Revanche

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Amanda...

Desde quê conheci Bruno, ainda pequeno, até os dias atuais. Ele permanecia o mesmo: gostava de tudo do seu jeito, sempre tão persuasivo, sempre acostumado à ter tudo no alcance de suas mãos quando queria. Se é que um dia, eu realmente o conheci de verdade.

- Acho que ele não gostou de ver eu te ensinar a sacar.~ disse Théo encostado na frente da minha mesa~

- Ele não tem que gostar de nada, Théo. Nós não somos nada e também não temos nada.~ eu disse quase sorrindo mas sentia meu coração sendo comprimido no peito~

- Se você diz.~ ele deu de ombros~ Nesse meio tempo em que eu estou aqui, tenho certeza que ele já deve ter cavado minha sepultura, alertado os de mais colegas e preparado os trâmites da necrópsia com o Renan, ele vai querer arrancar meus órgãos, isso, se o Bruno não se oferecer para ele mesmo fazer isso.~ disse rindo~

- Théozinho, eu amo o modo como você faz piadas com suas próprias desgraças.~ eu disse rindo junto com ele~

- Se você quiser se afastar para não ser prejudicado. Eu vou te entender, de verdade. Sem nenhum rancor.~ eu disse olhando para ele~ A última coisa que eu quero, é que, você seja prejudicado pelos meus problemas pessoais com o Bruno.

Théo veio até onde eu estava e depositou suas mãos sobre meus ombros, em seguida, às levou até meu rosto. Ficamos nos encarando por tempo demais.

- Não existe empecilho ou ciúmes que vá me afastar de você, você é uma boa amiga, apesar de você estar ciente de quê, eu quero ser bem mais que seu amigo.~ ele continuava me encarando e seu rosto foi se aproximando cada vez mais do meu. Seus olhos estavam fixos em meus lábios. Eu não poderia fazer isso, não era certo fazer com Théo o que Bruno fez comigo, não era correto usar outra pessoa para esquecer Bruno. Meu consciente gritava mas meu corpo não respondia aos alertas, em um ímpeto de coragem, apoiei minhas mãos no rosto de Théo. Eu sentia sua respiração quente bater em meu rosto se misturando ao seu hálito de hortelã e perfume amadeirado~

- Amanda, o Renan está procurando...~ Lucarelli apareceu na porta subitamente e quando percebeu o que estava prestes à acontecer, parou de falar e ficou nos olhando~

- Eu já vou indo~ eu disse me desvencilhando dos toques de Théo. Ambos nos encontrávamos muito desconcertados por quase termos sido flagrados~

- Tá tudo bem? Vocês dois não iriam se beijar não né?~ indagou Lucarelli nos olhando desconfiado~

- Lógico que não. Nós estávamos apenas...~ eu alisava meu jaleco amassado para disfarçar meu nervosismo~ Nós estávamos apenas...~ eu olhei para Théo como uma tentativa de pedir ajuda em uma desculpa, ele pareceu entender~

- A Amanda estava examinando meu olho. Tinha algo me causando incômodo~ ele disse olhando sério para Lucarelli~

- Não sabia que o olho ficava na boca mas tudo bem.~ disse Lucarelli debochado~

- Então, o que o Renan queria?~ eu tentei desconversar~

- Ele quer falar com o Théo, lá no escritório.~ ele disse simples~

- E como você sabia que ele estava aqui?~ Amanda perguntou curiosa~

- A Lívia disse.

- Hum. Bom, Théo sua retina está limpa, tudo certo por aqui. Está liberado.~ eu disse tentando disfarçar~

....

Depois do quase flagra, não vi mais Théo. Renan deve ter esfolado o coitado vivo por ele burlar o treino para ficar na minha sala. Quando estava indo em direção ao dormitório, vi Bruno vindo pelo corredor, tentei ignorar sua presença mas ele fazia questão de me lembrar que estava ali e que eu não podia ignorar sua existência.

- Rápida você hein.~ ele disse se virando na minha frente, consequentemente bloqueando minha passagem~

- Você pode por favor me dar licença.~ eu pedi com educação~

- Tá ficando com ele desdê quando?~ ele perguntou ignorando meu pedido~

- Eu te mato, Ricardo Lucarelli seu fofoqueiro~ eu disse bem baixinho~

- Não sei do quê você está falando~ me fiz de sonsa~

- Não se faça de sonsa, esse papel não combina com você Mandi.~ ele disse enquanto levava sua mão até uma mecha solta de meu cabelo~

- Você pode por favor me ceder a passagem e não encostar em mim?~ eu disse quase tendo uma síncope~

- Não posso não. Da mesma forma que eu não posso permitir que outro te toque~ ele disse me encurralando contra a parede~ Sabe?! Você quase me convenceu, quase mentiu bem. Tá querendo enganar quem, Amanda? Esse circo de vocês dois para me atingir não vai funcionar.~ ele disse se curvando enquanto sua mão acariciava minha bochecha~

Em um súbito momento de ódio e adrenalina, eu o encarei e sorri logo em seguida:

- Se você se deu ao trabalho de vir até aqui para me dizer que minhas atitudes não te atingem, é porquê elas te atingem sim. ~ Eu sorri vitoriosa vendo o sorrisinho presunçoso que ele carregava morrer em sua face. Eu havia o atingido onde mais doía. No seu ego! Me desvencilhei de seu corpo e saí carregando um sorriso vitorioso nos lábios, deixando ele estático apoiado em uma das paredes do corredor estreito~

The girl you left behind- Bruno Rezende Onde histórias criam vida. Descubra agora