Capítulo Dez

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Porto, Portugal, julho de 1955

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Porto, Portugal, julho de 1955

Som de saltos altos ecoavam pelo corredor escuro e frio, acompanhado por passos firmes e largos. Eram três vultos: o da frente mais pequeno, rodeado por dois altos e robustos, com um andar quase mecânico.

Ouviu-se o girar de uma maçaneta e o ranger agudo de uma porta. O olhar cor chocolate ficou arregalado pela visão que surgiu para lá da entrada: próximo da completa escuridão.

— Entre e aguarde. — Uma voz ríspida soou por trás de si.

Sem pensar duas vezes, obedeceu às ordens do agente. Um passo... Dois passos... E a porta fechou. Olhou bruscamente para trás, em direção ao som. Aparentemente, ela era a única vivalma presente naquela divisão.

Começou aos poucos a analisar cada pormenor do espaço, enquanto tentava acalmar a sua respiração rápida e o seu coração. Estava num pequeno gabinete, quase na ausência de luz. As persianas estavam fechadas, atravessando por elas apenas pequenos raios do sol de verão. O ambiente era cinzento e caustico. Na mesa de escritório estavam pilhas e pilhas de papéis, todos com um símbolo bastante familiar para ela: Polícia Internacional e de Defesa do Estado, ou mais conhecida como, PIDE.

— O que achas do meu cantinho? — As palavras surgiram detrás do seu ouvido, num tom irónico. — Acolhedor, não achas?

O rosto dela rodou e o seu olhar cruzou-se com os olhos negros como a noite. Ali estava ele, bem aprumado e trajado, com um dos seus fatos. A pouca luz existente iluminava a sua pele clara e os fios dourados dos seus cabelos.

— Continuo a preferir o teu antigo ateliê de pintura. — A sua expressão não mostrava qualquer mudança de emoções, transparecia calma desde a sua postura à sua escolha de palavras. — Ainda te lembras dele? Da época que eras o doce rapaz que estudava belas artes?

O olhar negro manteve-se gélido.

— São águas passadas, minha cara. — O sorriso típico desenhou-se na curva dos seus lábios. — Ótimas recordações, de facto, no entanto...

Começou a caminhar em direção à escrivaninha. Os seus passos largos eram o único ruído que pairava naquele gabinete. O clima entre eles era de cortar à faca.

— Não é o assunto que iremos discutir hoje, como sabes.

— Claro que sei.

— Ótimo. — Abotoou o seu fato e, de seguida, estendeu a mão. — Pode se sentar.

Leonor acatou o seu pedido, sem desviar o olhar dos olhos negros. O silêncio reinou entre ambos por longos momentos, até que Ernesto decidiu folhear algumas páginas de um documento.

— Iremos começar o interrogatório. — Pegou numa caneta aparo. — Diga-me, qual é o seu nome completo?

— Leonor Margarida de Oliveira.

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