O príncipe

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Há quem diga que a fortaleza soserina fosse tão tenebrosa quanto o seu primeiro morador, o fundador do reino, Salazar Sonserina. E de fato o lugar não era o mais acolhedor do mundo bruxo. As paredes em rocha preta, os adornos de mármore escuro e ligas de prata e a grandiosidade em si do palácio já faria qualquer um se sentir um tanto solitário. Juntamente com o clima úmido do rio que banhava as terra envolta da construção e a pouca luz solar, provocaria calafrios em qualquer um.

No entanto, a vida no palácio não poderia ser mais distante de um clima mórbido. A alegria do lugar tinha nome e sobrenome, Albus Dumbledore, ou melhor, Albus Grindelwald. O marido do rei trazia a vida que faltava naquele lugar. O espírito jovial permaneceu no homem, apesar dos fios brancos já dispontarem na cabeleira ruiva e viver a meia-idade. Era o contraponto perfeito para o rei, que apesar de carismático tinha um ar temível. Caso precisasse de alguém para conversar, Albus sempre estava disposto a acolher, seja quem fosse, e confortar com suas balinhas de limão. Seu carinho era doce e aquecia o frio que aquele lugar causava na alma.

O rei consorte era o tipo de gente que podia amar fervorosamente, daquele jeito que comove quem vê. No entanto, esse amor, em específico, era voltado apenas para duas pessoas: seu marido e seu filho.

O romance de Gellert e Albus não era uma mera atração carnal, mas sim um ligação profunda. Espírito, intelecto e paixão intimamente conectados, como o bater de almas que poucos tinham o prazer de desfrutar. Se conheceram na juventude, em uma das visitas de Gellert ao reino de Grifinória. O loiro vagava pelos arredores da floresta, próxima a pequena vila de Godric's Hollow, quando avistou Albus, recostado à sombra de um carvalho, imerso na leitura. Quase que por instinto, se aproximou para comentar sobre o livro que lia, que por coincidência ou não, era também seu preferido. O fascínio pelo "O conto dos três irmãos" foi o que uniu os dois jovens. O que a princípio seria apenas uma amizade, se tornou amor. No entanto, Gellert ainda era um herdeiro. Parecia inevitável que aquele romance acabasse quando o mesmo fosse coroado e forçado a se casar com uma mulher influente, tudo que Albus não era. Contudo, não foi o que aconteceu. Quando coroado, o então rei propôs o grifinório cheio de determinação. Ninguém moveu um dedo contra o matrimônio. Um olhar do rei bastou para que a corte sonserina se cala-se. A imagem impiedosa de Gellert contribuiu seriamente para isso. Ninguém queria despertar o sadismo do rei.

Mesmo assim, os burburinhos da falta de um herdeiro para prosseguir a linhagem corriam pela corte. A possibilidade de ter o trono para si fazia os olhos do homens mais influentes brilharem, tanto que não houve mais nenhuma reclamação sobre a ausência de um herdeiro. Os nobres disputavam silenciosamente sobre quem assumiria após a morte de Grindelwald. Agiam como cobras prestes a dar o bote. Então quando, depois de meses do casório, a túnica de Albus começou a apresentar um volume no abdômen, a decepção da corte foi imensa. Ninguém cogitou que Albus era um bruxo com o dom, nem o próprio sabia. Bruxos que tinham o dom de dar a vida eram raros, principalmente em solo sonserino, logo a surpresa foi comum e devastadora.

Nove meses depois nasceu a segunda pessoa que Albus mais dedicava amor, seu filho, Severus Prince Grindelwald. O menino sempre foi muito apegado com o pai, já que geralmente passava mais tempo com o ruivo. Albus mimava a criança, enchendo-a de afeto. Ensinou tudo o que Severus sabia sobre magia, desde criança até a época que viveu em Hogwarts. Ter o diretor como seu pai era um tanto estranho, mas Albus sempre fez questão de tratar seu filho com o máximo de igualdade possível com os demais alunos. Poucos sabiam sobre a relação paternal dos dois, uma vez que Severus tinha sido um menino muito tímido e recluso na escola. Porém era impossível não demostrar carinho quando os outros não estavam por perto. Não tinha como negar, o jovem tinha o melhor pai do mundo.

Albus era a alegria de Severus. "Era. Não é mais", pensou o jovem que trajava o luto não só nas vestimentas como também na alma. O coração de Severus latejava de dor ao lembrar que seu pai não mais vivia. Nunca mais poderia escutar a voz tranquila, o calor do abraço ou as batidas tranquilizantes de seu coração. Tudo tinha acabado e sequer sabia como. Não sabia quem havia o assassinado. O corpo sem vida de Albus foi encontrado ao pé da torre mais alta do palácio, onde o mais velho se dedicava a uma de suas paixões, a astronomia. No peito uma marca de adaga, provando que não havia sido apenas uma fatalidade. Alguém tinha atentado contra sua vida, empurrando-o da torre para aparentar um acidente.

Completamente devastado. Esse era o estado de espírito do jovem. Faziam dois dias que Albus foi dado como morto, assim como faziam dois dias que Severus pulava todas as refeições. Não se atreveria a dar as caras na sala de jantar ou se quer sair de seus aposentos. Sua tristeza consumia as necessidades vitais. Poderia ficar deitado no emaranhado de lençóis e travesseiros que chamava de cama até o fim dos tempos. No entanto, as batidas na porta significavam que não teria esse direito. Mesmo assim, Severus se enfiou mais em seu canto, ignorando quem quer que fosse. A presença de ninguém era bem vinda no momento.

- Sev, posso entrar?- a voz gentil soou após as batidas.

O jovem não queria ver ninguém de fato, exceto ele. Após ter pego a varinha jogada em algum canto do seu único conforto, Severus lançou um feitiço silencioso, destrancado a porta para o outro. Tom Marvolo Riddle, braço direito do rei e o mais próximo de um tio que Severus tinha, suspirou pesado ao ver o estado do garoto, caminhando até a cama espaçosa e se sentando próximo. A mão gélida acariciava a parte descoberta dos cabelos negros com ternura, tentando preparar o terreno para dizer o motivo de estar alí.

- Você sabe que não pode ficar aqui para sempre, não é mesmo criança?

- Eu posso fazer o que eu quiser.- Severus bufou- E você só tem 35 anos, não pode me chamar de criança.

Uma risada nasal é solta e Prince poderia apostar que o outro estava balançando a cabeça em negativa. Tom era sempre tão previsível. Severus poderia lê-lo por inteiro sem nenhuma dificuldade. Talvez apenas fossem os anos de proximidade, mas o mesmo tinha suas dúvidas.

- Ele quer falar com você.- disse paciente.

O corpo de Severus gelou. Já sabia que só poderia ser essa a motivação da presença repentina de Tom em seu quarto, mas, definitivamente, não queria defrontar com o homem logo. Seu pai era o mais distante de alguém que soubesse plenamente como lidar com as próprias emoções, apenas reprimindo-as. Não haviam condições de Severus lidar com a sensibilidade, ou falta dessa, dos outro se ao menos podia lidar com a sua.

- Diga que eu não vou!

- Você não pode evitar ele.- suspirou pesado- Só têm a ele agora Severus.

O jovem virou incrédulo para o mais velho, que tinha o par de olhos vermelhos focados em si. Ninguém sabia o motivo da coloração incomum, mas Severus sempre achou-a fascinante. Eram olhos sempre tão expressivos. Agora diziam tudo que Severus precisava ouvir. Não podia mais ignorar o pai, precisavam superar o sofrimento juntos. A dor partilhada é mais fácil de suportar. Afinal, de fato só tinham um ao outro agora.

- Tudo bem...- desviou o olhar pra longe- Diga que eu vou descer pro almoço.

- Ele gostaria de te ver agora.

Severus tentou argumentar, mas novamente o olhar do homem a sua frente impediu que abrisse a boca. Apenas fechou os olhos, respirando fundo antes de tirar a coberta de cima de si, recebendo um sorriso motivador. O frio lhe gelou a espinha, fazia tempo que não levantava do calor de sua cama, então o choque térmico seria normal. Viu Tom caminhar animado para as portas de um de seus armários, um costume carinhoso de escolher as roupas do garoto. Se dependesse de Severus, o mesmo usaria qualquer trapo desajustado. Apesar de ser um príncipe, o jovem não dava a mínima para a aparência, apenas aos livros de poções e ao sonho de ser um grande pocionista, sendo responsabilidade dos outros evitar que Severus "manchasse" a imagem do reino com seu desleixo.

Não pode deixar de sorrir ao ver o carinho familiar com o qual Tom analisava suas roupas. A família real era pequena, Severus não tinha contato com tios, muito menos primos, então era de praxe que passasse a considerar o outro família. Deixou os pensamentos de lado e foi em direção ao banheiro, pronto para lavar o que sobrava de si e preparar-se mentalmente para encarar o pai. Não poderia ser um conversa tão horrível ao final das contas. Ou poderia?

Notas da autora: Oi xuxus! Se Grindeldore não certo no original, na minha fanfic tinha que ter esse romance boiolinha nem que por um segundo. E aí? O que acharam? Se você leu até aqui, não esqueça de deixar o seu voto e comentar. Beijos e até o próximo!

O HerdeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora