O Herdeiro

Esperança

Viajar via Flu sempre fora extremamente desconfortável para Severus. Nunca havia se acostumado com os efeitos colaterais daquele tipo de magia, mesmo que a usasse frequentemente. Era impossível entrar no reino de Sonserina facilmente se não através desse tipo de transporte. Assim como em Hogwarts, os domínios sonserinos eram protegidos por feitiços que impediam bruxos de aparatar. Ninguém sabia ao certo quando as barreiras surgiram. Alguns diziam que era uma estratégia de guerra para impedir invasões, já que todos que quisessem entrar no reino teriam que passar pelo Conselho. Outros conspiravam que tudo não passava de um plano da monarquia para privar a liberdade de seus súditos. De todo jeito, não é como se Severus amasse aparatar, muito pelo contrário, arriscava dizer que era até mesmo pior. Ainda assim, detestava se sentir tonto e com o estômago embrulhado.

As luzes do local apenas pioravam seu seu estado físico. O jovem sonserino não era acostumado com tamanha claridade, consequentemente, adquirindo uma dor de cabeça decorrente da exposição a luz intensa. Enquanto batia as cinzas da roupa, Severus tentava acostumar a visão, aos poucos se adaptando ao ambiente. Já conseguindo ter uma vista mais nítida da sala na qual se encontrava, passou a explorar o cômodo.

Não poderia negar, era lindo. Das paredes de rocha marrom aos longos vitrais coloridos, tudo o encantava. Até os móveis de madeira mais simples tinham seu charme. Não sabia o porquê, mas Severus se sentia um tanto nostálgico naquele lugar, mesmo que nunca tenha postos os pés alí antes. Sem dúvida lembrava o clima mágico e acolhedor de Hogwarts , mas ainda não era isso que despertava a saudade no jovem. Tudo era tão vivo, vermelho e dourado que recordava as túnicas que Albus usava no dia-a-dia. Por mais estranho que pareça, Severus sorriu com o motivo de se sentir em um déjà-vú. Poderia não estar mais no seu lar de costume, contudo tinha consigo aquele ar familiar e acolhedor do pai. Aquilo era mais do que suficiente no momento, ter algo para se apegar o ajudaria a suportar os próximos dias.

- Eh... Severus?- a voz do lupino tirou-o dos pensamentos.- Bem, eu acho que consigo trazer suas coisas até o fim do dia, mas você pode ir para o quarto se quiser.

- Nós vamos dividir um quarto?- perguntou ainda confuso pela tontura que lhe atingia, implorando para que uma futura negação viesse.

A face cheia de cicatrizes do homem a sua frente corou no mesmo instante. Quando ia responder envergonhado, a risada sem humor de Sirius soou. Sentado em uma cadeira acolchoada, Black tinha os pés na mesa e encarava Severus com uma feição estranha. Um mix de raiva e cinismo.

- Dividir a cama com você? Nos seus sonhos ran- Prince.- disse venenoso.

No mesmo segundo, Severus recobrou os sentidos, fechando a cara de imediato ao ouvir o tom debochado do Black. Se lembrava de como Sirius era irritante em Hogwarts. Contudo, havia passado 3 anos desde a formatura. Não era possível que continuasse sendo o babaca das pegadinhas com 20 anos nas costas. Deveria ter amadurecido certo? Porém, pela vontade que sentia de pular em seu pescoço no momento, nada havia mudado. Com o rosto corado, sentindo-se estúpido pela pergunta feita, o sonserino encarava Black com raiva.

- Não comece, Sirius.- Lupin disse firmemente, fazendo o outro transformar o sorriso em um bico emburrado.- Separamos um quarto pra você. Pontas vai te levar lá. Vejo vocês depois.- dizia enquanto saia do cômodo.

O jovem Potter que apenas observava tudo contendo o riso, agora tinha uma cara de descrença. Já haviam combinado que aquilo seria tarefa do Aluado e não dele. Queria ao máximo manter distância do sonserino, evitando que a chama esquecida da inimizade se reacendesse. De todo jeito, não havia com quem discutir, uma vez que o amigo tinha deixado a sala no mesmo instante que decretou a sentença de James. Ao mesmo tempo, Severus se questionava quem era Pontas e como chegaria à seu novo refúgio. Ao ver Potter respirar fundo e se levantar da cadeira, teve uma resposta para seu questionamento.