Serkan Bolat
A madrugada longa parecia não ter fim.
A dor em minhas costas persistia desde o raiar do sol. A noite no sofá não foi das melhores. Ele não era um dos mais confortáveis para pernoitar nem o mais sábio para me ajudar a encontrar soluções para os problemas que Kaan me causava.
Passei uma das mãos pelo rosto e suspirei, cansado.
Minhas pálpebras pesavam sonolentas e lutavam para se manterem abertas a cada gole de café amargo que abraçava minha língua.
Espiei a tela do telefone.
O relógio marcava um pouco mais de sete horas da manhã. Abri um sorriso. A data de hoje brilhava no canto superior da tela e fazia meu coração acelerar dentro do peito.
Afastei os fios de cabelo dos meus olhos e me apressei em preparar o café da manhã em uma bandeja bonita. Era um dia especial e não poderia deixar passar em branco. Cada detalhe era importante.
Minhas mãos trabalhavam o mais ágil que meu corpo sonolento conseguia acompanhar, movendo-se entre a bancada, a geladeira e o fogão.
Parei e analisei a bandeja quase pronta com atenção.
Tudo parecia no lugar.
O cheiro do café quente, forte e amargo preenchia a cozinha. As frutas separadas em pequenos cubos ocupavam boa parte da bandeja, junto com o sanduíche de queijo que brincávamos ser minha especialidade de café da manhã. A pequena surpresa estava escondida no canto, embalada em uma bela caixinha decorada.
Meu coração acelerou. O suor acumulava em minhas mãos nervosas.
Já não era cedo demais e, apesar de saber que Eda passou parte da noite indo e vindo do quarto de hóspedes, não sabia se deveria acordá-la.
Respirei fundo.
Talvez eu estivesse me precipitando e até esse pequeno gesto fosse demais. Invasivo demais. Metido demais.
Limpei minhas mãos na calça de dormir e segui pelo corredor com a bandeja em mãos. O frio tomava meu estômago, secando minha boca e acelerando ainda mais as batidas do meu coração.
Por que eu estava tão nervoso? Era Eda. A minha Eda.
Parei diante da porta do meu quarto, bati de leve na porta e chamei seu nome com carinho.
-Eda?
Sem resposta. Chamei-a mais uma vez e nada.
Reuni coragem e, equilibrando a bandeja, girei a maçaneta.
A pouca luz no quarto vinha dos pequenos raios de sol que se infiltraram pela cortina. O ar gélido me acertou em cheio. Senti os pelos do meu corpo se arrepiarem e caminhei até a cama, apoiando a bandeja na mesinha de cabeceira.
O sono terno de Eda ficava evidente pelo ritmo lento da respiração dela e pela expressão delicada em seu rosto. Seu peito subia e descia devagar.
Suspirei admirado.
Os cabelos escuros estavam espalhados pelo travesseiro em belas ondas desenhadas sobre a fronha macia. O lençol a abraçava e a confortava, enquanto o moletom a aquecia, afastando o frio do ar condicionado
Sentei-me na beirada da cama e afastei uma madeixa escura do rosto dela.
Ela era tão linda.
Eda se mexeu agarrando o lenço mais perto. Controlei o riso ao lembrar das manias dela durante o sono. Aproximar o lençol e esconder o rosto nele, deixando seu perfume por todo o tecido.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Reticências
De Todo"Em qual momento, ao longo da vida, devemos por um ponto final? Em quais, uma simples reticências já seria o suficiente? Desconhecidos diante de todos. Amantes às escondidas. Um amor desgastado por tantas despedidas é levado ao limite. Apreensiva pe...