quatro

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Estava eu, em plenas duas da tarde de uma segunda-feira linda e nublada - me julguem amantes do sol -, tendo uma crise psicológica de TOC.

Quando me disseram que era pra ajudar na biblioteca, não tinham me falado que nunca limparam essa coisa. Por que tem tanta poeira nesse lugar? Esse forro tá encardido? Aquilo é mofo? Minha nossa senhora da bicicletinha, por que tem cinco traças naquele livro?

Ok, Lee Taeyong, é só fechar os olhos, respirar fundo e aproveitar que só tem você, a praga, a secretária gente boa, a bibliotecária e o zelador na escola e solta aquele grito que você tanto segura.

Gritei, mas a peste do Jung tapou minha boca antes do grito sair de verdade. E minha frustração, como fica? Vou descontar nele.

-Não piora tudo. - Falou baixo no meu ouvido. - Qual motivo te fez gritar?

-Transtorno Obsessivo-compulsivo. - Falei rápido tentando voltar a respirar normalmente. Não funcionou.

-Que merda. - Estalou a língua, barulho insuportável. - Ei, olha pra mim. - Me virou, segurando meus ombros. - Inspira, expira... - Me seguiu nos comandos. - Mais uma vez. - Repetiu mais três vezes. - Melhor? - Confirmei balançando a cabeça e ele deu um sorriso pequeno.

-Por onde começamos?

-Esse lugar é enorme, não precisa limpar tudo de uma vez. Sei que não tem muito controle, mas vai com calma. Você começa no lado direito da entrada e eu vou no fundo, logo atrás de você. Qualquer coisa você me chama.

E ele foi. Como ele sabe fazer essas coisas? E desde quando o capiroto é bonito? Foco, Lee. Bati na minha própria face e segui o Zé Bonitinho até dois terços do caminho dele.

Como começar a limpar as coisas do meio? Eu não consigo fazer isso. A estante é de parede toda, ela só começa no canto, não dá pra começar uma coisa pelo meio, por isso que chama meio, precisa de um início. Jaehyun, corre aqui.

-Jaehyun! Jaehyun, Yoonoh, socorro. - Chamei e ele veio correndo até mim, perguntando o que houve. - Não dá pra começar pelo meio. Não tem como eu fazer isso.

Tenho certeza que virei uma versão perfeita de cosplay de pinscher: tremendo e com os olhos arregalados. O mais alto parou e pensou um pouco, olhando pra estante.

-Aqui, pense que esse é seu ponto de início. Vou pegar uma cadeira boa pra você subir e conseguir limpar direito.

No final da tarde, dois garotos andavam sujos e cansados, apenas apreciando o pôr do sol.

-Por que me ajudou?

-Eu não sou um monstro, Lee.

-Tem certeza?

-Absoluta. Você questiona demais.

-Um hábito que desenvolvi desde quando aprendi a falar.

-Não sou um monstro e você é engraçado. - Riu. Era pra eu ter achado isso bonitinho? - Vivendo e apredendo.

-Sim. Cheguei. Vou usar minha educação pelo menos uma vez com você. Então, obrigado por me ajudar hoje e peço desculpas por tudo.

-Tudo bem, eu também peço desculpas. Até amanhã, Lee.

E lá se foi o menino irritante do final da rua. Parando pra pensar, que bela bunda, hm.

lemonade · jaeyongOnde histórias criam vida. Descubra agora