Dois Papais

Capítulo V:

- Senhor e Senhor Anderson, a Senhora Bane vai atendê-los agora.

Kurt e Blaine estavam de mãos dadas quando eles entraram na sala da diretora aquela manhã. Ela tinha conseguido uma hora para encontrar com eles mesmo que eles não tivessem agendado. A Senhora Bane estava sentada atrás de sua mesa e indicou para que eles se juntassem a ela:

- Bom dia, Senhor e Senhor Anderson. Foi muita gentileza de vocês em responder tão rápido ao meu pedido.

Blaine falou primeiro:

- É claro, Senhora Bane; a educação do Adrian é a nossa maior prioridade.

Kurt completou:

- Sim, é verdade. Porém, nós estamos um pouco curiosos sobre o assunto da reunião de hoje. Nós não notamos nada de diferente no comportamento do Adrian ultimamente; e nós o observamos bem de perto. Por que a senhora nos chamou aqui?

A Senhora Bane começou a parecer desconfortável:

- Bem, Senhor Anderson, não é nada no comportamento do Adrian por si só. É a reação das outras crianças a ele... Veja bem...

Kurt estava prestes a protestar, mas Blaine apertou sua mão que estava em cima da mesa. A Senhora Bane franziu o cenho para o gesto e o casal viu isso. Blaine lançou um olhar a Kurt dizendo para ele deixá-la terminar. Blaine estava sentindo que a conversa não iria terminar bem.

A Senhora Bane respirou fundo e continuou:

- Vocês sabem que nós estamos em uma vizinhança com fortes influências religiosas. Houve algumas queixas sobre os desenhos do Adrian...

Kurt estava inquieto na cadeira. Blaine podia sentir a tempestade se aproximando; ele conhecia muito bem o seu marido. Kurt não podia ficar quieto dessa vez; mesmo que ele estivesse lutando para suprimir seus sentimentos naquela hora:

- Os desenhos dele? Qual é o problema com os desenhos dele?

A Senhora Bane estava muito desconfortável:

- Algumas famílias os acharam... difíceis de explicar para seus filhos pequenos... sobre a família... fora do comum, vamos colocar assim, do Adrian.

Foi o que precisava para a primeira trovoada. Kurt se levantou de súbito derrubando a cadeira atrás de si.

- Família fora do comum? Qual é o problema de o Adrian ter dois pais? Ele está perfeitamente feliz conosco. Nós o amamos muito...

A Senhora Bane interrompeu:

- Ninguém está argumentando isso, somente...

- Eu não acabei!

Kurt estava enraivecido e Blaine sabia que nessas situações tentar acalmá-lo só deixava tudo pior. Kurt estava olhando direto nos olhos assustados da Senhora Bane:

- Eu perdi minha mãe quando eu era pequeno. Eu sei como ele se sente. Essa foi uma das razões pelas quais eu me apaixonei pelo Adrian na primeira vez que eu o vi naquele orfanato. Nós lutamos por um ano inteiro para tirá-lo de lá e dar uma vida melhor para ele. Agora não vai ser um bando de famílias preconceituosas de classe média que vai nos parar.

Blaine começou uma tentativa fraca de acalmar os ânimos:

- Kurt, eu tenho certeza de que a Senhora Bane...

Ele não pode completar a sentença dele porque Kurt olhou para ele com sangue nos olhos. Blaine não queria começar uma briga; ele só ficou quieto e deixou Kurt continuar:

- Senhora Bane, eu tenho certeza de que as crianças não têm nada a ver com tudo isso: elas são ainda muito puras para serem cegadas pelo preconceito. É sobre os pais delas. E se for sobre o dinheiro que eles pagam para manter as crianças aqui; nós pagamos tanto quanto todos os outros. Nós temos tantos direitos como todos os outros.

A Senhora Bane começa a tentar se desculpar:

- Não é sobre o dinheiro...

Kurt não a deixou terminar de novo:

- Eu sei. É sobre direitos humanos básicos. Meu marido e eu temos os mesmos direitos do que qualquer um de amar quem nós amamos, de nos casarmos com que nós quisermos e de começar uma família como todas as outras. Todo mundo merece ser amado; especialmente crianças tão gentis como o Adrian. Eu achei que esse jardim de infância na Nova York do século XXI seria um ambiente seguro para o meu filho. Agora vejo que eu estava errado. Eu vou tirar o Adrian daqui antes que ele se torne mais uma vítima do bullying como eu fui. Eu lutei pelo meu bem-estar e vou fazer isso com forças dobradas pelo meu filho.

Kurt saiu enfurecido da sala e andou direto até a sala de aula do Adrian; deixando Blaine sem opção a não ser correr atrás dele. Kurt não estava nem um pouco constrangido quando ele abriu a porta da sala:

- Com licença, Senhorita Gilles, mas eu sou o pai do Adrian Burt e eu preciso que ele venha comigo agora.