Capítulo Quatorze

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Serkan Bolat

Digitei as medidas das plantas, concentrado, esperando-a ser moldada no sistema. A casa em 3D dos clientes tomava forma a cada "enter" e a cada número incluído corretamente.

Franzi o cenho, confuso.

O lavabo parecia menor do que havia gravado em minha mente, baseado na proporção dos demais cômodos.

Estiquei-me sobre a cama para alcançar o telefone. As fotos dos esboços iniciais e todas as medidas anotados e revisadas ocupavam minha galeria em uma pasta exclusiva para os Hilmer.

Meu braço parou no meio do caminho e um urro de dor escapou por entre meus lábios. Tentei respirar, mas o ar tinha dificuldade de seguir para dentro dos pulmões e a dor que irradiava pelo meu corpo ficava cada vez mais insuportável.

Aos poucos e com a ajuda de alguns analgésicos, as dores diminuiram e as manchas arroxeadas ficavam mais escuras. Mas nada convencia Engin de que eu poderia voltar ao trabalho. Eu não precisava dessas férias forçadas que ele me obrigou a tirar desde que minha família chegou a cidade.

Eu precisava ocupar a cabeça. Distrair-me. O trabalho servia muito bem para isso.

Há poucos dias eu havia recebido alta do hospital e, por mais que eu adorasse passar um tempo com minha família, trabalhar me ajudava a colocar a cabeça no lugar. Eu tentava controlar cada emoção em meu corpo ao rever Eda. Ela continuava linda. Com as ondas escuras caindo ao redor do rosto formando uma bela imagem dela com aquele jaleco branco.

Meu coração acelerou.

A expressão indiferente no rosto dela acabava comigo. Eu queria ser o motivo de um sorriso naqueles lábios convidativos. Do brilho em seus olhos. Das batidas descompassadas do seu coração.

Respirei fundo, afundei nos travesseiros empilhados em minhas costas e cocei a nuca, nervoso

Minha mente estava bagunçada. Repleta de momentos e coisas que eu deveria dar mais atenção, como a minha família, o meu trabalho e a minha saúde. Porém, tudo que me vinha a cabeça era Eda e sua indiferença angustiante.

Eu gostaria de poder retrucar sua indiferença. Dizer a ela que eu não sou mais aquele cara que namora às escondidas e, sim, aquele que a leva para o cinema depois de jantar ao seu lado em algum restaurante que ela gostasse.

Mas eu ainda estava trabalhando nisso. Neste homem.

Suspirei cansado e voltei minha atenção à planta em 3D na tela do computador. Precisava me concentrar em algo que eu pudesse resolver e, neste momento, o maldito lavabo em erradas proporções era meu foco. Espiei o telefone na outra ponta da cama. Aparentemente, eu não podia confiar nas medidas na minha cabeça por completo. A dor de cabeça ia e vinha com muito esforço mental. O médico havia explicado que a concussão poderia desencadear essas dores, além de alguns quadros de esquecimento e tonturas.

Eu queria ter ouvido a explicação diretamente da especialista, mas parece que Eda tinha pacientes mais urgentes para tratar.

Respirei fundo mais uma vez e estiquei o braço bom em direção ao telefone, tentando pegá-lo sem magoar os ferimentos.

-O que tá fazendo, Serkan?

Virei-me em um pulo e encarei a dona da voz parada aos pés da cama.

Abri um sorriso.

Elif me olhava curiosa, abraçada a Olaf. Seus cabelos escuros estavam presos em uma trança digna da princesa Elsa, enquanto sua roupa fazia jus a uma bela rainha pronta para dormir. O pijama longo repleto de flocos de neve cobria todo o seu pequeno corpo infantil.

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