Maria Cecília
A voz do João Lucas, meu pequeno, me acordou, mas decidi continuar de olhos fechados. Ele chamou novamente, desta vez com um "Manhé!" carinhoso, passando seus dedinhos na minha bochecha e subindo rapidamente até meu nariz. Sorri pelo gesto afetuoso, mas de repente, ele enfiou um dedo no meu olho.— Aí, João Lucas! — peguei no braço do menino por impulso e abri um dos meus olhos, já que o outro estava ardendo. Ele, achando diversão da situação, começou a rir. — O que foi, meu filho? Ainda é cedo.
— A gente vai pra praia que horas? — sorri para ele e puxei para um abraço.
— Cê tá ansioso para ir à praia, né? — ele balançou a cabeça sorrindo e me olhou. — Sim, vamos, mas ainda tá cedo. Sabe que horas são? — peguei meu celular e chequei a hora: seis e meia.
— Hum, são quarenta pra as dez. — disse com uma voz carinhosa enquanto se aconchegava entre meus braços.
Dei uma risada e virei para João Lucas, dando vários beijinhos no rosto dele, que riu e fechou os olhinhos.
— Sabe o que me deu vontade de fazer? — João Lucas abriu os olhos e sorriu, negando com a cabeça. — Encher você de cócegas por ter quase cegado a mamãe agora há pouco.
Abri meu olho machucado devagarinho. Estava vendo tudo embaçado, mas fui piscando várias vezes até a visão voltar ao normal.
— Desculpa, mamãe. Você não acordava. — cutuquei as costelas de Lucas e ele riu.
Me sentei na cama e peguei o celular pra ver se tinha alguma mensagem importante. Nada demais.
Joguei o celular de lado e olhei pro João Lucas. Ele já tava me encarando. Pisquei pra ele e ele deu um sorriso sapeca.
— Já que você resolveu acordar a mamãe a essa hora, que tal fazermos um café bem gostoso? — falei enquanto prendia o cabelo. João Lucas concordou com a cabeça, coçando os olhos. — Não vou te deixar dormir de novo, não. — puxei as pernas dele e ele começou a rir enquanto eu fazia cócegas até ele pedir pra parar.
— Mamãe, vou morrer sem ar! — ele continuava rindo. Dei um beijo na bochecha dele. — Vamos tomar banho? Hoje tá quentão!
Fiquei surpresa com a gíria que meu filho de quatro anos tinha acabado de soltar, mas não falei nada. Fui até o banheiro e coloquei a água gelada.
— Vai tomar banho sozinho ou quer que a mamãe te ajude? — Lucas balançou a cabeça dizendo que ia sozinho e começou a pular e gritar de animação. — Só não esquece de tomar cuidado, viu? Se precisar de algo, grita por mim.
Esperei ele entrar no banho antes de ir pra cozinha, mas na verdade, ele me expulsou de lá.
(...)
— João Lucas! Você ainda não saiu do banheiro? — gritei, e ele respondeu gritando que sim, mas que estava puxando a água do banheiro. Quando foi que esse moleque começou a crescer? — o rodo é maior que você, João Lucas. Ele vai cair na sua cabeça e você vai se machucar. — gritei de novo, mas dessa vez não teve resposta. Peguei meu café, meu pãozinho que esquentei na frigideira, e sentei no sofá, abrindo o tiktok.
Passou um tempinho e João Lucas apareceu na sala.
— Mamãe, olha isso. — ele se referia à roupa dele. Comecei a rir do estilo Agostinho Carrara que João Lucas estava adotando. Ele estava com uma blusa laranja estampada de dinossauros, um short de praia azul-marinho com uma estampa de pintura, e uma botina de vaqueiro que não combinava em nada.
— Pra onde você vai assim? — parei de rir, mas continuei sorrindo pro meu pequeno. Ele olhou pra roupa e depois pra mim. — Se você quer ir pra praia desse jeito, eu finjo que não te conheço!
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Kairós
RandomTudo tem seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu; Vivemos pelo Kairós.