O Despertar do Destino - Ecos do Poder

Capítulo 24: Kiran, flecha e sombras

Ele se posicionou muito bem, sua postura era perfeita, seus dedos seguravam o arco com firmeza e sua respiração era calma. O mundo inteiro parou de importar naquele momento, Ariana só conseguia focar sua visão naquele homem, nada além dele fazia sentido.

A respiração de Kiran, os cabelo negros bagunçados, a pele pálida, seus olhos cor de mel atentos ao alvo que estava a quilômetros de distância, aquele homem exalava poder, exalava confiança e Ariana se pegou pensando em como seria ser como ele, em como ela seria se confiasse em si mesma e em seu próprio poder, ela rezou aos Deuses (seja lá quem eles forem e sabe-se lá se eles existem) para que aquele homem vencesse aquela competição, para que ele estivesse ao lado dela e para que a ensinasse a controlar a si própria.

O mundo ficou em silêncio, tudo que a herdeira do trono ouvia era a respiração daquele feérico no campo, ela escutou o coração dele bater e até o barulho que suas pálpebras faziam quando fechavam. A própria respiração da princesa estava meio descontrolada, ela estava em transe vendo como a, luz do sol refletia nos cabelos dele.

Ariana estava tão absorta na imagem dele, nas sensações que a presença dele causavam nela, que não percebeu, não de imediato, quando a flecha foi solta e atingiu o centro do alvo, ela não soube explicar como aconteceu, seu transe foi quebrado com o estalo que a ponta de prata fez ao atravessar a madeira, o mundo voltou a ter sons e cores e Kiran não parecia mais ser o único ser no universo.

Contudo, assim como todas as outras pessoas ali presentes, Ariana não soube identificar qual era o poder daquele feérico, talvez, tal qual a princesa, todos tenham ficado hipnotizados de mais pela beleza transcendental dele, talvez a postura de Kiran tenha encantado tanto as pessoas que ninguém ousou prestar atenção de verdade na flecha para não perderem os movimentos do feérico.

A princesa ficou sem palavras, sua voz parecia ter sumido, mas ela conseguiu se concentrar o suficiente no mundo ao seu redor para escutar quando foi anunciado que aquele homem iria para a próxima fase daquela competição. A alegria inundou seu peito, ela amava a ideia de ter Kiran ao seu lado por mais tempo, amava a ideia de ter ele para irritá-la e amava a sensação que ele causava nela e, talvez o mais importante, queria aprender a ser como Kiran, queria que as pessoas a vissem da mesma forma que ela o via.

Ariana queria exalar poder, queria prender a atenção das pessoas, queria ser admirada, queria ser incrível, queria mostrar a todos que duvidaram dela que o mundo inteiro deveria temer seu poder, ela tinha a sensação de que poderia aprender isso com ele, tinha a sensação, mesmo que remota e desconhecida, de que o destino tinha os unido, de que eles não haviam se conhecido por coincidência, de que, fosse para o bem ou para o mal, aquele homem havia entrado na vida dela por um motivo, e ela sabia bem lá no fundo, que seria um motivo grandioso.

Ela ficou tão absorta nos próprios pensamentos que quase não ouviu quando chamaram seu nome, quando clamaram para que ela entrasse naquela arena e demostrasse todo o poder que ela deveria ter, mas que ninguém, nem mesmo ela, acreditava que ela tinha.

_ Quer saber o motivo de te prenderem e de te machucarem tanto princesa?

Era a voz de Kiran ao seu lado, bem ao pé de seu ouvido. Ela não temeu, sua pele não arrepiou e nem seu coração acelerou, mas ela esperou, esperou por saber que ele daria a resposta mesmo que ela não perguntasse.

_ Eles te prendem e te desprezam porque temem, eles temem o poder que está prestes a entrar em erupção dentro de você. Eles a desprezam Kamaria, por medo, e essa será a ruína deles.

_ Eu espero do fundo da minha alma que você esteja certo.

Ariana podia sentir o corpo de Kiran junto ao seu agora, ele não tocou nela, mas era como se estivesse tocado, como se o poder dele, seja lá qual fosse, estivesse acariciando a princesa, como se estivesse drenando as inseguranças e os medos, como se confiasse nela mais que ela mesma. A sensação foi embora tão rápido quanto surgiu e a garota começou a pensar que tudo fazia parte de sua imaginação.

_ Então vá lá e prove que estou certo!

Foi tudo o que ele disse antes de desaparecer nas sombras e deixar Ariana sozinha com seus próprios demônios. Ela se decidiu naquele momento: Ariana seria tudo o que pudesse ser e um pouco mais, ela provaria para todas aquelas pessoas que tentavam subjugá-la que não era fraca, que não se deixaria dominar por mais ninguém.

Ariana saiu daquela tenda determinada, mal escutando o clamor da multidão.

"Eu sou Ariana Kamaria e serei tudo o que posso ser."

Quando Ariana se posicionou perfeitamente na arena, armou o arco dourado com uma enorme flecha de madeira, o mundo inteiro se calou e ela fechou os olhos, não seria guiada pela visão, não seria guiada pelo tato ou pelo cheiro, ela seria guiada por seu poder e nada mais. No momento em que Ariana soltou a flecha não foi apenas o seu mundo que ficou mudo, mas o de todas as outras pessoas naquele lugar também.

Quando soltou aquela flecha ela sentiu tudo o que estava ao seu redor, sentiu todas as pessoas, todos os animais, toda a natureza, a gravidade parecia puxá-la a cada segundo, parecia que tinha um enorme poder sobre ela, com ela e para ela. As sombras pareciam mais acentuadas e o sol parecia mais brilhante. Quando a ponta de metal encontrou com a madeira do centro do alvo o estrondo foi imenso naquele mundo silencioso. O baque da flecha com a madeira foi ensurdecedor nos ouvidos da princesa e de todos presentes naquela arena. Segundos depois a plateia explodiu e saldou a Ariana, eles sentiam a onda de poder que ela emanava, eles sentiam a manipulação da luz para que aquela flecha atingisse o alvo, eles sentia que o mundo reverenciava aquela menina.

Daquele dia em diante muitos começariam a temê-la, não pelo que ela havia demonstrado ao atirar aquela flecha, mas pela aura de poder que ela emanava quando tudo aconteceu, era uma aura pesada e brilhante, uma aura que calaria ou explodiria o mundo, aquele dia foi o dia em que Ariana Aruna Kamaria realmente nasceu, foi o dia em que ela ascendeu e o dia em que decidiu viver e não obedecer as ordens dos outros.

O pavor no rosto da rainha era imenso, porém ela tinha inveja e cobiçava aquele poder mais que tudo, e ela não pararia até consegui-lo, ou até ser destruída pela própria filha.

A rainha Regina fingiu felicidade e amor para com a filha, falou até sobre o quanto estava orgulhosa com o "repentino" avanço da filha. Ninguém sabia que Ariana era poder puro, todos achavam que a linhagem real enfraquecia cada vez mais desde o fim das velhas guerras, eles subestimavam a princesa, agora isso estava para mudar.