Prólogo

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Eda Yildiz

O som dos carros transitando e as luzes da cidade mostravam a realidade da capital e a escuridão que a noite nela proporcionava. A luz alva da lua cheia adentrava o meu apartamento por entre as frestas das cortinas. A noite estava perfeita. As estrelas brilhavam no céu escuro com uma beleza invejável, assim como as incertezas em meu peito que insistiam para serem externadas.

A campainha soou pelo apartamento.

Coloquei a travessa de comida sobre o balcão e caminhei até a porta.

Um sorriso bobo surgiu em meus lábios no instante em que meu olhar chocou-se com a imagem masculina parada diante de mim. Serkan segurava um buquê colorido entre as mãos e o estendeu na minha direção com carinho. O aroma das rosas invadiu minhas narinas, inebriando meus sentidos, enquanto meus olhos viajavam pelo corpo dele, atentamente. A roupa elegante e monocromática escura caia nele como uma luva. A beleza realçava-se na vibe de retorno do trabalho com a blusa social de algodão marcando-o impecavelmente.

— Você está linda, Eda Yildiz! — Serkan se inclinou em minha direção e tocou meus lábios em um beijo rápido — Você é a mulher mais bonita que já vi em toda a minha vida.

Senti o meu rosto esquentar e o puxei para mais perto com a mão livre. Ele passou os braços ao meu redor e envolveu-me um afago, deslizando os dedos pelo tecido do meu vestido.

Descansei a cabeça no seu ombro e inalei o seu perfume amadeirado de sua pele. A mistura de odores era prazerosa. As notas do perfume se mesclavam com o cheiro dos temperos da comida pronta para o jantar.

Enquanto, o meu corpo estava trêmulo, por conta da ansiedade, Serkan parecia relaxado. Durante dez meses de relacionamento, o envolvimento às escondidas tornou-se comum. Jantares caseiros, rotineiros. Saídas em público, controladas. As lembranças do nosso primeiro encontro voltavam à minha mente. Toda a animação para ir ao cinema com ele dissipou-se diante dos obstáculos colocados, como um balde de água fria. Assistir filmes via streaming, como ele sugeria, não passava o mesmo entusiasmo e isso era óbvio. Mas o costume converteu-se em uma realidade e a nossa relação seguia assim.

— Como está o projeto em que estava trabalhando? — perguntei — O da casa de três andares.

Entrelacei minha mão na dele e o conduzi até a mesa de jantar posta ao de o balcão.

— Terminamos. Surgiram alguns problemas elétricos e estruturais no último piso, mas nós resolvemos dentro do prazo e fizemos como os donos desejavam — contou Serkan, animado, sentando-se e, juntos,  começamos a nos servir — A casa ficou maravilhosa. Você tinha que ver.

Levei a taça aos lábios e beberiquei meu Pinot Noir frutado, calada.

A paixão dominava a voz dele sempre que os assuntos referentes ao seu trabalho entravam em pauta e isso era notório. Serkan parecia nas nuvens falando sobre seus projetos de arquitetura. Contando as entregas bem-sucedidas e as dores de cabeça durante as reformas com a mesma animação. Porém, não me passava um sentimento completo de felicidade e pertencimento. Havia momentos divertidos acompanhado de taças de vinho e alguns arquitetos amigos dele em encontros fechados e domiciliares. Nunca família. E isso era intrigante e desconfortável em diversas situações.

O que era um tanto sufocante para mim, ter cautela em mil e um assuntos por não poder tocar no assunto família e vê-lo fugir dele com alguma distração. Seja um elogio, seja um beijo.

— E o seu dia? Como está lá no hospital? — Serkan perguntou, educado.

— Está bem tranquilo, mas a época de loucura na emergência é daqui a duas semanas pelas festas de fim de ano.

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