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Um soluço me escapa ao encarar meu eu adolescente, tão sorridente ao olhar para a câmera

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Um soluço me escapa ao encarar meu eu adolescente, tão sorridente ao olhar para a câmera. Estávamos em uma boa fase, lembro-me bem, e era uma verdade enorme que nunca tinha me sentido tão feliz quando fui com ele. Pablo tinha contribuído muito para o meu inferno pessoal, mas ele também fez parte do meu céu particular.

Estava tão distraída que só percebi não estar mais sozinha no cômodo quando pequenas mãos encostaram em minhas bochechas, tentando limpar o pequeno acesso que tive.

- Mamãe, por que está chorando? - seu olhar exalava preocupação e lágrimas começavam a rolar pelo rosto da minha pequena.

Ela definitivamente foi a maior contribuição de Pablo para meu céu.

Paula era a personificação em miniatura de seu pai. Os mesmos olhos, os mesmos cabelos escuros e cacheados e o mesmo temperamento arredio. Ela era uma menininha adorável depois que conseguia construir uma relação de confiança, mas tinha dificuldade em se abrir. Sua inteligência era bem acima da média das crianças de sua idade e cheguei a passar por momentos constrangedores tentando responder a perguntas que definitivamente não imaginei que uma criança de cinco anos faria.

Acredito, inclusive, que um forte gatilho para que eu desenvolvesse o quadro de depressão pós parto foi o quanto eu não conseguia olhar para minha filhinha sem lembrar dele. Paula era uma memória viva de todos os momentos que passei com Pablo, bons e ruins. E ela ser a cara dele facilitou nem um pouco o processo.

Ao menos o tom da pele e a altura vieram dos meus genes. Era idiota, mas me sentia possessiva com relação a ela. Alguma coisa naquela criança precisava ser minha, pelo menos.

Deixei a foto em meu colo e acariciei seu rosto com ambas as mãos, secando-lhe as lágrimas da mesma forma que ela fazia comigo. A Paula era o meu mundo e eu a amava mais do que achei ser possível para um ser humano. Eu precisava ser forte por nós duas.

- Não é nada demais, filha. A mamãe está chorando de felicidade por estar de volta ao quarto que era dela. Feliz porque vamos estar perto do vovô e da vovó. - forço um sorriso até ver seu semblante tenso desanuviar.

- Você não parecia feliz... - insistiu, desconfiada. Seu olhar recai sobre meu colo. - Essa é você, mamãe? - seu sorriso estonteante estava de volta.

Antes que eu pudesse me desfazer da fotografia, Paula puxou para si e levou para bem próximo ao rosto, estudando-me através da foto.

- Sim, filha. - suspiro. - Sou eu quando mais nova. Tinha quinze anos nessa foto.

- Você já era linda, mamãe. - faço um carinho em seus cachos, sorrindo orgulhosa. - E quem é esse? Seu amigo?

Apoio o cotovelo nas pernas e encaro meus próprios pés, sem saber o que responder. Ela nunca havia visto nada sobre o pai e eu não estava preparada para contar. Me odiei por ter que mentir pra ela de novo, mas eu estava decidida a não deixar que ela tivesse acesso a qualquer coisa dele.

Para Além dos Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora