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- Agora eu quero com mais força! - seu tom de voz autoritário não dá brechas para descanso

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- Agora eu quero com mais força! - seu tom de voz autoritário não dá brechas para descanso. Meu batimento cardíaco acelerado atrapalhava a respiração, mas segui firme.

- Até quando? - consigo dizer, sem fôlego.

- Até quando eu quiser, queridinho. - ironiza.

Continuo com a série de jab e hook contra o saco de areia, enquanto Roberta dá um sorrisinho ao observar meus movimentos, que começam a ficar mais lentos por conta do cansaço.

- Está perdendo o ritmo! Mais uma série de vinte!

- Vinte? - paro em um rompante, abraçando o saco para conseguir sustentação. - Você só pode estar de sacanagem!

- Sacanagem é o que eu deveria estar fazendo agora com a minha namorada, mas você fez o favor de querer treinar em pleno domingo e me empatar!

- A culpa é minha se a academia abre aos domingos?!

- Ninguém quer praticar boxe aos domingos. Eu poderia sair mais cedo, se não fosse você. - revira os olhos, mas sei que ela gostava de acompanhar minha evolução e consistência nos treinos.

Há cerca de um ano conheci Roberta no grupo de mútuo ajuda do NA e fui designado como seu mentor. Ela tinha começado a frequentar depois de algumas tentativas frustradas de internação forçada pela família. O fato de não aceitarem sua bissexualidade acabou levando-a ao uso de drogas e, consequentemente, ao vício.

Já eu, tinha conquistado minha terceira moeda de sobriedade no grupo, um reconhecimento pelos três anos limpo. Ainda era uma luta diária, acho que sempre seria, mas desde que comecei a treinar, tenho conseguido viver de forma menos pressionada com relação a drogadicção.

Como Roberta era atleta e formada em Ed. Física antes de todo seu inferno começar, a indiquei para dar aulas na academia próxima a minha casa. Deu super certo e, desde então, comecei a frequentar o lugar ao menos duas vezes na semana ou mais, quando as coisas se tornavam muito difíceis de lidar.

Nos aproximamos por conta da mentoria e acabamos nos tornando melhores amigos. Chegamos a sair algumas vezes, mas chegou um momento que eu não a vi mais de uma forma... desejosa. Era mais como a irmã mais velha - e bem implicante! - que nunca tive.

- Não seja por isso... - encaro o relógio na parede. - Acabamos por aqui e você consegue fazer sua sacanagem. - empurro seu ombro de leve com a luva, fazendo-a dar alguns passos para trás.

- Tá fortinho, hein garotão?! - provoca. - Deveria estar preocupado em conseguir alguma sacanagem por aí também.

- Não posso, tenho que terminar um capítulo. - me alongo nas cordas do ringue e pego a toalha que deixei pendurada, jogando-a sobre o pescoço.

Para Além dos Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora