Corri como nunca na minha vida.
Isso não é apenas uma expressão. Antes daquele momento, eu literalmente nunca tinha corrido daquela forma em toda a minha existência. Não com todas essas sensações.
Foi a primeira vez que me senti tão veloz e ágil. Havia algo incrivelmente bom sobre a sensação do vento no meu rosto, era mais fácil de manter o foco, podendo me concentrar melhor nos pensamentos e sentimentos que estavam uma bagunça até então. A corrida também melhorou as dores de cabeça que eu estava sentindo, assim como a sensação esmagadora de estar escutando tudo o que acontece no mundo e tendo a visão ofuscada por qualquer foco de luz.
Nós corremos por bastante tempo e eu não senti metade do cansaço que sentia indo de bicicleta para a escola todos os dias. Depois de um tempo percebi que estávamos indo para o mesmo campo onde o tinha encontrado treinando na noite anterior.
Ele parou subitamente perto da entrada e cruzou os braços, olhando pelo campo como se procurasse algo. Parei logo atrás dele, levando pouquíssimo tempo para recuperar o folego. Demorei para perceber, mas reparei que todos os seus cortes e arranhões da queda já tinham sumido, se curado, sobrando apenas a sujeira e o sangue seco dos machucados.
- Dominic - chamei. Não sei se foi o tom de voz mais calmo ou toda a situação, mas ele virou prontamente em minha direção, diferente de como tinha sido durante todo o dia, em que ele mal olhou no meu rosto para me responder. - Você pode me explicar, por favor, o que está acontecendo?
A corrida realmente tinha ajudado a colocar para fora grande parte da energia e estresse acumulado durante o dia. Consegui agir com mais tranquilidade, pensando melhor no que ia dizer e como ia dizer.
- Se quer que eu fique correndo atrás de você por aí, precisa pelo menos me dar um motivo pra isso. - Tentei soar o mais sério possível, para que ele não se esquivasse ou me ignorasse de novo.
Dessa vez funcionou. Seu olhar se suavizou e o que antes era uma carranca tensa se tornou algo próximo preocupação genuína.
- Sinceramente, eu nem sei por onde começar... - pensativo, ele mordeu o lábio inferior antes de prosseguir. - Desde o início do ano, nossa Alcateia tem estado em crise, pois nosso antigo Alfa adoeceu.
Um vento gelado, com cheiro de mato e terra, passou por nós. Todas as gramíneas do campo à nossa volta se curvaram em uma onda verde, e do outro lado do campo, onde haviam apenas árvores e morros a distância, o vento pareceu não afetar. O Sol estava cada vez mais perto de se por, fazendo com que o céu atingisse aquele ponto em que se encontrava em várias cores, indo do amarelo ao violeta. Sua luz alaranjada projetada a nossa volta dava um tom etéreo em todo o ambiente, que parecia silencioso pela primeira vez no dia.
Parecia um lugar bem pacífico, ótimo para treinar, mas também para meditar. Não que eu fizesse qualquer um dos dois, mas algo me dizia que eu deveria começar
- Um alfa de uma alcateia é tipo um líder né? - Perguntei, secando o suor do rosto.
- Resumidamente, sim. Mas também é mais que isso. - Ele continuou. - Um Alfa é a cabeça de toda a Alcateia, alguns dizem que quanto mais forte e poderoso ele for, todos os licantropos dessa Alcateia também serão.
"Csare, o antigo Alfa, sempre foi um ótimo líder, e por isso, era prestigiado e querido por todos. Ele era forte e inteligente, um ótimo lutador, sempre capaz de resolver todos os conflitos, internos e externos, que a Cidadela as muitas vezes enfrentava. Também era muito carismático e um bom professor. Então quando ele adoeceu foi um choque pra todo mundo.
"As semanas iam passando e seu quadro apenas piorava, o que refletia em todos nós. Era como se a Alcateia, mais de duas mil pessoas, estivesse adoecendo junto. Foram meses muito difíceis, ninguém sabia certamente o que fazer, até que Csare morreu."
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Lua Púrpura (Romance Gay)
Manusia SerigalaLobisomens são reais. Na verdade Licantropos, como preferem ser chamados. Eles vivem entre nós e se parecem conosco: amam, sofrem, superam... porém possuem sua própria sociedade, hierarquia, religião e costumes. Em dois meses, 3 adolescentes desapar...