Capítulo Nove

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Porto, Portugal, junho de 1955

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Porto, Portugal, junho de 1955

As amendoeiras já começavam a deixar-se adornar pelas suas delicadas flores, deixando a paisagem a pinceladas de branco imaculado. Era uma linda manhã de janeiro, com a brisa gélida a beijar as faces das pessoas que deambulavam pelas ruas da grande Porto.

Um casal caminhava por entre os inúmeros rostos desconhecidos do povo. A fadista brincava com o tecido azul marinho do seu vestido, com a ponta dos seus dedos, uma pequena mania que tinha enquanto andava com a cabeça nas nuvens.

Uma figura alta e robusta andava ao seu lado, com uma postura charmosa e elegante; trajava um fato cinza, uma gravata do mesmo tom do vestido de Leonor, um sobretudo de inverno estava pousado nos seus ombros e ainda um chapéu protegia os seus cabelos escuros.

Caminhavam de braço dado pela calçada portuguesa. Os seus semblantes estavam alegres e bem dispostos, com sorrisos desenhados nos lábios, enquanto conversavam trivialidades do dia a dia.

Diante deles, alguns meninos brincavam nas ruas aos berlindes, fazendo pequenas competições entre eles. Por vezes, sobressaltavam-se quando uma gaivota-argêntea planava sobre as suas cabeças e deixavam escapar pequenos gritinhos de susto.

O casal riu-se ao assistir aquela cena.

— Aquelas crianças fazem lembrar-me da minha infância. — O tom de voz do jornalista era meigo.

— A mim também. — Afagou o braço dele, calma. — Ainda me lembro de ter a idade deles e brincar com os meus primos, lá nas quintas do Peso da Régua. — Com isto, deu um pequeno riso.

— O que foi? — O olhar esmeralda estava curioso.

— Nada. — Abanou ligeiramente a cabeça, à medida que caminhavam pela rua. — Apenas recordei-me de uma vez ter perdido uma partida.

— E depois? — Ajeitou o seu chapéu, sem desviar o olhar da fadista. O seu olhar transparecia curiosidade.

— Bem, perdi o meu berlinde favorito, contra o meu primo João. — As bochechas dela estavam vermelhas e quentes de vergonha.

— Que tristeza. — Afonso tentava conter o riso, enquanto acarinhava os dedos dela. — Mas, recorda-te, ninguém te ganha no fado, a tua voz é linda.

— Assim eu fico sem jeito, Afonso. — Colocou as mechas de cabelo por trás da orelha.

— Só falei verdades, querida... — Antes que pudesse terminar a frase, parou o passo, com o coração a galope.

Na entrada da casa do jornalista, estavam dois sujeitos parados, de postura rígida e gélida; estavam ambos de fato e, uma viatura estava estacionada por trás deles. Um terceiro indivíduo saiu do carro, com uma pose elegante e ao mesmo tempo imponente, de rosto altivo. O olhar negro estava fixado neles, enquanto abotoava o batão do seu fato, com um sorriso malicioso desenhado nos cantos da sua boca.

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