Capítulo Vinte e Dois

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Serkan Bolat

A madrugada longa parecia não ter fim.

A dor em minhas costas persistia desde o raiar do sol. A noite no sofá não foi das melhores. Ele não era um dos mais confortáveis para pernoitar nem o mais sábio para me ajudar a encontrar soluções para os problemas que Kaan me causava.

Passei uma das mãos pelo rosto e suspirei, cansado.

Minhas pálpebras pesavam sonolentas e lutavam para se manterem abertas a cada gole de café amargo que abraçava minha língua.

Espiei a tela do telefone.

O relógio marcava um pouco mais de sete horas da manhã. Abri um sorriso. A data de hoje brilhava no canto superior da tela e fazia meu coração acelerar dentro do peito.

Afastei os fios de cabelo dos meus olhos e me apressei em preparar o café da manhã em uma bandeja bonita. Era um dia especial e não poderia deixar passar em branco. Cada detalhe era importante.

Minhas mãos trabalhavam o mais ágil que meu corpo sonolento conseguia acompanhar, movendo-se entre a bancada, a geladeira e o fogão.

Parei e analisei a bandeja quase pronta com atenção.

Tudo parecia no lugar.

O cheiro do café quente, forte e amargo preenchia a cozinha. As frutas separadas em pequenos cubos ocupavam boa parte da bandeja, junto com o sanduíche de queijo que brincávamos ser minha especialidade de café da manhã. A pequena surpresa estava escondida no canto, embalada em uma bela caixinha decorada.

Meu coração acelerou. O suor acumulava em minhas mãos nervosas.

Já não era cedo demais e, apesar de saber que Eda passou parte da noite indo e vindo do quarto de hóspedes, não sabia se deveria acordá-la.

Respirei fundo.

Talvez eu estivesse me precipitando e até esse pequeno gesto fosse demais. Invasivo demais. Metido demais.

Limpei minhas mãos na calça de dormir e segui pelo corredor com a bandeja em mãos. O frio tomava meu estômago, secando minha boca e acelerando ainda mais as batidas do meu coração.

Por que eu estava tão nervoso? Era Eda. A minha Eda.

Parei diante da porta do meu quarto, bati de leve na porta e chamei seu nome com carinho.

-Eda?

Sem resposta. Chamei-a mais uma vez e nada.

Reuni coragem e, equilibrando a bandeja, girei a maçaneta.

A pouca luz no quarto vinha dos pequenos raios de sol que se infiltraram pela cortina. O ar gélido me acertou em cheio. Senti os pelos do meu corpo se arrepiarem e caminhei até a cama, apoiando a bandeja na mesinha de cabeceira.

O sono terno de Eda ficava evidente pelo ritmo lento da respiração dela e pela expressão delicada em seu rosto. Seu peito subia e descia devagar.

Suspirei admirado.

Os cabelos escuros estavam espalhados pelo travesseiro em belas ondas desenhadas sobre a fronha macia. O lençol a abraçava e a confortava, enquanto o moletom a aquecia, afastando o frio do ar condicionado

Sentei-me na beirada da cama e afastei uma madeixa escura do rosto dela.

Ela era tão linda.

Eda se mexeu agarrando o lenço mais perto. Controlei o riso ao lembrar das manias dela durante o sono. Aproximar o lençol e esconder o rosto nele, deixando seu perfume por todo o tecido.

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