Capítulo Onze - Parte Um

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Porto, Portugal, agosto de 1955

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Porto, Portugal, agosto de 1955

A xícara de chá fumegava, aquecendo as pontas dos dedos gélidos da fadista. Estava à janela, no seu lugar preferido de toda a casa, recebendo o calor no seu rosto. Era uma linda manhã de verão, com o sol a brilhar desde as seis horas.

Os seus olhos estavam perdidos na paisagem, enquanto levava aos seus lábios a doce bebida e degustava calmamente. Observava o ardina na sua nova bicicleta, a entregar os jornais à vizinhança, observava as crianças a brincar na rua, alegres e brincalhões, e observava os adultos, apressados para os seus trabalhos.

No entanto, a sua cabeça viajava nos seus pensamentos. Imagens do interrogatório, dos olhares de Ernesto, da Luísa a ser levada, tudo atravessava na sua mente. Havia passado quase duas semanas desde aquele dia. Mas, o seu coração estava inquieto.

— Bom dia, minha filha. — Uma voz masculina surgiu por trás de si, calma.

Leonor ergueu aos poucos o rosto em direção das palavras e um sorriso desenhou-se nos seus lábios rosados.

— Bom dia, papá. — Pousou a sua xícara na mesa de apoio, ajeitando a sua postura na poltrona. — Tudo bem consigo?

— Sim, claro querida. — Sentou-se ao seu lado, com um jornal nas suas mãos.

No cabeçalho, letras a negro estavam gravadas no papel branco como a neve: "O Comércio do Porto". Era a edição de segunda-feira, daquela manhã. O olhar escuro deslizava pelas palavras das notícias, enquanto a jovem retornava ao seu chá.

— E contigo? — Abriu o jornal, passando os olhos pelos títulos daquele dia.

— Acho que... — Não desviou o olhar da janela, com as palavras hesitantes. — Tudo bem.

O pai levantou o rosto, analisando cada pormenor da expressão da filha. Ficou assim por longos segundos e, de seguida, fechou o jornal.

— Sabes o que eu acho? — Rodou o corpo na sua direção. — Que não está tudo bem.

Leonor suspirou e encarou-o, sem mais forças para esconder.

— Eu... — Pousou de novo a xícara e pousou as mãos no colo, brincando com a ponta dos seus dedos. — Eu estou num dilema, meu pai, desde há quatro anos.

Ele assentiu a cabeça lentamente, enquanto absorvia as suas palavras.

— Gostavas de falar do assunto?

— Sim, meu pai, sim. — Um sorriso triste esboçou-se nos cantos da sua boca. — Eu já não consigo lidar com este fardo sozinha.

— O que aflige o teu coração?

— Tudo.

O olhar da mesma cor dos olhos de Leonor arregalaram-se. Esta suspirou de novo e pegou num envelope pousado por cima da mesa, estendendo-lhe.

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