Capítulo 2 - Primeira Vez

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Korian chegou 20 minutos atrasado para a aula de matemática. Por causa da força da batida quando atropelou ghostin, o raio e o aro frontal de sua bicicleta entortaram como macarrão cozido, então teve que ir andando e empurrando ela por todo o caminho restante.

Matemática em si já era algo do demônio não precisava de nada para ficar pior, mas nada em sua vida nunca foi fácil, então além de ter que aprender a matéria satânica eu tinha aula com o próprio Diabo. O professor em questão sempre dirigia suas frustrações para algum aluno da classe, tirando satisfação em atormenta-lo.

Antes nunca foi notado por esse e nenhum outro professor. Não conversava em aula, nunca fazia perguntas e sempre sentava no fundo; um aluno nota 7: nada de especial nem notório. No entanto, hoje ele havia sido o último aluno a entrar na sala de aula, e atrasos não eram algo que o velho e carrancudo Professor Satã, como foi carinhosamente apelidado, deixa passar batido.

A humilhação começou antes mesmo que ele pudesse se sentar em seu lugar com o professor já praticanente gritando que não tolerava atrasos e que o menino havia dormido além da hora.

- E qual o é seu nome, Bela Adormecida? - Perguntou o professor em tom de deboche.

- Korian, senhor - respondeu o menino, completamente constrangido.

- Ah então é você que tem o nome esquisito? - O velho começou, tocando em uma ferida antiga do garoto. - Nunca conseguia enxergar seu rosto quando fazia a chamada... queria que pudesse continuar assim.

Ele passou a aula inteira dirigindo perguntas para Korian e exigindo respostas, sendo extremamente rude com comentários maldosos e tentando ridicularizar ao máximo o jovem, que além de não estar acostumado com atenção no geral, possuía certa dificuldade em matemática.

"Você tem sorte de eu não ter feito você sair e entrar novamente como um ser humano normal."

"Talvez esteja na hora de cortar o cabelo, pelo visto a raiz ta se infiltrando e danificando seu cérebro."

"Cansei de ver seu rosto, vai dar uma voltinha lá no corredor e volta quando a aula terminar."

"Esse leguelhé querendo atrapalhar minha aula, tenha dó."

"Não sei por quê esperava algo, isso é comum com esse tipo de gente."

Nenhum aluno se atrevia a comentar algo durante a tortura, com medo de represálias, alguns até riam do garoto junto com o professor quando Korian gaguejava para responder. Uma série de palavrões e ofensas flutuaram por sua mente, mas não expôs nenhum deles. Em vez disso, um leve sorriso trancava seu rosto, uma defesa que ele usava como máscara, escondendo suas verdadeiras emoções atrás de uma expressão vazia. Korian teve anos depois da morte de sua mãe para aprimorar essa técnica.

Quando o sinal para a troca de aulas soou, ele saiu daquela sala de tortura procurando o significado de leguelhé, e não sorriu com o que encontrou. Estava acostumado a ser ignorado. Não que ele fosse tímido, apenas não era notado e nem fazia esforços para ser. Mas aquilo era diferente, toda a atenção da aula foi voltada para ele de maneira muito negativa. Korian sentia um aperto no peito, algo como um vazio frio o engolindo por dentro. Como a sensação já lhe era familiar, simplesmente tratou de atolar seus sentimentos no fundo de seu cerne e partiu pelo corredor da escola em direção à próxima sala de aula, que ficava no bloco D. Caminhou distraído ziguezagueando pelos longos corredores abarrotados de alunos, armários e pôsteres. Até que o viu.

Ele saía pela porta que dava para a quadra de educação física junto com outros atletas, todos usando o uniforme roxo e verde do time de futebol da escola. Seus cabelos dourados chamavam bastante atenção e Korian podia reconhecê-los facilmente, pois ele cresceu com o dono dos fios de ouro: Victor.

Lua Púrpura  (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora