissolver esse comprimidos e injetar e em pouco tempo estávamos na heroína.
Toda vez que a agulha injetava a heroína na nossa corrente sanguínea era como respirar depois de se afogar, um alívio imediato se espalhava pelo corpo e nada mais importa, as merdas do passado simplesmente se foram, desapareceram como poeira ao vento. Mas não durava muito...
Eu não trabalhava, Cherry não trabalhava, estávamos vivendo com a grana do governo e o que ganhavamos vendendo a maconha que cultivavamos no sótão. A ideia foi do Cherry. Melhor ideia que ele podia ter na vida.
Estavamos deitados na cama quando abri os olhos eu estava só de calcinha e ele só de camiseta. Nós transamos? Não lembro...
Dei um beijo no seu rosto sem acordá-lo. Estava de manhã, olhei no relógio e ainda eram nove horas. Meu estômago roncou então depois de vestir uma roupa desci para fazer algo para o café da manhã.
Acendi um cigarro com a chama do fogão antes de preparar os ovos, espero que ele queira ovos mexidos, não vou preparar omelete.
O ouvi descer as escadas e logo ele estava na cozinha tirando o cigarro da minha boca e colocando na dele o tragando.
- Me deve um cigarro. - Cherry se aproximou beijando meus lábios. - Não deve mais.
Ambos rimos.
- Vai querer uma dose antes do café bebê?
- Vou.
Ele se afastou pegando uma colher para poder preparar a heroína indo para a sala. Terminei de preparar o ovos e fui atrás dele deixando o cigarro no cinzeiro. Ele já havia preparado uma dose e estava segurando a seringa dando alguns petelecos para tirar as bolhas de ar.
- Numa escala de 1 a 10 o quão velho está essa agulha?
- Sete e meio. - Respondeu pegando meu braço com cuidado amarrando um cadarço fazendo minha veia saltar.
Ele era sempre cuidadoso comigo, o que quase diminuía a dor de sentir uma agulha sem corte direito perfurar o seu braço.
Assim que ele injetou bateu na hora me fazendo encostar no sofá com os olhos fechados. Senti Cherry chupando o pouco sangue que saiu quando ele tirou a agulha do meu braço.
Paz... Paz e silêncio. A sensação de não se ter literalmente nada passando na sua cabeça era como o mais delicioso silêncio. Eu sabia que estávamos nos matando aos poucos... Mas ainda nos divertiamos no processo.
Cherry injetou em si mesmo deitando colocando a cabeça no meu colo. Não estávamos chapados o bastante para perder a consciência, só o suficiente para relaxar.
- Quero cortar o cabelo... - Sua voz era lenta.
- Você fica sexy sem cabelo... E com cabelo também. - Ambos riamos.
Não tínhamos muitos amigos de verdade, os nossos amigos antigos não queriam andar com a gente e os novos não podemos chamar de amigos já que eram sinistros e só nos forneciam as drogas então nosso círculo de amizade se restringia a traficas e drogados. Mas que se foda. Temos um ao outro.
- Corta o meu cabelo?
- Se eu cortar seu cabelo agora capaz de levar suas orelhas junto. - Ambos rimos com os olhos fechados. - Corto daqui a pouco... Só preciso de 5 minutos.
- Tudo bem bebê. - Cherry beijou a minha coxa.
Levantei indo até o banheiro pegando a máquina de cortar cabelo e um lençol. Cherry sentou em uma caveira e eu amarrei o lençol envolta do seu pescoço começando a cortar o seu cabelo pela nuca.
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Cherry & Rosie
RomanceE se Cherry não voltasse com a Emily? Como seria sua vida? "Você diz que salvei sua vida quando nos conhecemos, mas a verdade é que você salvou a minha."