Roberta
Segunda-feira o salão não abre. Nosso dia de folga. Como eu tava de bobeira em casa, sem nada pra fazer, decidi tirar um peso da minha consciência.Pensaram na piranha que eu cobri de porrada sábado, né! Mas não é ela, não.
E, ah. Eu vou deixar uma coisa clara aqui: não sou de brigar, até porque acho isso bem coisa de fubanga. Mas porra, ela mereceu.
Não sou essas que fica peitando ninguém nem ameaçando de bater. Juro, sou bem da rivotril. Mas é porque a Ayla, eu já tava acumulando e acumulando a um tempinho.
Enfim, eu ia me resolver com o Luiz. Já que pra mim, as palavras ditas não foram as melhores.
Coloquei um vestidinho de crochê rosinha quase branco. Quem vê pensa.
Fui à casa dele porque sabia que ele tava de folga hoje, depois do plantão que fez ontem. Reis me avisou.
Demorei duas horas para chegar lá, mesmo que a pé fossem apenas 30 minutos. Isso porque parei para fofocar em cada esquina onde encontrava alguém conhecido. Quando finalmente cheguei, já eram vinte para as três da tarde.
Bati palmas e chamei por Luiz. Respirei fundo, pois ninguém respondia.
Depois de gritar mais duas vezes e quase considerar tacar uma pedra na janela, finalmente ouvi passos em direção à porta.
Luiz abriu a porta e seu sorriso fez meu coração saltar no peito. Ele tava lindo, com o cabelo levemente molhado, apenas de short preto e com uma toalha no ombro. O tanquinho dele era tão definido que parecia até pra lavar roupa. Af, que homem maravilhoso!
— Roberta! — ele disse, com surpresa na voz. — Não esperava te ver aqui.
— Pois é, nem eu. Mas eu precisava conversar contigo sobre o que aconteceu.
Ele assentiu e deu um passo pro lado, me convidando a entrar. A casa tinha um aroma acolhedor, uma mistura de café recém-passado com algo mais que eu não consegui identificar, mas que me fazia sentir estranhamente à vontade. Luiz me guiou até a sala, e nos sentamos no sofá-cama, mais próximos do que eu esperava.
— Eu sinto muito, Luiz — comecei, falando com sinceridade. — Não queria que nossa conversa terminasse daquela forma. Fui impulsiva e disse coisas que não deveria.
Ele me olhou com uma intensidade que me fez desviar o olhar por um momento.
— Roberta, todos nós temos nossos momentos. Eu também não fui justo contigo.
Senti o calor subir ao rosto e percebi que meus dedos tremiam levemente ao cruzar as mãos no colo. — Mas eu me arrependo, de verdade. Não quero que as coisas fiquem assim entre a gente por causa de uma mulher louca.
Ele estendeu a mão e cobriu a minha. Seu toque foi firme, mas gentil, que me fez olhar nos seus olhos novamente. — Roberta, a última coisa que eu quero é que a gente de afaste por causa de uma briga que eu não tive nada a ver. Mas tá ligada que eu devia ter dar um sacode pra tu ficar esperta e não ir pras ideia.
Por um instante, o silêncio se fez entre nós, mas não era desconfortável. Pelo contrário, parecia que a gente tava nos comunicando de uma maneira que as palavras não podiam alcançar. Tinha algo diferente no ar.
Período fértil, né bebê. A gente sente o que não deveria sentir.
— Pra mim, nossa última conversa não teve nada demais. Mas, já que você não ficou bem com isso, que tal esquecer isso tudo? — Luiz sugeriu, com um sorriso que parecia prometer que tudo ficaria bem. — E sem neurose, você, em.
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Kairós
DiversosTudo tem seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu; Vivemos pelo Kairós.