Capítulo 9

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Carmen estava na cozinha, preparando o jantar. Na sala, Eric e Felipa terminavam de fazer seus exercícios diários, coisa que a mãe mantinha mesmo durante as férias. Eram coisas simples, como desenhos e colagens, mas que estimulavam o desenvolvimento dos pequenos e a deixava menos atrapalhada com as tarefas domésticas.

Não tinha sido fácil quando Jaime foi embora, morar com Giovana. Ser deixada realmente sozinha com os filhos, pela primeira vez em mais de dois anos, foi um grande choque. Mas como todos diziam, Carmen não baixava a cabeça diante dos problemas e havia tirado mais esse de letra.

Quando escutou a campainha, não estranhou. Jaime costumava aparecer na hora do jantar e, como não morava mais lá, se acostumou a tocar a campainha. Pediu que Eric visse na câmera se era o tio, e que liberasse a entrada caso fosse o amigo.

Sua surpresa foi o grito de animação do menino, seguido do portão sendo destravado. Antes que se movesse, ouviu ele chamar Felipa.

─ É o papai, Fefa, é o papai!

Gelou ao ouvir aquilo, de uma forma que nunca imaginou ser possível. Correu para a porta de entrada, mas os filhos já estavam lá fora. A cena, claro, a desarmou de uma vez. Afinal, quantas vezes não havia sonhado em ver aquilo?

Daniel estava no chão, sob os joelhos, os dois filhos em seus braços, um de cada lado. O rapaz chorava de soluçar, beijando os dois sem parar, um sorriso quase rasgando seu rosto.

Quando ele ergueu os olhos e seus olhares se cruzaram pela primeira vez em quase quatro anos, foi como se o mundo parasse e voltasse para aquela manhã de janeiro, quando ela chegou à casa dele e foi recebida com um grande sorriso, e quase contou toda a verdade.

Agora, não havia mais segredos, afinal.

Ele se ergueu do chão, segurando os dois firmes em seus braços. Eric e Felipa deitaram a cabeça nos ombros do pai, o sorriso idêntico ao dele brilhando. Daniel caminhou lentamente até Carmen, parando em frente à ela. Se encararam por alguns segundos, até ele estender algo para ela. A mulher gelou ao ver seu diário.

─ Lê a última página. ─ foi só o que Daniel disse, antes de caminhar para a sala com os dois e sentar no sofá, os três ainda agarradinhos.

Ela ficou os encarando por um tempo, antes de abrir o diário e encarar a página que ele havia dito. Lá estava, no topo, "Minha linda CDF..."

Daniel sentiu que ela sentou no sofá depressa, e a encarou surpreso. Ela apenas sorriu e se inclinou, selando os seus lábios em um beijo muito aguardado e repleto de saudade.

─ Não vai ler?

─ Eu não preciso, meu nerd... Pelo menos, não agora. ─ ela sorriu, sentando Felipa em sua perna ─ Agora, só o que importa é isso aqui.

─ Papai? ─ Eric chamou Daniel, quebrando os olhares do casal ─ Você salvo mundo?

─ Ainda não, filho, mas eu vim salvar. Porque o meu mundo são vocês três, agora e para sempre. ─ prometeu o empresário, puxando Carmen para o braço livre e abraçando-a junto com Felipa ─ Nada mais vai separar a gente, ok?

─ Tá bom. ─ concordou o garotinho.

─ Te amo, papai. ─ suspirou Fefa, a mãozinha no rosto dele.

─ É, papai, nós te amamos. ─ Carmen sorriu para ele.

─ Eu também amo vocês. Nunca deixei de amar, nem por um minuto. ─ garantiu o homem, fechando os olhos e se sentindo em paz pela primeira vez em muito tempo.

E foi como se aquela fatídica manhã de quatro anos antes, afinal, tivesse acabado. E o final era feliz.

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Minha linda CDF...

Meu coração nunca se curou, sabe? Lembra que eu te disse, naquele dia de manhã, que meu coração estava partido para sempre? Pois bem, era verdade.

Eu fui para os Estados Unidos para fugir da dor, mesmo que o meu pai tenha me pedido para ficar e para ir atrás de você! Eu, como sempre, preferi dar ouvidos para a minha mãe. Quanto burrice vinda desse nerd, hã?

Eu realizei os nossos planos, mas nunca os nossos sonhos. Porque sonhos só se tornam reais se realizados da forma que sonhamos, e para isso, eu precisaria de você lá, comigo! Eu me peguei discando seu número tantas vezes, ligando para o Davi na esperança que você estivesse junto e atendesse.

Nosso primeiro aniversário estando separados foi tão doloroso, tão sofrido... E eu sei que para você foi também, até determinado ponto. Mas foi um dia de luz, não é? O dia em que a nossa luz chegou no mundo, nossos dois anjinhos... Nossos filhos!

Carmen, eu nunca vou conseguir te agradecer o bastante, por tudo o que você fez. Mesmo que de forma manipulada, você fez o que fez pensando no melhor, para mim e para as crianças. O melhor para o meu futuro, o que fosse mais seguro para elas. Você cuidou de nós três, mesmo que eu não soubesse disso.

É engraçado que, eu nunca coloquei meus olhos no Eric e na Felipa, e já os amo mais do que qualquer coisa no mundo, até mesmo você! Ela é minha garotinha, ele é meu garotinho, e vocês são o meu mundo! Aliás, eu amei esse nome. O nome da nossa filha é maravilhoso, você fez uma linda escolha, meu amor.

Tanta coisa que eu quero dizer, tanta coisa que eu sinto, e não sei nem por onde começar. Dizendo que babei a cada uma das fotos que eu vi da sua barriga crescendo, e do quanto eu queria ter podido beijá-la a cada dia, a cada movimento deles, a cada segundo? Que eu estou ansioso para, daqui em diante, comemorar cada um dos nossos aniversários celebrando a vida dos nossos maiores presentes?

Ou então pedir perdão por tudo o que você passou enquanto eu vivia no bem-bom, por todos os sacrifícios que você e os nossos amigos fizeram pelos nossos filhos, enquanto eu esbanjava com aquele encosto que se abateu sobre a minha vida?

Algumas semanas atrás, eu jurava que havia perdido tudo, Carmen, tudo mesmo. Meu casamento, meu filho... E você, minha linda CDF, me trouxe de volta à luz! A cada página desse diário, a cada pequeno momento que você registrou dos nossos filhos para mim, um pouco de luz voltou ao meu coração!

Não, meu amor, eu não ligo que eles sejam os nossos únicos filhos! Não, eu não te culpo por nada. Você fez o seu melhor, e eu te amo e admiro intensamente por isso. Eu fiz a melhor das escolhas para ser o amor da minha vida, e sou muito grato a Deus por isso.

Amanhã mesmo estou indo para Piracicaba, encontrar vocês. Já pedi o endereço para o Davi, e agora, nada no mundo vai nos atrapalhar. Já devíamos ter nos reencontrado há muito tempo, e muita coisa entrou no nosso caminho. Agora, nem mesmo a morte há de me segurar.

Te amo com todo o meu coração, minha linda. Dessa vez, passaremos o Natal juntos!

Com todo o amor do meu coração, por você e pelos nossos milagrinhos.

Seu Daniel

13/12/2025

PS: Acabei de sair da casa da minha mãe e estou indo para Piracicaba. Eu confrontei ela e disse que sabia de tudo. Não vou falar muito, você não precisa saber de todas as barbáries que foram ditas. Só saiba que ela nunca mais vai se aproximar nem de mim, nem de você, e muito menos das crianças. Agora, chegou a hora do nosso felizes para sempre! 

Meu Amado NerdOnde histórias criam vida. Descubra agora