O Despertar do Destino - Ecos do Poder

Capítulo 12: Um passado distante 02

A neve começava a derreter, a primavera chegaria em breve, mas não para ela, seus pés sujos de lama, seus lábios semicongelados e toda a sua aparência grotesca eram a prova de que em pouco tempo morreria, já havia durado tempo de mais, é fato. Qualquer pessoa normal teria morrido no primeiro ou segundo dia de neve, mas ela não, por algum motivo uma força maior prendi-a aquele mundo. Não sabia dizer que força era essa, nem sabia quem era, sua identidade havia se perdido a algum tempo, não sabia quando, nem mesmo lembrava do motivo que a levou à vagar sem rumo por onde quer que estivesse.

Seus pés sangravam por causa do atrito que tinham com o chão, seus lábios estavam azuis e rachados, seus cabelos estavam caindo gradativamente, agora era apenas um pequeno tufo, suas juntas estavam congeladas, mal podia andar agora, espirros eram recorrentes e as vezes saia sangue da sua boca, ela não sabia o que estava acontecendo. Seu corpo queria andar mais, andar para aplacar a morte, mas ela já não conseguia.

Em algum momento ela sentou em um chão batido embaixo do telhado de uma casa abandonada, naquele momento ela começou a chorar desesperadamente, não lembrava como havia chegado até um vilarejo, aquela era uma das coisas menos importantes. Não sabia porque chorava, mas chorou tanto que adormeceu, mesmo tentando não dormir por medo de ser devorada por um bicho ou morrer ali mesmo. Era a primeira vez que dormia, desde que se lembrava.

Na manhã seguinte ela acordou coberta por um pano de lã velho e com uma xicara de café quente ao seu lado, uma mulher gordinha e de aparência gentil, porem modesta, estava olhando-a com um sorriso. A garota quase matou a mulher com suas sombras, seu sonho tinha sido terrível, lembrava que havia perdido o pai e lembrava como, mas não lembra qual era seu nome, ou quem ela era.

- Me desculpe criança, mas tem cinco dias que está ai, pensei que tivesse morrido congelada, quando percebi que não, trouxe algo para você.

Então não havia passado apenas uma noite, mas cinco. A menina não falou nada.

- Nosso grandioso rei está aqui, ele quer vê-la, pediu que eu ajudasse você a se arrumar para ir até ele.

Um rei, a garota pensou. E se ele tivesse mandado matar seu pai? Ela sabia que havia sido alguém da realeza, mas não entendia quem, nem de onde. Não lembrava. Mas se ele era um rei de outro reino, que não o que ajudou a assassinar seu pai, então ela teria alguma segurança para si. Ao menos era isso que esperava.

Ela não falou, apenas assentiu para a mulher.

******************************

Quase uma hora depois a garota vestia um vestido emprestado de uma das filhas mais novas da senhora que a ajudou, sua pele estava mais corada, suas feridas curadas o máximo possível com magia e uma pasta medicinal qualquer, que ela não sabia de que se tratava. Havia se alimentado como nunca, até onde se lembrava. Mas vomitou mais da metade pela falta de costume de comer. Ela não falou uma única palavra. Estava de frente para o rei agora. Esperando. Não reconhecia o rosto marcado e os cabelos loiros do rei.

- Então é você? - Exclamou o rei, com curiosidade. - A magia extremamente abundante que senti entrar em meu reino.

A garota não respondeu, não sentiu que deveria e ficaria calada pelo máximo de tempo possível.

- Não vai falar?

Ela não respondeu.

- Se é assim então escute, tenho uma proposta para você. Vou treiná-la, alimentá-la, vesti-la e protegê-la das melhores formas possíveis, mas para isso você terá que servir este reino com seus poderes e talvez, se me servir bem, no futuro farei de você rainha deste império, farei de você esposa do meu filho. O príncipe herdeiro.

A garota não pensou muito, a palavra PROTEÇÃO ecoava em sua mente. Ela aceitou. E foi levada daquele pobre vilarejo, nunca mais viu a mulher que acolheu-a, e nunca devolveu aquele vestido.

Meses depois, quando já estava muito mais saudável, e com muito mais disposição, ela entendeu porque tinha sobrevivido á cinco longos meses de inverno e a uma semana da fria primavera. Ela também entendeu o motivo de ter aceitado a proposta do rei. Havia apenas um: VINGANÇA.