Capítulo 22

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-Obrigada por virem.-Digo olhando agradecida pra Júlia e Peter. Christopher se encontra já com uma nova camisa sentado, com o olhar vago, ainda não temos nenhuma notícia do pobre animalzinho.-Peter.-O chamo de maneira calma e baixa.-Você que o conhece a mais tempo, sabe porque ele teve uma reação tão forte assim?-Ele me lança um olhar triste, uma dor se revela em seu olhar enquanto respira fundo, fazendo sinal para fora, Julia e eu o seguimos e quando vemos que não tem ninguém por perto, ele diz.

-Ele não reagiu dessa maneira somente por causa do animal, é algo um pouco mais delicado, uma cicatriz que nós três temos de nosso passado.-Diz com o olhar frio. Respirando fundo ele continua.-Nossa vida sempre foi muito difícil, nossa infância foi marcada por muita merda que infelizmente deixaram sequelas, muito mais intensas ainda nele.-Diz e Julia rapidamente vai até ele e o abraça.

-Por que ele está assim?-Pergunto direta. Um traço de dor passa pelos olhos de Peter enquanto seu corpo fica tenso, antes de ele pegar e começar.

-Quando éramos jovens, por volta dos onze anos de idade, Christopher achou um cachorrinho na rua quando estávamos indo de volta pra casa, acompanhados de seguranças. Ficamos eufóricos e o levamos pra casa de Christopher.-Diz dando uma pausa enquanto abraça Julia de volta.-O pedaço de merda que era seu pai, quando viu o que trouxemos, brigou muito com a gente, porém deixou que ficássemos com ele.-Diz dando uma risada amarga.-Aquele filho da puta junto de meu pai só queriam ter mais uma maneira de nos controlar. Quando éramos obrigados a fazer algo e não queríamos, sempre usavam o pobre animal contra nós nos obrigando a fazer aquilo, porém, um dia.-Diz respirando fundo enquanto Julia o abraça mais forte.-Um dia Christopher não quis fazer o que lhe foi ordenado, e ele pagou o preço por isso.-Um mal estar toma conta de mim e receosa o pergunto.

-O que exatamente ele não quis fazer?-Encarando meus olhos, Peter diz.

-Seu pai queria obriga-lo a torturar a filha de um chefe da gangue rival que haviam sequestrado, a menina deveria ter por volta dos cinco ou seis anos de idade no maximo.-Diz com os olhos cheios de ódio.-Ele foi, fomos obrigados a presenciar o seu castigo.-Diz com ódio, ele respira fundo enquanto continua.-Seu pai pegou o pobre animal que havíamos resgatado e na nossa frente, o esfaqueou até ele não aguentar mais e morrer e eu te garanto, ele não fez isso de forma rápida, ele demorou, demorou muito pra dar paz ao animal.-Diz fazendo com que minhas pernas e coração falhem enquanto um enjoo toma conta de mim.-Estavamos presos por seus seguranças, os choros agoniantes do cachorro, seu olhar direcionado a gente, o pedido silencioso de socorro, até seu olhar vazio e distante, tudo, tivemos que ver tudo isso.

-Meu amor, eu sinto tanto.-Diz Julia o abraçando forte enquanto minha mente ainda processa tudo isso. Mas que... Filho da puta! Desgraçado! Ordinário!

-Depois desse dia, nós três mudamos, ele mudou. Apesar de tudo o que vivemos quando pequenos, isso, nos marcou de uma maneira intensa, ainda mais depois que percebemos que o inferno está nessa terra e o conhecemos pessoalmente. Enfim, vamos entrar e esperar a notícia do cachorro.-Diz mudando de assunto e assentindo, seguimos pra dentro e ainda melancólica e com uma confusão de sentimentos, me sento ao lado de Christopher e tocando em seu braço levemente, sorrio pra ele, dando meu apoio. Tento afastar da minha mente a imagem de uma pobre criança de olhos verdes presenciando aquele tipo de atrocidades mas não consigo, acaricio seu rosto e o abraço, tentando de alguma maneira o confortar, o trazer paz. Respiro fundo sentindo seu perfume bom, enquanto permanecemos assim, sinto olhares em nós mas eu não ligo, suas mãos apertam mais meu corpo ao seu enquanto seu corpo fica trêmulo. Momentos depois um homem em um jaleco, entra e diz.

-Quem trouxe a cadela que tinha sido atropelada.-Levanto minha mão e junto de Christopher, vamos até ele que nos olha com um olhar de pena, ai droga.

-Como foi a cirurgia doutor?-Pergunto passando minha mão pela cintura de Christopher, que continua calado. Não consigo encara-lo agora, sinto que vou desmoronar se ver seu olhar de dor.

-Sinto muito, fizemos tudo o que pudemos mas a cadela não resistiu, porém, conseguimos salvar seus filhotinhos.-Diz nos lançando um sorriso triste enquanto sinto meu coração dilacerado pela cadelinha e agora pelos filhotinhos que não tem mais uma mãe.

-Todos os filhotes estão bem doutor?-Pergunta Julia entrando na conversa, cortando o clima pesado e ruim que ficou.

-Sim, nasceram saudáveis, querem vê-los?-Pergunta e aceno com a cabeça.

-Peter, Julia, vocês podem por favor cuidar dos trâmites sobre o animal enquanto vemos os filhotinhos, a sós.-Digo de forma calma enquanto acaricio as costas de Christopher, que continua tenso.

-Pode deixar, por favor, toma conta do Chris.-Pede Peter e eu aceno com a cabeça. O puxo pela mão quando o médico pede pra nós o acompanharmos e somos direcionados a uma salinha, onde é possível ouvir chorinhos característicos de filhotes, sorrindo triste, o médico nos deixa na pequena sala. Encaro pela primeira vez Chris e sinto mais uma vez o seu olhar me devastar, tão melancólico, tão sofrido. Com minhas mãos, pego seu rosto e encaro seus olhos que me olham com atenção.

-Ei, não fica assim, você foi um cara maravilhoso e fez tudo o que podia, agora a cadelinha pode descansar em paz e olha, você tem pequenas criaturinhas pra cuidar, que são parte dela, vem, vamos vê-los.

-Por que você está fazendo isso?-Pergunta rouco pegando em meu quadril e me trazendo pra si.

-Fazendo o quê?-Pergunto calma acariciando seu peito.

-Cuidando de mim, ninguém nunca fez isso, por que você iria querer?-Pergunta em um tom sofrido e novamente tenho vontade de chorar.

-Porque somos amigos, e amigos se ajudam.-Digo o abraçando agora muito, muito melancólica.

-Então você não me odeia e não quer me dar um tiro?-Pergunta me fazendo soltar uma leve risada, enquanto surpresa, sinto uma lágrima escapar de meu olho.

-Não seu bobo, em alguns momentos sim, mas não agora. Vai ficar tudo bem ok?-Digo olhando em seus olhos e prendo a respiração por um momento ao encarar seu belo rosto enquanto meu coração acelera e um nervosismo toma conta de mim. Talvez eu tenha um crush por ele, admito pra mim mesma. Suas mãos vão pro meu rosto e delicadamente, ele enxuga minhas lágrimas, enquanto sorri.

-Pelo visto a detetive também é capaz de chorar.-Diz me fazendo rir enquanto secretamente, aprecio seu toque quente e acolhedor. Nos encaramos por um longo tempo, simplesmente congelados nele, enquanto um mix de sentimentos me invadem, sensações estranhas, adormecidas a muito tempo.-Obrigado por cuidar de mim quando eu precisei detetive.-Diz rouco me lançando um pequeno sorriso que me aquece o coração, que aliás, o sinto disparar loucamente ao ver seu rosto se aproximar e, quando penso que ele vai me beijar, seus lábios se direcionam a um leve beijo no meu nariz e em seguida na testa, me deixando confusa? Nervosa? Não sei, eu só sei que eu estou gostando, talvez tenha sido porque estou com a guarda muito baixa e sensibilizada por toda a situação. Digo a mim mesma.-Agora vamos olhar os pequenos animaizinhos.-Diz quebrando esse clima e me puxando ate a mesa com a caixinha, tento me recuperar disso enquanto olho os pequenos serzinhos chorando, há quatro cachorrinhos com praticamente a mesma aparência, já estão limpos e sorrio vendo seu jeitinho desengonçado de andar.

-Eles são lindos.-Digo encantada pelos chorinhos deles e minha respiração trava ao encontrar Christopher me encarando.

-Não é só eles que são lindos.-Diz me lançando um sorriso voltando logo em seguida, a olhar os animaizinhos, me fazendo perceber que, esse lado dele mexe muito comigo, muito mais do que eu gostaria e muito mais do que eu poderia imaginar que mexeria.

Cês n imaginam a vontade que eu tô aq de chorar ;~; eu iria escrever um capítulo mais leve porém o mix chamado TPM+músicas melancólicas me fez escrever esse capítulo assim. E aí, o que acharam? Deixem seus comentários aí que sempre gosto de ver e faz o meu dia(ou noite) mais feliz e gratificante. Eu vou trazer outro capítulo em breve porém se eu ver que esse teve muitos comentários, trago outro amanhã mesmo. Enfim, beijo amores e espero que tenham gostado.

O mafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora