Abri calmamente a porta do apartamento de Ruth e assim que entrei, fechei o objecto de madeira. Observei a sala parcialmente iluminada, tudo graças à lâmpada da cozinha que estava acesa e à luz da rua que transpassava as portas de vidro da varanda da sala. Pendurei a minha chave no chaveiro e tirei o meu casaco de frio, pendurando-o logo ao lado da porta de entrada.
Caminhei até o sofá da sala e pousei lá a minha pasta, indo logo de seguida para a varanda. Assim que cheguei na mesma, fui atingida por uma rajada de vento, mas não liguei à isso e apoiei-me ao corrimão para poder ver as estrelas.Eu sempre adorei olhar para as estrelas e hoje o céu está favoravelmente perfeito para tal acto. Lembro-me que quando mais nova, o meu pai tinha o hábito de levar à mim e ao meu irmão até à Nova Marginal* para caminhar e respirar um pouco do aroma proporcionado pelo mar. Eu amava isso...Enquanto os meus pais caminhavam abraçados, o meu irmão andava de bicicleta de um lado para o outro, e eu ficava sentada na areia, bem longe do calçadão onde as pessoas andavam, a observar o mar todo escuro apenas com uma parte iluminada pela Lua. Lembro-me também que as estrelas ficavam bem evidentes e que a minha vontade de tocá-las era imensa.
Toda aquela imagem deixava-me inspirada. Tanto é que sempre que eu voltava para casa, eu pegava em um velho caderno que eu tenho guardado e escrevia imensos poemas.Aquela sensação que eu sempre tinha depois de terminar de escrever era...incrível.
- Estás a pensar em quê?-Ouço a voz de Ruth atrás de mim, mas desta vez, não assusto.
Acho que já estou habituada que ela apareça assim de repente.
-Nada de especial...-Eu dou de ombros, ainda com os olhos atentos ao céu.-Apenas estou a pensar nos meus pais e no meu irmão. Sinto a falta deles.-Murmuro e logo de seguida, suspiro fundo.
Sinto a minha prima aproximar-se mais de onde eu estou e logo a sua mão repousa em meu ombro, movendo-se em pequenas carícias.
-Eu te entendo. Também sinto a falta dos meus pais.-Diz baixo e leva a sua mão até ao corrimão, ficando na mesma posição que eu.-Então...como foi o primeiro dia de trabalho?- Ruth muda de assunto e logo, as memórias todas do dia de hoje voltam à minha mente.
As conversas que tivemos na sua sala de GameStreaming, a cena constrangedora que aconteceu antes de sairmos do seu apartamento, a nossa pequena sessão de Karaokê com a música do Bruno Mars...Todas essas lembranças de hoje começaram a voltar, e com elas, o sorriso bobo que insistia em enfeitar o meu rosto.
-Uhmm! Vejo que correu muito bem...-Ruth mexe as sobrancelhas com malícia e eu arregalo os olhos envergonhada.
-O quê? Do quê que estás a falar?-Eu finjo confusão e entro na sala, deixando Ruth para trás.
-Tu gostas do teu chefe?-Ela pergunta logo atrás de mim e eu abro a boca sem saber o que dizer.
-O quê? N-não, eu não gosto do Sebastião!-Digo, franzindo o cenho e o seu sorriso sacana cresce.
-Já até o chamas pelo nome.-Diz provocativa e eu lanço os braços no ar, cansada.
-Claro que sim, eu o conheço desde o tempo de escola. Nós estudamos juntos!-Explico, impaciente e Ruth abre a boca exageradamente, como se tivesse ouvido a maior novidade do ano.
-Meu Deus!-Diz incrédula e apoia as mãos em cada lado da cintura.-Mas que coincidência mais incrível!
-Né!?-Indago e caminho até o sofá onde repousava a minha mochila. Pego a mesma e me encaminho para o corredor que leva aos quartos.-Vou para o meu quarto!- grito quando já estou dento do corredor.
-Espera! Tu tens que contar-me bem essa história!-Ouço a sua voz alta vindo da sala, assim que entro no meu quarto e logo a rapariga já está à porta do mesmo.
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(Un)Crushing You
RomanceAmores vêm e amores vão à toda hora. Porém, há aqueles que simplesmente não desaparecem e prendem-se a ti como uma tatuagem permanente. Aqueles amores que por mais que faças alguma coisa para te livrares deles, nada funciona. Este era o caso de Weza...