A conversa

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Haviam inúmeras coisas que enfureciam Severus Prince. Tantas que as vezes soava como um velho ranzinza, mesmo não tendo idade para isso. Alguns o achavam um pouco amargo, outros apenas incompreendido. O jovem era uma questão dúbia, ninguém sabia como deveria interpreta-lo. Amar ou odiar? No fim, verdadeiramente não importava. Severus não costumava se ater a opinião dos de mais, exceto pelos poucos que tinham um espaço especial em seu peito.

     Enfim, no meio de um mar de reclamações, existiam somente duas coisas que o moreno genuinamente odiava. Uma delas era quando alguém interrompia sua leitura. Não existe algo mais detestável do que ter sua imersão cortada, seja nos seus livros de poções ou de romance. A segunda era ser forçado a vestir roupas pomposas e manter a compostura. A quantidade exagerada de tecidos que compunha as roupas reais sufocava Severus. Camisa, lenço, colete, paletó, somado a gola alta e as abotoaduras, eram o suficiente para sufocar o jovem. O fato do preto das vestes não ser de livre escolha e sim reprsentar luto contribuía ferrenhamente para sua insatisfação com a situação. Por isso, caminhava desconfortável e sozinho em direção a sala do trono.

       Os corredores estavam mais gelados do que nunca. Mesmo com todas aquelas roupas, Severus sentia um arrepio percorrer a espinha. Talvez não fosse o frio, de fato, mas sim a situação em que o jovem se encontrava que o fazia gelar a alma. A última coisa que queria no momento era ter uma "conversa amigável" com o pai. Não era como se a relação de Severus e o rei sonserino fosse a pior do mundo, pois sequer existia.

      A criação do menino ficou por conta de Albus. Apesar de sempre muito atarefado com os assuntos de Hogwarts, o ruivo sempre tirava tempo para seu filho, tanto para curtir a paternidade quanto para educar seu bebê. Já Gellert era o extremo oposto. O homem vivia imerso na gestão do reino, sequer dava o trabalho de se fazer presente na vida do único filho. No entanto, quando criança, Severus não se importava com a ausência de um dos pais. Afinal, o carinho de Albus valia por dois.

      As coisas começaram a desandar quando Severus entrou na adolescência. Seus sentimentos se tornaram complexos e o jovem se sentia na necessidade de impressionar o pai. Como um desafio a si mesmo para ter a atenção do mais velho onde valia de tudo. Severus era o primeiro da turma em Defesa Contra as Artes das Trevas e Poções, participava do clube do Slugue, sempre tentava se envolver na política e economia do reino, até mesmo tinha tentado aprender violino, mas nada adiantou. O olhar de Gellert nunca focou em seu filho.

       Os anos passaram, e o desejo de ser notado virou apatia, com uma pitada de amargura. Depois de completar 18 anos, Severus já estava cansado de tentar, nunca mais procurando se aproximar do rei. Albus insistia em dizer que Gellert era apenas fechado, para o filho. O que realmente era verdade. O loiro não sabia lidar ou expressar sentimentos com facilidade. Mas Severus nunca entendeu isso. Em seus pensamentos mais profundos, diria que sentia-se desprezado pelo pai. Não queria precisar lidar com aquela avalanche de emoções agora.

         Por isso, quando chegou na enorme porta de madeira adornada da sala do trono, seu corpo parou instintivamente. A mão esitante segurava o metal frio da maçaneta. E como por magia, um mal pressentimento tomou seu coração. Sua intuição dizia que algo horrível estava prestes a acontecer, implorando para que fugisse daquele lugar de imediato. Severus apenas deu um último suspiro, na tentativa de afastar os pensamentos, empurrando os portais a sua frente.

           E lá estava ele, Gellert Grindelwald, sentado no trono imperioso, com sua coroa de prata retorcida e pedras de esmeralda. Os trages pretos impecáveis e a postura firme, encarando Severus, como se já soubesse que o outro entraria naquele instante. Os olhos do pai sempre assustaram o jovem. O olho preto parecia profundo de mais, olha-lo era como se jogar em um buraco desconhecido. O outro acinzentado, em contraste, parecia sempre invadir sua mente, como se soubesse todos os seus pecados. A mistura dos dois gerava um olhar que sabia de muito e não demostrava nada. Ao menos nada que ele não quisesse que fosse visto.

O HerdeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora