Prólogo

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Cresci debaixo do amor crescente
Assisti ele batalhar através da turbulência
Eu só quero me sentir compreendido.

Brad?

Fá, fá, lá sustenido. Ré menor, dó, lá sustenido.

Brad!

Pacientemente, tenho esperado pacientemente
Para compartilhar todas as minhas inseguranças
Mas primeiro eu realmente tenho que trabalhar em mim.

Fá, fá, lá sustenido. Ré menor, dó, lá sustenido.

Ou será que seria si bemol? Bem, tudo depende do ponto de vista. Se você está descendo na escala, é bemol. Mas se está subindo, então é sustenido. De qualquer forma, a nota é a mesma. A grande pergunta é: estou subindo ou descendo?

Subindo, claro, automaticamente a voz de James ressoou em minha mente, me fazendo rir um pouco. Sempre me colocando pra cima, esse meu amigo.

Bem, subindo ou descendo — ou subindo, a voz de James soou novamente. Como é que ele está na minha cabeça dessa forma? O cara tem poderes psíquicos, com certeza — enfim, em qualquer direção que seja, a inspiração tem chegado, e eu estou trabalhando em melodias novas, sons novos — aqueles que preenchem a música por trás dos instrumentos, sabe? Aqueles sons que estão lá mas quase ninguém percebe? Como palmas, ou panelas batendo, chocalhos, até mesmo o clique de uma chave ao abrir uma porta — tudo isso tem fluído muito fácil, como se minha cabeça estivesse literalmente aberta e um arco-íris de inspiração, colorido e vibrante, estivesse entrando por essa abertura. Eu estava me sentindo completamente brilhante, sério, principalmente nos últimos três dias.

O que um término de relacionamento não faz, não é?

Sua namorada termina com você depois de quatro anos de relacionamento e, de repente, um ano depois, você transforma todos os sentimentos que uma vez você sentiu por ela em poesia, coloca um ritmo contagiante e bem tocado, adiciona umas batidas e voilà, você tem um álbum de cinco milhões de dólares. O tesão, a tristeza, a saudade: tudo vira letra. Ou seja, ela te dá um chute, você fica mais rico. A fênix renasce das cinzas. É brilhante.

— Brad, porra — Tristan entra no meu estúdio sem bater, e eu paro de tocar meu violão. Eu tenho que mudar minha chave reserva de esconderijo, urgentemente. — Você ainda está aqui? Achei que estava se arrumando! A gente vai sair daqui a pouco, cara! O Joe vai ficar uma fera com a gente, que merda...

Arregalei os olhos. Eu havia me esquecido completamente do nosso compromisso hoje.

— Foi mal, cara, eu esqueci! — guardei meu violão às pressas. — Eu vou só trocar de roupa e já vou descer.

— Você está trancado nesse estúdio há três dias, você precisa é de um banho — Tristan cobriu o nariz e eu revirei os olhos. Passei a mão pelo meu cabelo e senti a oleosidade, e nem precisei cheirar pra conferir: eu estava fedendo. — Não disse? Vai logo, eu te espero lá embaixo.

Assenti, meio tonto, e agarrei minha garrafa térmica, virando grandes goles e terminando o café. Aquela provavelmente deveria ser minha quinta garrafa só hoje. Corri para o meu quarto, peguei minha toalha e fui direto para o chuveiro, já listando o processo: tire a roupa suja e coloque no cesto; ligue a água quente primeiro, e depois a gelada; lave o cabelo com o shampoo de romã, que não tem cheiro muito doce, e é melhor para encontros...

Oh. Essa é outra parte da noite que eu havia esquecido, e James vai ficar uma fera.

Saí do banho, depois de alguns minutos, e corri para pegar meu celular, com pressa para ver as horas. 19h, que merda, xinguei por baixo do fôlego, abrindo a última mensagem de James.

Just Like Heaven || Brad SimpsonOnde histórias criam vida. Descubra agora