Prólogo

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A lenda dos reinos.

    O mundo sempre foi dividido entre cinco reinos, o reino das Florestas, o reino das Águas, o reino do Fogo, o reino do Sol e o reino da Lua. Os três primeiros, os reinos das Florestas, das Águas e do Fogo, vivem em harmonia e são bastante reclusos - desde o fim da Velha Era - apenas seus moradores e poucos estrangeiros tem permissão para entrar em suas terras. O trauma que as Velhas Guerras deixaram causam terror até hoje, mesmo depois tantos séculos, talvez até mesmo milênios, a lembrança do sofrimento não acabou. Os reinos do Sol e da Lua, há muito tempo, haviam sido amigos e aliados, os mais fortes, combatendo as trevas do Velho Mundo, pouco a pouco, em conjunto com os três outros reinos. Eles formavam a Aliança dos Cinco Reinos.

    Contudo, em um dia sombrio no fim das velhas guerras, os reinos do Sol e da Lua se tornaram inimigos, e passaram a ser conhecidos como os reinos da Luz e da Escuridão. Ninguém, nem mesmo os estudiosos e sábios mais antigos do reino da Luz, sabe ao certo o que aconteceu, o único fragmento de tempos tão remotos quanto aqueles em que as velhas guerras se passaram, foi uma profecia.
   
    A profecia contava que, algum dia, quando os motivos das guerras fossem desconhecidos, quando a união entre os dois maiores reinos fosse nada mais que uma lembrança distante de um passado que não parece existir, somente neste momento, se as escolhas certas fossem feitas, os dois reinos voltariam a ter toda sua glória, e se tornariam, mais uma vez, quase um. Mas, até lá, toda a devastação e escuridão que os reinos propagassem seriam em vão, pois nada mudará até que os escolhidos da profecia nasçam em seus reinos e floresçam o suficiente para mudar e unir os cinco reinos, mais uma vez. Porque, quando os escolhidos surgirem, não serão apenas os reinos do Sol e da Lua que serão obrigados a unir-se, mas também os outros três reinos, eles serão obrigados a retomar a aliança dos Cinco Reinos, há muito esquecida, desde as Velhas Guerras.

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- Isso é só uma lenda, não é velho sábio? - a garota de cabelos dourados como o sol (a primeira em sua linhagem com madeixas de tal cor), segunda filha dos reis do reino da Luz, perguntou ao velho sábio que estava ensinando-a.

- Toda lenda tem uma gota de verdade, pequena Ariana! - Seu manto branco com bordados dourados, já estava gasta pelo tempo de uso, as duas pedras do sol penduradas em seu pescoço, para mostrar sua alta patente entre os sábios, tilintavam quando ele balançava o pescoço. Mesmo que o manto estivesse gasto as pedras brilhavam como o próprio sol e ele vestia a como se fosse o primeiro dia em que usou-a. Com orgulho.

- Pode até ser, mas eu não acredito em lendas, o Char disse que isso tudo é um bando de baboseira que nunca vai acontecer, e que nós não deveríamos nos importar com profecias e promessas de um passado inexistente quando temos um futuro para construir. - Ariana recitou as palavras do irmão mais velho, príncipe Charles, com maestria.

- Tem apenas uma diferença entre vocês princesa...

- Eu sei... Eu sei, "eu sou a herdeira do trono, porque o trono do reino da Luz passa pela linhagem feminina, mesmo que ele seja o mais velho é meu dever assumir o trono quando tiver idade."  Você não precisa repetir Sábio Ric, eu já sei isso de cor. - e ela sabia mesmo, Richard, O Sábio, já havia repetido aquele mesmo discurso milhares de vezes para a pequena princesa Ariana.

- Você é bastante espertinha para quem tem apenas sete anos! - Falou o velho Sábio, rindo da cara emburrada que a princesinha fez.

    Ela não tinha apenas sete anos, ela tinha sete anos. E dentro de cento e sessenta e nove ciclos lunares ou, mais especificamente, treze anos solares ela teria a idade para assumir o trono, se assim a mãe dela desejasse. 

- Eu terei minha própria maneira de governar um dia, e não será baseado em superstições mais velhas que o próprio sol. - a garota cruzou os braços e fez bico, virando a cara para o outro lado, querendo ignorar o tutor. 

- Estou ansioso e espero estar vivo para ver a forma sábia com a qual vai governar, princesa Kamari.

    Ela olhou para o sábio sorrindo, era bom ser criança, ela nunca ficava de mal humor por muito tempo e o irmão dela fazia tudo o que ela queria quando voltava da fronteira. Enquanto isso não acontecia a garota aproveitava o amor que o Velho-Sábio tinha por ela, ele era quase como um avô, e era quem ficava com a tarefa de mima-la. Apenas Charles e o sábio Ric chamavam-na de Kamari, seu terceiro nome, que significa LUA e foi escolhido pelos sábios.

- Claro que vai estar, você ainda é novo, tem o que? Uns duzentos anos? - Mesmo sendo pequena havia herdado da convivência com seu irmão um humor extremamente ácido e sarcástico, o que lhe rendia belos puxões de orelha. Mas o Velho-Sábio-Richard já estava acostumado com o temperamento da garota, o homem apenas riu abanando as mãos no ar, antes de ficar sério e olhá-la com seriedade. 

- Você está crescendo Kamari, precisa saber que nem tudo é brincadeira. Que, como rainha, um dia, você terá que escolher entre a vida do seu irmão e a liberdade do seu reino. Está disposta a fazer escolhas tão impossíveis e cruciais?

    O Velho Sábio sabia que a pessoa que Ariana mais amava no mundo era seu irmão e que ela daria a própria vida por ele, assim como ele faria por ela, mas ela era a herdeira do trono e tinha que entender que sua escolha colocaria todo o seu reino e a vida de todos que vivem nele, em perigo. Mesmo assim Ariana deu a mesma resposta que dava todas as vezes que ele fazia essa pergunta e a mesma resposta que ela continuaria dando nos anos seguintes. A princesa parou de sorrir e seus olhos perderam o brilho, que parecia mais a lua dentro de seus olhos tão negros (outro traço apenas dela e de mais ninguém da família) até mesmo seus cabelos pareciam ter perdido a habitual chama solar. Ela levantou a cabeça, tão decidida quanto das ultimas vezes, tão decidida quanto uma rainha, e pronunciou as mesmas palavras que já havia dito milhares de vezes e que diria milhões mais. Palavras que o Sábio já havia decorado, palavras que ela falou, pela primeira vez, com apenas três anos e meio de idade. 

- Eu serei rainha um dia, mas não serei merecedora deste posto se deixar que meu irmão morra protegendo algo que eu devo proteger, não serei merecedora do meu trono se não puder proteger meu reino e o meu irmão. Então, não, não será uma escolha difícil ou crucial, pois eu não precisarei escolher. Treinarei mais que o suficiente para dominar meu poder para que, se algum dia alguém ousar me desafiar a escolher, essa pessoa não tenha escolha. - Os cabelos dourados da garota flutuavam, irradiando um brilho que parecia o próprio sol. Isso, nunca havia acontecido.




O Despertar do Destino - Ecos do PoderOnde histórias criam vida. Descubra agora