Play Dolls

8. Lei da gravidade

Após um pouco mais de meia hora dirigindo por estrada tortuosa  sem asfaltamento, eu finalmente cheguei ao lago onde o corpo da Sophia havia sido encontrado há quase um ano. O ar gélido e macabro me fazia pensar se era um local que eu acamparia quando mais nova, assim como os adolescentes tentaram fazer ao encontrar o cadáver.
Peguei minha maleta no banco do passageiro e caminhei dentre as árvores até a água, nada ali aparentava ter tido um crime, de acordo com os relatório, foi um local apenas de desova, nenhum rastro ou indícios de luta corporal. Era absolutamente o nada.

Caminhei por todo o perímetro do lado, observando atentamente as raízes longas das árvores, as folhas que cobriam o chão por completo, as pedrinhas que formavam uma praia diferente, até mesmo o som dos pássaros que vez ou outra me assustavam com gritos esganiçados.

Meu celular tocou alertando uma mensagem, li rapidamente a pergunta do Greg e logo disquei seu número para respondê-lo por chamada.

- Consegui a autorização. - Eu não precisava explicar, ele já sabia. Seus suspiro do outro lado apenas me dava a certeza que ele não estava muito contente. - Talvez eu tenha subestimado o turno do dia.

- Não tem nada?

- É como se ninguém nunca tivesse colocado os pés por aqui. - Outro suspiro soou, dessa vez junto ao meu.

- Acho melhor você voltar.

- Talvez seja mesmo. - Encarei uma pedra grande em minha frente, ela era enorme e de cima daria uma vista muito boa da maior parte do lado. - Vou juntar minhas coisas e sigo para o departamento.

- Estou te aguardando, Ma Blonde!

Após desligar o telefone, eu apenas joguei de qualquer jeito no bolso da calça e dei a volta na pedra procurando um lugar bom para escalar. Agradeci a mim mesma por ter vindo de coturno, a rocha estava levemente escorregadia podendo gerar algum acidente nada bom.
Suspirei ao chegar no topo, admirando o horizonte recheado por árvores gigantescas, o lago lá embaixo era até atrativo e eu pensaria em mergulhar no mesmo se a imagem da minha genitora sendo retirada dali não borbulhasse meus pensamentos.

- Caralho! - Sentei com as costas apoiada em um tronco que lutava por espaço com a pedra. Uma brisa forte balançou meus cabelos e uma ideia louca surgiu.  - Sophia, você sempre gostou de ser o centro das atenções, então se estiver por aí, me ajuda a encontrar o desgraçado que te matou. Tenho certeza que isso ficaria dias nas capas dos jornais como destaque.

Ao me levantar bruscamente fui atingida na cabeça por algo duro, peguei no chão notando que era apenas uma pinha grande demais, olhei para a árvore que antes eu estava sentada embaixo notando que não tinha mais nenhuma que me machucasse, porém algo me chamou atenção.

- Não sei se devo agradecer a Isaac Newton ou a você, Davillier.

Escalando com um pouco de dificuldade, consegui alcançar o tecido azul preso em um dos galhos, aquilo poderia significar absolutamente nada, mas eu sentia que me tiraria da estaca zero da investigação. Após três fotos tiradas com meu celular, coloquei a evidencia em um pacote apropriado e logo desci da árvore. Eu analisaria cada molécula daquele vestígio assim que chegasse ao departamento, então corri para o carro com minha maleta e manobrei para sair daquele filme de terror.

🩸👧🏻🩸

Nick estava deitado em meu sofá com o notebook no colo, já eu estava jogada no tapete escutando as músicas que ele colocava para tocar, estávamos tentando decidir qual música eu entraria no casamento.
Após uma quase desistência de achar uma que combinasse com minha história junto ao Sanders, Stokes tomou a frente para me ajudar, de acordo com sua fala, ele seria minha dama de honra assim como o padrinho do Greg.

- Que tal essa? - Acordes country soaram me fazendo rir.

- Definitivamente não! Eu não vou casar em uma fazenda, Stokes!

- Você é difícil de agradar.

- Que mentira! Nunca te vi tendo dificuldades. - Sorri sacana em sua direção o fazendo corar. - Eu posso entrar com a abertura de Harry Potter.

- Voce não é uma bruxa, Lottie!

- A frase está totalmente contrária ao livro. - Bufei me deitando novamente no tapete. - Não tem música no mundo que conte a história de dois inimigos que se apaixonaram.

- Tem bilhões de músicas, você quem renega todas.

- Coloca a próxima!

- Você não tem nem internet mais para isso. - Arqueei uma sobrancelha o vendo rir, em seguida a nova música soava.

Os momentos com o Stokes na maioria das vezes eram assim, de forma descontraída mesmo que o mundo ao meu redor desabasse, ele sempre estava tentando ver o lado bom dos acontecimentos, mesmo que fossem pouquíssimos.
Meu celular tocou, encarei o Nick que estava mais próximo do aparelho e fiz um bico em sua direção, o texano apenas esticou a mão já atendendo e colocando no viva voz.

- Lottie? - Era a Catherine.

- Pode falar! - Elevei a voz por estar longe do microfone.

- Saiu o resultado do vestígio encontrado na cena do crime. - Me levantei bruscamente ficando ereta rápido demais.

- São notícias boas ou ruins?

- Você quem vai decidir isso. - O olhar preocupado do Nick ponderou sobre mim. - O tecido é compatível com o mesmo usando no fardamento da polícia de Nevada.

- Como é que é?

- É alguém de dentro? - Nick soou confuso.

- Se realmente for do assassino, estamos atrás de alguém da polícia.

- Putain de Merde!

- Nick, cuide dela!

- Pode deixar...

A ligação foi encerrada, minha mente borbulhava com diversas teorias. Era algum colega de profissão e eu jamais pensaria em alguém próximo, ninguém se passava como suspeito, até agora.

- Lottie?

- Sim? - Eu havia voltado a me deitar, dessa vez encarando o teto.

- No que você está pensando?

- Essa música é boa! Acho que vou escolher ela.

- Você sabe que não estou falando disso...

- Está decidido! Vai ser essa! - Ignorei sua careta ao me levantar e seguir para a cozinha. - O Greg vai pirar quando ouvir.

- Beaumont! - Stokes me segurou pelo ombro obrigando que eu o encarasse. - O que você está fazendo?

- Tentando não pensar que alguém ao meu lado quer me matar.

- Precisamos investigar pessoas que não gostam de você. Antes pensávamos em um criminoso, agora...

- Nick, eu sempre fui amada no departamento, não tem sequer uma pessoa que pareça suspeito.

- Vamos ter que pensar melhor sobre isso.

- Eu sei, mas agora não. Quero me focar no meu casamento.

- Certo! Vamos escolher outra música, dessa vez a entrada das alianças.

- Okay.