4. Father Figure {Isabella}

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{Isabella Swan}

Charlie estava de mau humor quando chegou em casa naquela noite. Eu me apressei para terminar a salada que estava fazendo e coloquei o jantar na mesa o mais rápido que pude. A última coisa que eu precisava era uma repetição da noite passada.

Charlie entrou e sentou à mesa, olhando para a comida.

— Parece gostoso, Bells — ele grunhiu.

Dei um leve suspiro aliviado.

— Obrigada.

Nós comemos silenciosamente por alguns minutos, e então ele falou novamente.

— Olha, Bella, sobre a noite passada — ele começou, encarando seu prato.

Abaixei a cabeça, beliscando a comida.

— Me desculpa — ele disse. — Eu não queria ficar tão nervoso. Foi só um dia ruim.

— Não, tudo bem — eu disse rapidamente.

— Não, eu... — ele parou. — Eu queria compensar você. Então, eu... comprei uma coisa para você — Ele enfiou a mão no bolso e tirou um conjunto de chaves. — Não é novo, mas corre bem, e é firme.

Encarei as chaves.

— Você comprou um carro para mim?

— Bem, uma caminhonete — ele disse. — Comprei do Billy Black.

Encarei as chaves, abrindo e fechando a boca igual um peixe fora d'água.

— Eu, hm... obrigada.

Ele suspirou levemente.

— Eu te amo, pequena. Senti falta de ter você aqui. Eu quero que isso funcione.

Engoli o nó na minha garganta.

— É, eu também.

Não conseguia encará-lo. Sabia que ele estava sendo sincero, e eu também, mas já ouvi palavras assim antes.

Claro, ele nunca me comprou uma caminhonete antes.

Houve um tempo em que eu realmente tive esperança de que as coisas melhorariam. Todo ano, antes de vir para as férias de verão, eu inventava essas fantasias sobre tudo ficar bem entre Charlie e eu. Mas depois de um tempo, até mesmo criancinhas precisam crescer e encarar a verdade. As coisas nunca mudam. Sempre haveriam dias ruins, e eu sempre pagaria o preço por eles.

— Desculpa se eu machuquei você — Charlie disse rispidamente.

— Tudo bem — murmurei, desejando que ele não se desculpasse. Eu nunca soube lidar com as suas desculpas. Mas talvez as coisas fossem diferentes agora. Talvez me dar uma caminhonete significasse que ele queria uma mudança.

Eu esperava que sim. Ansiava por um pouco de paz.

Nós permanecemos em silêncio pelo resto da refeição e Charlie foi para a sala assistir TV enquanto eu lavava as louças. Eu não gostava de lavar louça. Não me importava com a tarefa exatamente, era só que a minha mente ficava livre para viajar. E minha mente viajando nunca era uma coisa boa ultimamente porque sempre caía em...

Essa é uma panela anti-aderente. Esfregue com o lado macio da bucha.

Eu tentei focar minhas energias em deixar a panela limpa e intacta, mas não era o suficiente.

Coisinha linda.

As palavras surgiram espontaneamente em minha mente, e eu estremeci.

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez.

Um.

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez.

Dois.

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez.

Três.

Esfreguei a última louça vigorosamente enquanto contava devagar.

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez.

Quatro.

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez.

Cinco.

Quando as louças acabaram, eu peguei uma toalha e comecei a secá-las.

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez.

Seis.

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez.

Sete.

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez.

Oito.

Charlie estava dizendo alguma coisa mas eu não podia respondê-lo. Eu não havia terminado.

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez.

Nove.

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez.

Dez.

— Bella! — ele gritou, e eu girei e fui em direção a porta entre a cozinha e a sala.

— Sim? — eu disse timidamente.

— Você vai ficar parada aí e me ignorar?

— Desculpa — me encolhi contra o balcão. — Desculpa. Do que você precisa?

— Esquece — ele me lançou um olhar sombrio e caminhou até a geladeira para pegar uma cerveja.

— Desculpa — eu disse novamente.

Quando ele saiu da cozinha eu corri para terminar de secar as louças e fugi para o meu quarto. Fiz meu dever de casa, mas não foi o suficiente. Nunca era o suficiente. Em Phoenix, eu tinha classes avançadas disponíveis, mas a escola em Forks não tinha orçamento para isso. Eram apenas classes normais que não me ofereciam desafios. O dever era muito fácil e muito rápido, e então eu estava sozinha com meus pensamentos de novo.

Coisinha linda.

— Não — gemi suavemente, deitando em minha cama em posição fetal.

Você é uma coisinha linda, Bella.

— Não, para — sussurrei.

Mas ele não parou. Eu conseguia sentir suas mãos por dentro da minha camisa, e eu conseguia sentir o cheiro forte de álcool em seu hálito.

Seja uma boa garota.

Saltei da cama e agarrei meu mp3, colocando meus fones e aumentando o máximo possível. Explodi a música, focando nos ritmos e nas letras e desligando aquela voz.

Take This Heart || Bella e CarlisleOnde histórias criam vida. Descubra agora