três

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Roberta
Acordei com o celular despertando. Olhei no visor, cinco e meia da manhã.

Sentei na cama e tava criando coragem pra ir pro banho. Maior vontade de não ir hoje pro trabalho.

Trabalho em salão na via Ápia. Sou uma faz tudo: sei arrumar cabelo, unha da mão e do pé, faço cílios, sobrancelha...

E hoje é dia de baile. As meninas descem pra pista pra fazer cabelo lá, já que salão em cima do morro é lotado de gente. Já imagina como vai tá, né? Pique formigueiro.

Irmão, eu ganho um dinheirinho maneiro quando o salão tá cheio, mas sei lá, maior preguiça de ir hoje.

Deitei na cama de novo e fiquei olhando pro teto, quando alguém me gritou na porta. Porra, cinco e pouco da manhã? Me levantei e abri a janela pra curiar, era a capeta da Beatriz. Ela me olhou na janela e sorriu.

- Abre aqui, ou! - abri a porta com um ódio e Beatriz já começou a xaropar. - Já é dez pras seis! Você com certeza não tomou banho e ainda tá de pijama! Roberta, hoje é dia de baile e eu preciso de você lá no salão.

- Tava até pensando em não ir. Papo reto. - Beatriz balançou a cabeça e colocou a mão na cintura. - Qual é! Tô com preguiça, pô.

- Ah, é? Então fico aqui com você! Eu que não fico sozinha com aquelas duas lá, não! Vai que sei lá, elas me matam - balancei a cabeça rindo e Bia riu também. - Ayla e Larissa? Deus me livre!

Olhei pra Beatriz e ela realmente tava com cara de que não ia se eu não fosse. E a mina precisa do dinheiro do salão.

Ela paga o aluguel da mãe que mora em São Conrado. Porra, lá o bagulho é caro! E Beatriz chegou a me falar que o aluguel tá atrasado dois meses e a moça já tá cobrando ela.

Respirei fundo e fui pra cozinha colocar água no fogo.

- Vou me arrumar, tempo de você passar um cafézinho. - olhei pra Bia que tava com um sorriso de orelha a orelha.

(...)

A gente já tava no caminho do salão. Daí, acabamos esbarrando com GK que ia subindo o morro a pé.

- Uma hora dessa e já vão pro corre? - ele cumprimentou a gente com um abraço.

- Ganhar dinheiro pro sustento né. Obriguei essa daqui pra ficar comigo e ganhar uns extras pro aluguel. - ela agarrou no meu braço e deitou a cabeça no meu ombro. GK franziu a testa e balançou a cabeça cruzando os braços.

- Mas vocês ganha mil, não é não? E hoje em dia de baile, vão ganhar mais. Por que esse dinheiro todo vai pro aluguel? - GK perguntou, curioso.

- Porque tem o meu e o da minha mãe. Porra, casa em São Conrado tá cara, tá!

- E tu paga o aluguel da tua mãe? - GK olhou pra Bia e a mesma concordou com a cabeça. - Mas assim tu fica sem renda. Faz o seguinte, manda ela colar aqui. Aí, troco uma ideia com ela. Bagulho fica bom, Beatriz. É só confiar em mim. Hoje é sábado, né? Terça leva ela lá no Q.G.

Beatriz pelejou, mas no fim disse que ia conversar com a mãe dela. Ficamos ali jogando conversa fora, nem vimos o tempo passar. Perdemos a hora e quando percebemos, tivemos que nos despedir de GK na pressa e descer o morro correndo.

(...)

Chegamos no salão era sete horas. Já tinha uma fila de cliente do lado de fora.

Ayla e Larissa foram chegar era onze e meia! E olha que hoje a gente fecha mais cedo, porque é sábado.

As duas estavam maquiadas e arrumadas. Mas uma hora daquelas com uma maquiagem pesada de festa, pareciam duas palhaças.

Olhei pra Bia que tava no caixa. Parei de lavar o cabelo de uma cliente e fiquei olhando pras convencidas. Cai na gargalhada e Bia também. As meninas se entreolharam.

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