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Orineu conseguiu decifrar o meu olhar suplicante e tirou-me às pressas da cantina, levando-me rapidamente até ao campo da escola. Depois de nos sentarmos sobre as arquibancadas que decoravam o lugar, eu simplesmente despejei sobre ele tudo que eu vinha sentindo durante todos aqueles meses. O rapaz de óculos ouvia tudo em silêncio e acolhia-me em seu abraço sempre que eu desse uma pausa para chorar, enquanto acariciava levemente a pele do meu braço. Essa simples atitude demonstrava-me que ele estava ali para mim e fazia-me ter a certeza de que eu fiz bem em confiar nele. A sua presença de alguma forma deixava-me mais calma e fazia parecer que tudo fosse ficar bem, mesmo que o meu coração dolorido não acreditasse muito nisso. Não sei porquê, mas no dia que eu conheci o Orineu, senti uma sensação de conforto e paz na presença dele. Era como se ele fosse um anjo que estaria ao meu lado sempre que eu precisasse e que não importava para que coisa fosse, ele estaria ali para apoiar-me. Orineu transmitia-me essa confiança e mais do que nunca eu tinha a certeza que havia encontrado um amigo de verdade.

-Estás melhor?-Ele perguntou minutos depois de eu ter parado de chorar.

Nós ficamos o intervalo todo e mais alguns minutos no campo. Havia um número reduzido de pessoas espalhadas pelo espaço, mas nenhuma delas fez questão de saber o porquê que eu chorava e eu senti-me agradecida por isso. Não tinha intenção alguma de explicar o motivo do meu choro, que de alguma forma, chegava a ser até vergonhoso.

Chorar por um rapaz? Tsc...

-Sim...-Respondi à pergunta de Orineu com a voz meio falha por conta do choro e desvencilhei-me do seu abraço contra a minha vontade, pigarreando para poder falar melhor.- Obrigada por...isso.- Sorri meio envergonhada por toda essa situação e Orineu apenas sorriu fraco dando de ombros.

-Não me custou nada. Tu precisavas de mim e eu vim a correr que nem o SuperMan!- Ele brincou.-Ou a voar!? Sei lá...- Falou pensativo e eu não consegui evitar sorrir por isso.

-Acho que...- Olhei rapidamente para o meu relógio de pulso que marcava 16h e 15min.- É melhor voltares para sala, não?

Eu não pretendia voltar tão cedo para sala e nem conseguiria, mas não podia pedir a Orineu para fazer o mesmo que eu. Afinal, ele já ficou demasiado tempo ali comigo e eu me sentia completamente agradecida por ele ter abdicado do seu intervalo para enxugar as minhas lágrimas e ouvir os meus desabafos idiotas.

-Achas que eu vou deixar-te aqui sozinha?- A sua voz saiu de maneira engraçada e eu não consegui evitar rir por isso.- Nem já. Se for para ficar aqui até à hora da saída, vamos ficar!- Ele determinou e eu abanei a cabeça rindo, pela sua maluquice.

-Tu estás a aproveitar-te da minha situação para matar aula, né?- Eu semicerrei os olhos para ele, desconfiada e ele arregalou os olhos de forma exagerada.

-Quê??? Não!!!- Orineu abanou as mãos freneticamente como aqueles personagens de animes fazem.-Que tipo de pessoa achas que eu sou?

-Orineu!- Ameacei e ele revirou os olhos.

-Ok...talvez um bocadinho.- Disse baixo e eu ri pela terceira vez desde o momento que passei a estar com ele.- Mas não me arrependo nada.-Ele olhou para mim sorrindo fraco e eu retribui, desviando logo o olhar para o outro lado do campo meio vazio.

O silêncio instaurou-se no nosso meio e percebia-se de longe o quanto cada um estava preso em seus próprios pensamentos. Eu não conseguia evitar que a cena de há pouco passasse na minha mente incontáveis vezes e mesmo que Orineu me tivesse feito rir durante esse pouco tempo, a falta de assunto fez logo com que o bolão de lágrimas teimasse em voltar a formar-se em minha garganta. Porém, fiz o esforço de engoli-lo para não preocupar Orineu que permanecia quieto ao meu lado, intercalando o seu olhar entre a vastidão do campo e eu.

(Un)Crushing YouOnde histórias criam vida. Descubra agora