Memórias felizes

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  "Tudo que é bom dura pouco.", Severus havia escutado o ditado trouxa certa vez em um dos corredores de Hogwarts e nunca mais pode esquece-lo. Sempre que algo genuinamente feliz acontecia, a frase ressoava no fundo de sua consciência. Um aviso que o mantinha sempre preparado para futuros incertos. Contudo, dessa vez foi tomado pela felicidade de tal forma que se quer se lembrou daquela sentença. Tudo era intensamente vivo e nunca o mundo pareceu tão certo. Nem mesmo quando os pingos de chuva começaram a cair sobre o rosto se sentiu abalado, seguindo a caminhada alegre.

        No entanto, agora dentro daquela caverna escura,enquanto a tempestade caía sem cessar, a realidade lhe atingia como um dos raios que iluminavam o céu daquele começo de noite. Estava sozinho e não fazia ideia do quão distante estava da civilização mais próxima. E mesmo se chegasse lá, ainda seria dentro dos domínios de Sonserina não? Como se esconderia? Talvez tivesse mais um frasco de poção polissuco, mas seria inútil. Para passar despercebido por um longo tempo precisaria de litros daquele líquido! O cérebro astuto trabalhava arduamente por uma saída, mas o frio congelava os ossos. Pegou a caixa minúscula em seu bolso, expandindo-a para o tamanho original e tirando de dentro a capa preta que havia posto. Porém parecia inútil conter o frio.

          A falta de ideias o deixava irritado, bufando em desagrado enquanto recostava-se em uma das pedras. Podia ver a água grossa caindo pela entrada pouco distante da gruta. Respirando fundo, sentiu o cansaço retomar o corpo. Precisava descansar um pouco. De todo jeito, não poderia ir a lugar algum naquele instante.

        Tentando se confortar contra as duras pedras, o jovem pensava sobre como as coisas estariam no palácio. A imagem de um Régulos com os olhos marejados, escondendo-se no afeto consolador de Narcisa, e de Lucius recluso apertavam o coração. Não tinha dúvidas de que Tom também estaria abalado, provavelmente buscando por pistas no quarto bagunçado com o coração pesado. Por um instante, um refluxo de culpa atingia-lhe o estômago.

          - Eu definitivamente não posso me remoer agora!- voltou a buscar, inutilmente, uma posição confortável.

         Fechando os olhos com afinco, esvaziou a mente e o pressentimento ruim que cultivava. Deixando ser tomado pela escuridão, Severus não fez nada além de se entregar para o mundo dos sonhos, rezando para que Merlim desse a capacidade de elaborar um plano melhor pelo amanhecer.

 
           - VASCULHEM A ÁREA!- alguém vociferou, acordando Severus assustado.- ELE NÃO DEVE TER IDO MUITO LONGE!

         O som dos pés marchando por perto congelava o jovem sonserino. Era óbvio que o rei mandaria os melhores aurores da região em busca do filho. Não deveria ser surpreendente para ninguém, mas já fazia um tempo que Severus estava alheio da realidade. Segurando a respiração, o jovem foi sorrateiramente em direção a saída da caverna. Em um horizonte não tão distante, um grupo de bruxos faziam feitiços de busca enquanto procuravam por entre as grossas árvores. Em busca de acalmar a ansiedade, Severus respirou o mais fundo que pode. Não podia perder a calma, precisava ser rápido e certeiro.

            Após relembrar todos o feitiços possíveis, sussurrou um encantamento de desilusão. Não ficaria invisível e sabia disso, mas tampouco seria detectado pelos feitiços, se misturando na mata como um camaleão. Só precisava de tempo o suficiente para sair dali e encontrar um lugar mais distante para se esconder. Em passos cautelosos, tentava não fazer barulho enquanto se distanciava do grupo que cada vez parecia mais próximo.

           Entretanto, parecendo adivinhar seus planos, um dos bruxos encarava o lugar onde Severus estava, parecendo identificá-lo. Com a respiração travada e desacreditando de tamanho azar, o jovem dava passos hesitantes a medida que o homem de cabelos cacheados se aproximava com a varinha empunhada, certo de que havia algo alí.

O HerdeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora