Nunca mais pensei que iria escrever isso, sabe? Na verdade, pensei que nunca mais iria te escrever. Já tem muito tempo, né? Quase seis meses.
O Eric e a Felipa completaram seu terceiro ano há algumas semanas, e estão lindos. Eles parecem cada vez menos com bebês e mais com crianças, menos gordinhos e muito espertos. Eles estão indo muito bem na escolinha, ano que vem já entram no Maternal I. Eles estão falando bem para a idade, e eu tenho trabalhado em ensinar inglês para eles, o que está indo bastante bem também!
A Fefa se adaptou perfeitamente ao implante auditivo, e me impressionou com a dedicação que tem a recuperação! Ela vai uma vez por mês na fonoaudióloga e tem me deixado muito orgulhosa!
Mas você deve estar pensando: "por que, depois de tantos meses, a Carmen está me escrevendo?" Porque eu sei que você está passando por um momento ruim, e que talvez um pouco de alegria seria bom!
Todo mundo sempre disse que a Hillary não prestava, não é? Mas você não quis ouvir, meu nerd, já que a sua mãe dizia que ela era boa! Ela ia te dar o que você merecia, uma família decente e um filho lindo, não foi o que você disse para o Davi no dia do seu casamento com ela?
Mas a união repleta de firula durou três meses, e o filho lindo que você jurou que era seu, na verdade é do melhor amigo dela, com quem ela vem te traindo desde o começo do seu namoro.
Por isso estou te escrevendo hoje, Dan... Há menos de um ano você perdeu o seu pai, a relação à qual você tanto se dedicou foi uma mentira, e o anjo que você achou que te traria luz, só te afundou mais na escuridão.
Me dói mais ainda de pensar que só te restou a sua mãe de família, e que ela vai continuar manipulando e moldando a sua vida ao próprio bel-prazer, tão feliz quanto é possível porque agora você está de volta ao convívio dela. Pelo menos ela deixou a nossa filha em paz!
As crianças ainda perguntam de você, Daniel, sempre. Eu tentei tirar as fotos, mas eles perceberam e choraram por vários dias. O Eric não consegue pegar no sono sem ficar encarando a nossa foto no criado mudo deles. Ah, é... Nossos bebês não dormem mais em berços, agora já são grandinhos e ficam em camas! Um dos últimos presentes do seu pai, chegou no aniversário deles e foi feita por um carpinteiro muito talentoso, sob medida para os dois.
Estou torcendo, do fundo do coração, para que essa dor que você está sentindo passe depressa e você não se afunde em amargura. Enquanto isso, eu vou vivendo a minha vida e cuidando dos nossos anjinhos, nossos milagrinhos. Apesar de tudo, nós ainda te esperamos... Ainda vai chegar o dia em que isso não vai mais acontecer!
Fique bem, meu nerd!
Sua eterna CDF
03/10/2025
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Daniel fechou o diário e encarou o vazio, em silêncio. Os olhos estavam inchados e vermelhos, quase secos depois de tanto chorar. Fazia quase seis horas que estava naquele mesmo lugar, lendo cada uma das páginas com uma voracidade desconhecida.
No dia anterior, Davi havia aparecido em sua casa. Depois de semanas de um profundo luto e revolta pela traição de Hillary e a perda do filho que julgava que ganharia, o amigo se estressou e resolveu "ajudá-lo".
Chegou com um pacote, dizendo que era um presente de Jaime e que ele deveria ver o que estava ali com carinho. A primeira reação do antigo nerd, é claro, foi arremessar o embrulho longe e berrar impropérios a um dos melhores amigos. Davi, por outro lado, não se exaltou. Apenas disse que nem tudo era o que Daniel imaginava, e que aquilo poderia explicar muita coisa.
Demorou horas até que ele se acalmasse o bastante para pegar o pacote novamente. Assim que abriu, seus olhos se arregalaram ao ver a capa do diário. Trazia uma foto de Carmen grávida e os dizeres "A história que você perdeu".
Logo na primeira página, caiu em um choro tão alto e forte que assustou a si mesmo. Demorou um tempo para se acalmar novamente, para que então pudesse continuar a leitura. Pelas horas seguintes, não parou de chorar por um minuto sequer.
Sorriu como um bobo com cada uma das fotos que Carmen anexou, se maravilhando ao ver a barriga dela crescendo e com as descrições que ela dava. Não conseguiu descrever o que sentiu ao ler que eram dois bebês na barriga de seu grande amor. O coração quase derreteu ao ver o ultrassom e ler que era um casal, e se apaixonou de cara pelos nomes Eric e Felipa.
Prendeu a respiração ao ler o relato dela sobre o parto, e sentiu a sua tristeza ao contar que não poderia ter outros filhos pelas complicações no parto. Se desesperou com a informação de que sua filha havia perdido a audição, e sentiu raiva de si mesmo ao ler o desabafo de Carmen sobre o dinheiro que ele gastava em futilidades com Hillary, enquanto a garota e os amigos ralavam no Brasil para poder ajudar a sua princesinha.
Em determinado ponto, acabou rindo. Nunca havia colocado os olhos em Eric e Felipa, mas seu amor pelos dois era igual ao deles por ele: incondicional e puro. Assim como Carmen os chamava, ele já a considerava a sua princesinha e ele o seu pequeno príncipe, desde aquele momento.
Foi mais ou menos no mesmo ponto que algo passou a martelar em sua cabeça: por que seu pai estaria fazendo tudo aquilo? Desde o dia em que Carmen terminou o namoro, alegando tê-lo traído, Valentim não fez nada que não fosse incentivar Daniel a ir atrás dela. Seu pai também nunca gostou ou foi favorável a sua relação com Hillary, inclusive continuando a incentivá-lo a ir atrás de Carmen, especialmente logo antes de sua morte.
Seu peito se transformou em um furacão de sentimentos quando a verdade veio à tona, quando Carmen e Valentim se encontraram e as coisas foram colocadas em pratos limpos. A partir desse momento, cada palavra que foi escrita ali o atingiu como uma grande e poderosa facada.
Ele encarou o local onde estava, o quarto de bebê que ele havia feito quase todo a mão. Pintou as paredes, colocou os papéis estampados, montou o berço e todos os móveis. Preencheu as prateleiras com brinquedos que nunca seriam usados e fez ali o ninho perfeito para o anjo que iria chegar, sem saber que seus dois anjos, seus milagres, já caminhavam sobre a Terra à sua espera, e ele estava sendo privado disso.
Levantou e caminhou para seu escritório, sentando e apanhando uma caneta. Abriu a próxima folha em branco do diário e começou a escrever sem parar.
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Meu Amado Nerd
FanfictionEles foram separados pelas circunstâncias, mas não houve um dia em que ela não pensasse nele. Afinal, ele era o seu Amado Nerd, e ela era a Linda CDF dele. E enquanto ela mantivesse a esperança, ela sabia que o amor deles encontraria um caminho para...