Capítulo 2

285 16 0
                                    

Já se passou um mês desde que eu escrevi para você pela primeira e última vez, mas tem sido uma loucura. Eu comecei a faculdade de pedagogia, que é o meu grande sonho, e é difícil acompanhar o ritmo do início do curso junto ao início da gravidez.

Eu estou completando dez semanas hoje, então ainda estou na fase dos enjoos fortes. Isso sem contar o sono e a fome, que estão me fazendo parecer um panda! Mas nada disso importa diante do nosso milagrinho, Dan. É tão especial quando eu consigo sentir ele ou ela dentro de mim. Eu sei que você vai me lembrar que ainda não dá para senti-lo, afinal ele ainda está se formando. Mas se você sentisse um pouco dessa magia de perto, meu amor, você entenderia o porquê toda a lógica perdeu a razão para mim.

Minha mãe vem para cá hoje à tarde! Como eu tenho a primeira ultrassonografia amanhã, ela vai me acompanhar até o laboratório, para eu não ir sozinha. O Jaime até iria, mas acho que esse é o tipo de emoção que ele tem que guardar para sentir quando tiver os filhos dele. E você sabe como a dona Inês é... Agora que passou o susto, ela está bem animada com a ideia de ser vovó. Está inclusive tricotando (bem mal, de acordo com o Dudu, mas enfim).

Eu poderia ficar horas aqui falando com você, meu amor, mas eu tenho uma infinidade de trabalhos e pesquisas para a faculdade me esperando. Afinal, eu preciso ter um bom emprego para cuidar bem do nosso anjinho, e para isso tenho que me destacar na faculdade!

Ah, não se preocupe... Até isso acontecer, a sua mãe está nos ajudando. Ela é ótima, Dan, de verdade. Espero ser uma mãe tão boa quanto ela. Ela tem me enviado dinheiro escondida do seu pai, para ajudar com os custos da gravidez e da moradia. Ela prometeu que nunca vai deixar o netinho desamparado, porque ela sabe que você jamais deixaria o nosso bebê desamparado se tivesse a escolha. Pena que o seu pai te tirou ela...

Com muito amor e cheios de saudade de você,

Sua Carmen e seu bebê

22/02/2022

.

.

.

.

.

Meu amado nerd...

Eu estou sem palavras. Sem reação, sem saber o que dizer. Ainda não caiu totalmente a ficha, não consegui digerir a informação. Ao mesmo tempo que estou morrendo de medo, acho que eu nunca me senti tão feliz e abençoada na vida.

Eu acabei de voltar do laboratório onde fiz a primeira ultrassonografia. E, Dan, eu sempre disse para você que o nosso amor era tão grande que não cabia no meu coração, ou no seu. Realmente, ele precisou se materializar porque não cabia mais na gente. Mas um coração a mais não foi o bastante, e o nosso amor se transformou em dois corações.

Eu estou esperando gêmeos, meu amor, dois anjinhos. Eu quase desmaiei quando o técnico avisou, a minha mãe ficou tão branca quanto uma folha de papel. Eles são tão pequenos, Dan, nem tem forma definida ainda. São gêmeos não idênticos, e eu estou torcendo de coração para ser um menino e uma menina.

Já pensou, uma mini-eu e um mini-você, correndo por aí, sendo os mais espertos da sala, nos enchendo de orgulho? Todas as noites, depois de rezar, eu converso com eles (ok, até ontem era só um, mas eles dois são espertos e estavam ouvindo e entendendo tudo, eu tenho certeza). Eu peço que eles sejam crianças comportadas, que nos encham de orgulho, mas que sejam muito felizes, alegres e brincalhões.

Daniel, eu mal me reconheço. Eu deveria estar surtada, afinal, eu ainda vou fazer 18 anos e estou com duas crianças "sem pai" na barriga, sem sequer imaginar como eu vou sustentá-las e dar conta dos meus estudos. Mas eu não consigo sentir medo ou tristeza. Eu os amo tanto, Dan, tanto...

Meu Amado NerdOnde histórias criam vida. Descubra agora