Capítulo 12 - Profecias (parte dois)

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AGATHA

Agatha estava cansada do Vento a mandando o que fazer.

Desde quando as mulheres da sua família lhe disseram que ela tinha o dom da profecia, Agatha sabia que isso era furada.

"É um dom incrível!" exclamou sua mãe;
"Não lute contra isso!" alertava suas tias;
"É um presente da Deusa!" afirmava sua avó;
"Me diz os números da loteria!" pedia sua prima. 

Ah, se o tal "dom" fosse algo tão útil. O máximo que ela conseguia era uma dor de cabeça de ter que ficar ouvindo palavras desconexas sendo jogadas em seu rosto durante todo o dia. As vezes a voz era mais quieta, as vezes mais falante, mas nunca constante.

E fazia tempo que ela não ficava tão agitada, está assim desde um pouco antes do primeiro jovem desaparecer a três meses atrás.

Desde então, só vem piorado. A única vez que a voz deu um descanso para ela foi a uma semana atrás, quando ela estava indo para a escola um menino de cabelos cacheados a atropelou com sua bicicleta. Agatha se lembra de perder o controle e ditar para ele uma profecia não muito boa, falada através dela, então ficou com tanta vergonha que saiu andando.

A voz parou depois desse dia e ela pensou que finalmente poderia descansar, mas hoje ela voltou mais agitada. 

Agatha odiava quando a voz ficava mais agitada, pois, infelizmente, era quando ela fazia mais sentido. Ela deixava de ser um cântico melódico de lamúrias e pesares (que ela já tinha se acostumado) para ordens ríspidas e grosseiras (que ela se recusava a se acostumar).

Como agora, voltando a pé para casa depois de passar a tarde na biblioteca da escola. Ela tentava focar na música tocando no volume máximo em seus fones de ouvido enquanto A Voz a dava ordens inúteis, repetitivas e sem sentido.

O príncipe está vindo. Reúnam-se. Duzentos e quarenta e três. Vá para a matriarca. Vinte e sete feridos. Ele precisa de você. Até a matriarca. Reúnam-se e encontrem. Encontre o filho da noite. Não vive por si. Mais rápido. Ajude o príncipe da noite...

E a baboseira se repetia por horas, mais agitada conforme o Sol foi se pondo. Também parecia ficar mais intensa a medida que chegava perto de sua casa. Agatha morava num triplex em cima de uma cafeteria e ao lado de um brechó, duas coisas que pareciam ter moldado seu estilo e personalidade — compostos por roupas oversized e madrugadas em claro. Sua família também teve um grande papel nisso, com todos os seus 9 membros sendo extremamente extravagantes e morando debaixo do mesmo teto, sua presença parecia ser engolida por eles.

E talvez isso sido algo bom, pois assim ficou mais fácil passar pelos lugares sem ser notada. Despercebida pelos outros clientes, Agatha entrou na cafeteria como um fantasma e se dirigiu direto para os fundos, onde uma escadaria a levava para dentro de casa. A voz agora disparava:

Avise a todos. O equinócio está chegando. Reúnam-se. Vinte e sete , vinte e sete. Prepare a dobra. Dobre a realidade. Esconda-o. É seu dever ajudá-lo. Coberto com o véu ele deverá ficar. Condescende como a névoa. Escuro como a noite. Esconda-o....

- Cheguei! - ela anunciou quando atravessou a porta e entrou no caos da casa La Vernoux.

A primeira coisa que notou foi o forte cheiro de fumaça, a segunda foi seu pai agachado no meio da sala de estar, que tinha seu piso de madeira repleto de ferramentas de todos os tipos. Ele coçava sua barba enquanto olhava para a televisão da sala de cabeça para baixo em sua frente, soltando fumaça.

- Oi, amor! - Seu pai a recebeu com um sorriso e arremessou um beijo. - Como foi a escola?

Reúna. Ajude. Ilumine a escuridão. Perigo. Perigo. Duzentos e quarenta e três. Monstros de terra. Línguas feéricas...

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⏰ Última atualização: Jan 25, 2023 ⏰

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Lua Púrpura  (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora