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— Quer um pouco?

Ele estende a mão me oferecendo mesmo sabendo a resposta. Me mantenho em silêncio, então logo o cigarro retorna a sua boca.

— Não sabia que colecionava troféus. — varri a estante recheada de livros de capas grossas.

— Gosto de ler quando não estou fumando. Ou às vezes, gosto de ler chapado.

Continuo a observar os livros. Um da capa vermelha, que posso jurar ter brilhado por um estante, me chama a atenção. Henry está recostado sobre o pequeno sofá, observando a paisagem lá fora. Aproveito para abrir o livro e dar de cara com algumas anotações nas páginas brancas.

Sua letra é um pouco difícil de compreender, comprimo os olhos numa tentativa de entender o que está escrito ali.

— Não mexa nas minhas coisas!

Ele rosna raivosamente. Fecho o livro no mesmo instante e o recoloco na estante.

— Desculpa. — sussurro baixinho.

Ele bufa, apagando a chama quente do cigarro com os dedos e o jogando sobre a janela.

— Desculpa se pareci grosso. Só não gosto que fiquem mexendo nas minhas coisas.

— Certo, já entendi.

— Quer ir a um lugar maneiro?

Começo a reconsiderar, não sei bem para onde me levaria e nem se confio o suficiente para aceitar.

— Você não vai me levar a um mato e me matar, não é?

As palavras praticamente saltam da minha língua sem que eu possa impedí-las. Já é tarde demais. A sobrancelha de Scott está erguida e ele balança a cabeça.

— Vou, vou sim.

Nós dois rimos. Então ele senta-se ao meu lado, envolvendo sua mão em volta da minha cintura. Minha cabeça encontra seu peito como lugar imediato de apoio.

— Sei que não sou confiável o bastante ainda, e entendo que não se sinta confortável em sair comigo, mas prometo que nunca a machucaria.

Não sei porque, mas suas palavras fazem todo o meu corpo arrepiar-se. Sinto um frio na barriga que não senti há muito tempo, e num ato de imediato, me retraio.

— Está sendo sincero?

Agora minha cabeça está erguida o suficiente para olhar em seus olhos. Desde pequena, meu pai havia me ensinado que o segredo para saber se alguém está mentindo ou não, são os olhos.

— Estou.

Seus olhos continuaram cravados aos meus, não se desviaram nem por um segundo. Agora as batidas do meu coração parecem acalmar-se à medida que seu olhar continua sobre o meu.

Então, eu acredito nele.

Antes Que Ele Se VáOnde histórias criam vida. Descubra agora