Flocos de neve atingem o vidro da janela me fazendo contar cada um deles, minha respiração está afetando a contagem. Não sei a última vez que consegui sair para os jardins do castelo, tudo lá fora me lembra… ele. Não consigo mais dizer seu nome em voz alta também, minha cabeça se esforça para manter tudo sobre ele trancado em um caixão a sete chaves. Ainda me afeta. Sempre vai me afetar, acredito eu, mas ninguém além de mim precisa saber disso.É paralisante a sensação de que um buraco imenso foi cavado profundamente em meu peito e que meus órgãos mais vitais tinham sido arrancados por ele de uma vez só, sem piedade alguma, restando apenas sombras horríveis de cortes abertos que continuavam a latejar e a sangrar apesar do passar do tempo. O inverno já avisava que nossa relação tinha congelado, me avisou durante dias depois da nossa conversa sobre isso. Era um lembrete poderoso e constante de um passado ainda muito recente.
Ainda estou de pijama, um moletom velho e surrado que achei no fundo do malão. O único que não tem o cheiro dele.
Minha imagem estava péssima e não conseguia disfarçar isso, na verdade, eu não queria disfarçar nada. Minha vontade de demonstrar ser forte passou um dia depois que o vi na aula e não pude falar com ele. Eu não queria admitir que ele era o motivo de eu ficar acordado até tarde, chorando, mas é claro que era, mas admitir isso em voz alta era me render a tudo o que ele fez então não, não me renderia. Estou sentado aqui porque… por que sou fraco demais para enfrentar todas as perguntas que me fazem todos os dias.
Apertei ainda mais o agasalho quando um vento frio e gelado percorreu minha espinha. Meu estômago roncava, os doces tinham acabado na bancada. Bem, hora de enfrentar minha tortura diária no café da manhã antes da aula começar.
(...)
Nunca mais me sentei na mesa da sonserina da mesma forma que Pansy nunca mais se sentou com os grifinórios. A antipatia entre as casas voltou ao normal depois de toda a situação deprimente invadir os corredores de Hogwarts. Horrível, era assim que me sentia.
Passei os olhos pela mesa da grifinória - quase vazia - mas não encontrei meus amigos em lugar nenhum, só minha irmã caçula brincando com as panquecas no prato.
- Bom dia - disse me sentando, Daisy não sorriu - O que foi?
- Nada. - disse, voltando a remexer a panqueca no prato, o olhar distante
- Te conheço a onze anos para saber Daisy, que você não está bem.
Sobre os cabelos ruivos volumosos, Daisy usava um capuz. Parecia querer se esconder de alguém. Ela ia dizer, senti isso quando se virou na minha direção abrindo a boca com insegurança mas um dos alunos da lufa lufa, entrou correndo e se apoiou em mim, arfando.
- Harry, precisa vir comigo… - a voz quase fraca - Agora!!
- O que foi?
- Granger… ela vai matar o Malfoy!
- Deixe que mate. - Neville revirou os olhos para o garoto e não consegui esconder como aquilo me preocupava
Deixei a mesa da grifinória tão rápido que não percebi quando esbarrei em alguns alunos, apressado. Mione iria se encrencar com isso.
O garoto do meu lado parecia mais empolgado que preocupado quando corremos em direção aos jardins. Hermione se aproximava dele, a varinha erguida em sua direção.
- SUA CRIATURA NOJENTA, ABOMINÁVEL E ASQUEROSA!! - Quando a varinha foi erguida na direção dele apenas corri o mais rápido que pude.
- MIONE, NÃO!! - gritei, afastando alguns alunos que assistiam ao show - Não vale a pena. - meus olhos encontraram o dele por um milésimo de segundo e depois recuei
Poderia um coração despedaçado ainda bater forte por causa de uma troca de olhares?
Coloquei minha mão em cima do ombro dela quando percebi que tremia, estava com ódio. Do outro lado do jardim, Ron parecia admirado dizendo a todos que passavam "aquela é minha garota".
Segurei seu pulso quando ela pareceu mais calma e a puxei, mas Mione foi mais rápida. Se desvinculou de mim com um único puxão e acertou o nariz de Malfoy com um soco certeiro, fazendo o loiro gemer de dor enquanto cobria o rosto com a mão, o sangue escorria entre seus dedos.
Fiquei em choque sem saber o que fazer, como iria ajudar sem tocar nele? Não aguentei me aproximar tanto. Minha garganta começou a formar um nó apertado e me afastei antes da ideia atormentar minha cabeça. Ele estava bem. Ia ficar bem, repeti diversas vezes para mim mesmo. Era só… um nariz quebrado e sangue, muito sangue, droga!!
- Que porra é essa? - Pansy empurrou Mione tão forte no chão que Ron correu na nossa direção no mesmo segundo - O que pensa que está fazendo?
- Harry está péssimo por causa desse idiota! Sabe o que ele fez?
- E quem é você para chegar aqui e socar o nariz dele? - Pansy estava furiosa do meu lado - Eu te ajudei com a droga do seu segredo mas toque no Draco novamente e eu vou ser obrigada a acabar você, Granger.
Draco se aproximou dela e pude sentir o calor do seu braço contra minha blusa. Ele estava perto demais.
- Rans. Adame Pront - Draco disse com dificuldade tampando o nariz com a outra mão, a blusa encharcada de sangue
Segurei o ombro de Pansy mas ela me empurrou, sujando minha blusa de sangue. O sangue dele. Minha blusa agora tinha o sangue dele.
- Você também não vale muita coisa se deixa isso acontecer, Potter. Espero que alguém quebre seu nariz quando estiver em desvantagem.
- Rans… - Draco gemeu com contra seu braço - A culpa não foi dele… - nossos olhos se encontraram de novo
- Foda-se, Draco! Foda-se - Pansy passou o braço em sua cintura, o mantendo firme - Estão avisados. Se encostarem nele de novo vão se arrepender de ter me conhecido esse ano. Os dois.
Hermione parecia chocada ao meu lado e Ron também, a expressão dos dois era de puro horror mas Pansy tinha razão, aquilo foi horrível. Ninguém tinha o direito de fazer isso, nem mesmo meus amigos.
- Nunca mais soque alguém para me defender. Não preciso disso - disse ríspido e ela apenas levantou as mãos em trégua, subindo em direção ao castelo novamente.
Ao fundo, próximo a cabana do guarda caça, Hagrid, Cedrico e Cho Chang discutiam. Me escondi atrás de uma pedra no exato momento que ela ergueu a aliança no ar e atirou sobre o gramado alto.
Os dois tinham terminado. Aquilo era o sinal que eu precisava.
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Lucky Clover
FanfictionNinguém parecia preocupado sobre as cores terem sido reveladas para Harry Potter. Ninguém, exceto ele mesmo. *Conteúdo maduro +18*