Esculpida nas pedras da própria montanha, o local brilhava como uma peça só: única, natural e imutável. A Cidadela se apresentava como uma miragem incrível e impossível, mas ao mesmo tempo parecia algo natural, pertencente exatamente naquele vale e em nenhum outro lugar. Edificações variadas de pedras cinzentas em corte reto delimitavam sua silhueta, lembrando as antigas construções vistas em livros de geografia. Porém a cidadela mergulhava na modernidade com muitos detalhes em vidro fundidos na própria pedra e tons naturais de verde, o que a fazia parecer tanto uma antiga construção Asteca quanto um bairro nobre em Singapura.
Toda a beleza parecia estar ainda mais intensificada, pois as construções em arcos e alguns grandes monumentos eram iluminados pela luz laranja do pôr do Sol, que os envolvia e fazia reluzir como uma joia em exposição. Era glorioso.
- Por aqui - disse Dominic, seguindo sem olhar para trás pela trilha que descia até o local. Eu tinha até esquecido de sua presença, coisa que infelizmente durou pouco tempo.
Segui trilha abaixo atrás dele, sendo o farfalhar da mata o único som no nosso silêncio desconfortável. A expressão no rosto de Dominic parecia ficar tensa a cada passo que nos aproximava da cidadela.
Não pude evitar de ficar tenso também. Os momentos desde a manhã de ontem começaram a repassar em minha cabeça, obtendo um novo sentido com as informações que eu agora possuía. Uma pergunta surgiu do frágil quebra-cabeças que minha mente montava e eu precisava colocá-la para fora antes que perdesse a coragem. Acho que no fundo isso já era uma desconfiança que vinha crescendo aos poucos até aquele momento.
- Eu matei alguém, não foi? - As palavras se derramaram pala minha boca antes que eu engolisse-as. - Eu fiz algo de errado quando me transformei, não é? Por isso estou sendo escoltado por você e sua mãe?!
Dominic não falhou um passo, nem sequer piscou, apenas continuou descendo a trilha como se eu nem estivesse ali.
Raiva pelas meia verdades e diálogos incompletos se juntou com a maré de desordem que minha mente tinha sido nos últimos dias. Eu estava confuso e estava cansado de estar confuso, pois isso me deixava com medo. E eu estava cansado de sentir medo.
Sempre fui do tipo de pessoa que pensa antes de agir, nunca fui temperamental (não sou idiota) pois ser comportado era o mínimo que se podia esperar do órfão esquisito. Exceto das vezes em que estava com Victor, nunca fui do tipo de se deixar levar pelas emoções. Por isso fiquei tão surpreso comigo mesmo quando, pela segunda vez em menos de dois dias, avancei com tudo para cima de Dominic.
- Me responde! - disse, com a voz carregada de uma raiva melodiosa que não parecia ser minha e as mãos em punho. Ele se virou num movimento de agilidade incrível e foi rápido o suficiente para segurar minhas mãos, mas não para impedir o impacto. Me choquei contra seu peito e ele se desequilibrou.
O mundo rodou enquanto caíamos juntos. Tudo o que via era terra, grama, céu e Dominic girando em um looping perverso capaz de deixar qualquer um enjoado. A cada volta que meu corpo dava minha cabeça sacudia ao tocar o solo, meus ouvidos doíam com o baque surdo dos impactos, minhas costas ralavam sobre o chão de terra e pedra, galhos e gramíneas grudavam em minhas roupas e cabelos enquanto Dominic e eu rolávamos trilha abaixo.
Era impossível ter qualquer controle sobre o corpo durante a queda. Comecei a sentir meus membros queimarem a cada porrada que meu corpo dava contra a terra, principalmente minhas costas.
Até que minha visão ficou roxa, antes de ficar escura, então senti os impactos diminuírem. Era difícil de raciocinar, mas percebi que isso aconteceu porque Dominic juntou nossos corpos à força colocando uma mão em volta das minhas costas e a outra na parte de trás da minha cabeça, me envolvendo num casulo de proteção.
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Lua Púrpura (Romance Gay)
Kurt AdamLobisomens são reais. Na verdade Licantropos, como preferem ser chamados. Eles vivem entre nós e se parecem conosco: amam, sofrem, superam... porém possuem sua própria sociedade, hierarquia, religião e costumes. Em dois meses, 3 adolescentes desapar...