O dia estava particularmente no modo depressivo. O céu carregava uma cor azul acizentada, enquanto nuvens negras decoravam toda a sua extensão. Não chovia, no entanto, ninguém se arriscou a sair sem um guarda-chuva na retaguarda. Marlon descansava a cabeça sobre o meu ombro, enquanto Mara descansava uma de suas mãos nas costas do mesmo. Zara estava ao meu lado e uma de suas mãos agarravam a mão de Marlon, em frente de mim.
Observei enquanto o padre falava algumas palavras, sobre vida pós-morte e o céu, mas infelizmente eu não conseguia conceder-lhe toda a minha atenção. Ao invés disso, eu observava cada uma das poucas pessoas que estavam à nossa volta, e sentia o meu coração aflito por estar ali. Se há algo que eu detesto mais do que lugares abarrotados de pessoas, são lugares não tão abarrotados mas mergulhados em um clima fúnebre. Suspiro fundo e fecho os olhos para tentar ignorar o meu lado introvertido. Eu estava ali pelo meu amigo e isso é o mais importante. Abro os meus olhos mais uma vez e não consigo deixar de notar o contraste que a cor preta das vestes de cada um ali, dava ao clima gótico à volta.-Eu creio que Deus irá receber a Sra.Maria com todo o amor na Sua Morada Eterna!-Quando ele diz isso, os homens responsáveis do cemitério começam a baixar o caixão até ao buraco e logo depois iniciam o processo de enchê-lo com terra.
Tal acto provoca um coro de choros amargos e lamentações desesperadas. O meu amigo saiu bruscamente do nosso lado e se aproximou da cova, ajoelhando-se em um choro compulsivo.
-Ma.Ia!!! Ma.Ia, fizeste então isso com o teu neto porquê??? Ma.Ia, volta só!!!-Ele gritava com a voz embargada e uma lágrima de tristeza desce pelo meu olho direito, mas eu mordo o lábio para tentar segurar o choro.
Eu precisava ser forte pelo meu amigo. Zara e Mara já choravam compulsivamente, abraçadas uma à outra, mas eu não podia fazer isso. Marlon precisava de alguém forte ao seu lado e eu teria que ser essa pessoa. Aproximo-me rapidamente do meu amigo e ajoelho-me ao seu lado, puxando-o para um abraço acolhedor. Ele retribui o mesmo e chora sem freios com o rosto enterrado em meu ombro. Passo a mão levemente em suas costas, em uma pequena massagem, para tentar acalmá-lo. Enquanto permanecemos assim, algumas pessoas se aproximam da campa para dar o seu último adeus e lançar algumas rosas que haviam preparado especialmente para Dona Maria. Eu não conheci a avó do Marlon, mas pelo que vejo nas atitudes de cada uma das pessoas presentes, ela era alguém muito querida.
Ficamos ali por mais alguns minutos, aguardando até que terminassem a cerimônia e fechassem por completo a campa. O padre diz mais algumas últimas palavras e assim que tudo termina, Marlon e eu nos levantamos do chão ainda abraçados. Ele olha por alguns segundos para a foto da sua avó colocada na campa e deixa um ramo de rosas brancas que lhe haviam entregado sobre a mesma. Dou pequenas batidinhas em seu ombro e o mesmo fecha os olhos, assentindo.Saímos dali, caminhando lentamente para fora do cemitério, em direção ao carro do meu amigo que estava estacionado na parte de fora. Antes que chegássemos, algumas gotas de chuva começam a dar o ar da sua graça e eu decido abrir o guarda-chuva para que nenhum de nós os dois se molhasse. Mara caminhava mais à frente com Zara, partilhando também um guarda-chuva, e em poucos minutos chegamos em frente ao carro que nos levaria à casa do óbito.
Zara diz que conduziria, já que nenhuma de nós além de Marlon tinha cartas, então agradecemos todos pelo seu gesto. Mara vai à frente com Zara e Marlon e eu ficamos atrás, ainda abraçados. Permanecemos toda a viagem em silêncio, à exceção de Mara que explicava a Zara como chegar à casa da avó de Marlon.
Não demora muito para chegarmos ao local, que já estava parcialmente cheio de carros na parte de fora. A avó de Marlon vivia em um condomínio modesto, mais ou menos próximo à Linha de Cintra, com casas de aparência rústica e de modelo semelhante. Zara estaciona bem em frente à casa e nós descemos rapidamente do mesmo. Passamos por algumas pessoas que já estavam sentadas pela varanda do lugar e fomos até à sala, onde as tias de Marlon haviam preparado um espaço para os familiares mais próximos sentarem, de modos a receberem o cumprimento dos que chegassem.
Levei o meu amigo até uma das cadeiras, próximo à um tio seu que aparentava estar na casa dos 60 e após ele se sentar, me ajoelho para que ele pudesse olhar para mim mais facilmente.
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(Un)Crushing You
RomanceAmores vêm e amores vão à toda hora. Porém, há aqueles que simplesmente não desaparecem e prendem-se a ti como uma tatuagem permanente. Aqueles amores que por mais que faças alguma coisa para te livrares deles, nada funciona. Este era o caso de Weza...