Epílogo

26 5 6
                                    

O olhar azulado de Maria do Céu estava espantado com as cartas que acabara de ler

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O olhar azulado de Maria do Céu estava espantado com as cartas que acabara de ler. Os desencontros... Os amores... A fuga... Tudo. Ela estava fascinada, estava sem palavras.

Aos poucos, começou a desviar o olhar das letras perfeitamente caligrafadas no papel amarelado, ainda absorta naquela estória, perdida naquele romance epistolar. ninguém estava ainda em casa, nenhum ruído pairava no ar, além do bater do seu coração e a sua respiração calma que entrava e saía dos seus pulmões. A paz reinava naquele lar.

Até que, algo captou a atenção ao olhar doce da morena, à medida que baixava as mãos que agarravam aquela carta. Era um pequeno objeto escondido no fundo daquela antiga caixa repleta de memórias.

Era um velho envelope, amarelado nos cantos por conta das décadas que haviam se passado. Tinha um selo diferente de todos os que tinha visto até àquele momento. No entanto, os olhos claros como o céu logo reconheceu a elegância da caligrafia daquelas palavras que lhe era tão familiar.

Delicadamente, dobrou o papel que tinha nas suas mãos e pousou-a ao seu lado, no sofá. De seguida, sem pensar duas vezes e com a curiosidade a florescer no seu coração, pegou naquele envelope e decifrou as palavras gravadas a negro. Era da sua tão amada avó Leonor, datada poucos anos depois da carta que havia lido anteriormente.

Devagar e com calma, abriu o envelope e retirou aos poucos as várias folhas da carta. Os seus olhos brilhavam de felicidade ao mesmo tempo que deslizavam pelas letras, a viverem as palavras:

Londres, novembro de 1962

Querido Afonso,

Escrevo-te em plena madrugada. O nosso filho acordou-me irrequieto e cheio de energia, dando pequenos pontapés dentro da barriga. Acalmou-se só agora, quando decidi ir sentar-me perto da janela e apreciar a paisagem noturna. Parece que o nosso pequeno também gosta de observar as estrelas, tal como a sua mãe.

Estive com o olhar perdido no céu negro adornado por estrelas. Londres também cintilava, com as suas pequenas estrelas terrestres, as luzes da cidade. Momentos raros como aquele fazem-me viajar no tempo, na época em que demos o nosso primeiro beijo, na ponte D. Luís, com a paisagem do nosso tão amado Porto a envolver-nos. Já lá vão mais de dez anos mas... Lembro-me daquele cenário de conto de fadas como se tivesse acontecido ontem.

O teu olhar reluzente da cor da mais preciosa esmeralda mergulhado no meu, com ternura e paixão pintados nele. Aquele foi um dos dias mais felizes da minha vida, quando a nossa história de amor começou.

Nunca pensei que fôssemos enfrentar tantos obstáculos e tantas provações, nunca. Houve dias em que parecia que estávamos num navio no meio da tempestade, a sermos levados pelas fortes ondas do mar, sem rumo.

No entanto... Sempre dizem-nos desde crianças que depois da tempestade vinha a bonança. E eu não podia estar mais do que de acordo. Depois de quatro anos com o coração na mão dia após dia, noite após noite, finalmente, daquela manhã de final de verão, o meu coração ficou em paz. A tempestade tinha cessado e o sol brilhou nas nossas vidas.

FadistaOnde histórias criam vida. Descubra agora